O antigo presidente da Autoridade da Concorrência Abel Mateus estima que “no setor elétrico os consumidores já suportaram um sobrecusto de cerca de 23 mil milhões de euros”, o equivalente a 2.300 euros por cada português, defendendo a necessidade de reduzir “este fardo”.
Abel Mateus foi ouvido, esta terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito às rendas excessivas de energia. No final da sua intervenção inicial, defendeu a necessidade de reduzir “o esforço de subsidiação dos portugueses”.
“No setor elétrico os consumidores já suportaram um sobrecusto de cerca de 23 mil milhões de euros”, estimou.
A este sobrecusto junta-se, segundo o antigo presidente da Autoridade da Concorrência, os 25 mil milhões de euros que os contribuintes “já foram chamados a contribuir” para o setor bancário.
“A redução deste fardo é o desafio que se põe a este parlamento”, apelou.
Abel Mateus diz que Manso Neto esteve “bastante envolvido” na criação dos CMEC
Abel Mateus afirma que o atual presidente da EDP Renováveis, João Manso Neto, “foi uma pessoa importante” e esteve “bastante envolvido” na elaboração técnica das fórmulas dos custos para a manutenção do equilíbrio contratual (CMEC).
Na audição da comissão parlamentar de inquérito às rendas excessivas da energia, Abel Mateus foi questionado pelo deputado PS André Pinotes sobre a importância que o assessor Ricardo Ferreira assumiu na criação do diploma, em 2014, relativo à criação dos CMEC.
“O parecer foi escrito por ele [Ricardo Ferreira], de resposta aos nossos comentários feitos ao ministro [Carlos Tavares]. Ele era uma pessoa importante assim como foi, por exemplo, o doutor Manso Neto, que estava também bastante envolvido na elaboração técnica das fórmulas e do documento”, afirmou.
Questionado, mais à frente na audição pelo deputado do BE Jorge Costa sobre quando e onde aconteceu essa reunião, o antigo presidente da Autoridade da Concorrência admitiu não se recordar.
“Não me lembro se foi antes se foi depois. Lembro-me que houve uma reunião sobretudo para discutir as fórmulas, mas não me lembro já quando foi”, respondeu.
Segundo a página da EDP, João Manso Neto, presidente executivo da EDP Renováveis desde 2006 e administrador do grupo EDP, está na elétrica desde 2003.
Numa apreciação enviada em 16 de abril de 2004 ao ministro Carlos Tavares que tinha a tutela da Energia no Governo de Durão Barroso, com a indicação ao seu assessor Ricardo Ferreira para avaliar o decreto-lei já apreciado em Conselho de Ministros – e que até então ainda não tinha sido publicado -, Abel Mateus alertou para oito riscos do projeto do diploma sobre a cessação dos contratos de aquisição de energia (CAE) e sua substituição pelos CMEC.
“Às vezes nesta comissão fazem-se afirmações que não se vê bem o seu alcance. Por exemplo, foi dito aqui que na altura os CMEC iriam prejudicar a EDP, estimativas que foram feitas na altura”, destacou o professor universitário, referindo-se à audição do economista João Duque.
Na opinião de Abel Mateus, “isto é exatamente contra aquilo que a EDP defende porque se, de facto, eles tinham a estimativa de pagamentos reduzidos e depois se veio a verificar que de facto tiveram elevados pagamentos com os CMEC, quer dizer que houve aqui uma mais-valia”.
“A quem é que a mais-valia beneficiou depois de 2006? Não foi o Estado. A EDP quando defende essas ideias está a dar um tiro no pé, do meu ponto de vista”, condenou.
Em relação à análise da Comissão Europeia sobre os CMEC e as ajudas de Estado, o antigo presidente da Concorrência considerou que esta “enferma da fundamentação sobre a análise de ajudas de Estado”.
“Acho que valeria a pena, e tenho muita pena que isso não tenha sido feito, passar pelo teste do controlo jurídico dos tribunais europeus, infelizmente se calhar já é muito tarde”, destacou.
Em junho, o antigo diretor da Comissão Europeia para a Energia Pedro Sampaio Nunes desafiou a comissão de inquérito às rendas da energia a enviar o processo para o Tribunal de Justiça da União Europeia, questionando “visões contraditórias” da Comissão Europeia.
“Esta comissão [de inquérito] tem poderes jurisdicionais, características semelhantes a um tribunal e, por isso, é totalmente capaz, a meu ver, de poder pedir o reenvio prejudicial ao Tribunal de Justiça que tem a missão de fiscalizar a ação das várias instituições e pronunciar-se sobre este facto de uma forma definitiva e sem recurso”, desafiou Sampaio Nunes na audição inaugural da comissão parlamentar de inquérito às rendas da energia.
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