//​As mariscadas vão ter de esperar e não vão ser como antes. “Vai ser difícil recomeçar”

​As mariscadas vão ter de esperar e não vão ser como antes. “Vai ser difícil recomeçar”

António Marques começou do zero. Em 2004, tinha uma peixaria na Aldeia do Meco. Com os irmãos, Sandra e André, começou a produzir mexilhão na Lagoa de Albufeira.

O entusiasmo na área do marisco cresceu e decidiu adquirir, também com os irmãos, um espaço para comprar e vender as iguarias que tantos apreciam. Hoje, a Mecomar, em Sesimbra, tem o dobro do espaço e emprega 18 pessoas, mas 16 estão neste momento em “lay-off”.

António não teve outra solução. “Na última semana em que estivemos abertos, há um mês, começámos a sentir a falta de encomendas e também uma insegurança dos nossos funcionários na rua. A partir daí, decidimos mesmo fechar”, cota.

Com os restaurantes e hotéis a fechar, que representam 90% dos clientes desta empresa, o marisco fresco ficou por vender. No enorme armazém, estão 52 tanques de depuração de marisco. António Marques teve de desativar a maioria, devido aos gastos com água e eletricidade. Ficaram apenas 10. “Só num dia carregar um carro de subprodutos com 3.300 quilos. Foram para o lixo. Ainda congelei cerca de uma tonelada de marisco para tentar minimizar as despesas. Devolvi perto de dois mil quilos a fornecedores”, diz este empresário, esclarecendo ainda que algum produto foi distribuído pelos funcionários.

A Mecomar faturou, no último ano, 3,5 milhões de euros. Nos últimos tempos, tinha em média 300 clientes, alguns deles restaurantes de conhecidos chefs do país. Neste momento, a empresa ainda consegue vender para mercados e peixarias, tem cerca de 10 clientes. António e o irmão André cuidam do pouco marisco que têm nos tanques de depuração. Se este não for vendido, terá também de ir para o lixo.

Agora, há que pensar em todas as formas de minimizar as perdas. “Começámos a abrir ao fim de semana a loja de venda ao público, para minimizar ou para suportar algumas despesas.”

O objetivo é não despedir

António Marques previa um ano de 2020 muito bom, perante a fase que Portugal vivia. “O turismo estava em cima. O nosso negócio é um pouco sazonável. Estávamos a preparar o verão, para aproveitar esta fase boa do turismo que temos e para o que estava para vir. Já vínhamos de um período menos bom que é o inverno e agora queríamos equilibrar as contas.”

“No que toca às vendas para a área de restauração e hotelaria, não estou a ver que consigamos voltar à situação que estava. É difícil.”

A Mecomar é uma empresa familiar e, por isso, António Marques não consegue, para já, pensar em medidas radicais. “Queremos evitar despedimentos. Somos uma empresa pequena, familiar, onde os nossos trabalhadores são amigos, são vizinhos, são conhecidos. Faremos tudo para não despedir.” Para António não há tempo a perder. “Se for levantado o estado de emergência a 2 de maio, estou a pensar tirar alguns trabalhadores do ‘lay off’.”

O empresário, que começou com pouco, concluiu a dizer que “vai ser mais difícil recomeçar do que quando arrancámos com este negócio. Eu penso que só daqui a dois ou três anos é que vamos voltar a ter uma fase tão boa como esta.”

Há produção, mas não há apanha

António Marques contacta diariamente com viveiristas e mariscadores. A situação não é fácil no mar. “A produção mantém-se, mas está a desvalorizar. Por exemplo, a ostra de Setúbal continua a crescer e há por isso um aumento da mortalidade. Quanto maior for a ostra menos saída no mercado tem porque desvaloriza”, conclui o empresário.

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