E foi esse estudo, feito durante seis meses que, no final, apresentou quatro cenários: dois numa perspetiva de recuperação mais lenta e dois numa perspetiva de recuperação mais rápida. O que está em cima da mesa é se temos uma estrutura aeroportuária daqui a quatro-cinco anos ou daqui a dez- doze anos.
O contador que pusemos é na melhor perspetiva ou a menos má, como se quiser chamar. Ou seja, se se decidisse hoje para acrescentar o Montijo, que é a situação mais rápida, o país já estava a perder quase 700 milhões de euros e mais de 20.000 postos de trabalho.
A decisão é política, para quê tantos estudos?
Neste momento, como sabe, há uma comissão de avaliação que está a estudar as várias hipóteses. Desde o início foram consideradas cinco alternativas, entretanto, já apareceram mais e estão a aparecer todos os dias. Cada vez que há uma nova, atrasa o processo.
E há outra questão que me preocupa. Nós, Confederação do Turismo, fazemos parte dessa Comissão de Acompanhamento e o que nos foi dito logo na primeira reunião é que a Comissão fará o estudo e a proposta, mas a decisão vai ser sempre política. Ora, se a decisão vai sempre ser política, porque é que vamos ter de passar por estes estudos todos? Não faz sentido. Acho que o turismo em particular, mas sobretudo o país, mereciam esta decisão.
O turismo tem sido o motor da economia– e não somos nós que o dizemos, é o INE, o Banco de Portugal, é o próprio Governo e a Oposição, a Comissão Europeia. Se atingimos o crescimento que atingimos o ano passado foi muito devido ao turismo e estar a coartar o seu crescimento por falta de decisão do aeroporto, é algo que, em nossa opinião, não faz qualquer sentido.
E na sua opinião, porque é que o Governo e António Costa não decidem?
É a pergunta do milhão de dólares. Era fundamental que houvesse uma decisão. O governo que está neste momento no poder tem maioria absoluta e, portanto, tem todas as condições para decidir.
Privatização da TAP: “Espero que se faça uma boa negociação”
E agora temos também a TAP envolta em grandes polémicas, mas com a certeza que vai ser reprivatizada. Deve ser a 100% ou o Estado deverá manter uma percentagem? E qual seria a razoável?
Eu tenho de começar por fazer uma declaração de interesses: eu sou um fã da TAP e por isso, provavelmente, a minha análise informará um pouco desta minha simpatia pela companhia aérea nacional. Nas minhas anteriores funções fui o maior cliente da TAP durante muitos anos e é difícil ver uma empresa que tenha sido tão maltratada por toda a gente.
Não é fácil gerir uma empresa que um dia é estatal, no dia a seguir é privatizada, a seguir a ser privatizada leva com uma pandemia e há quase um ano, com uma guerra. A seguir é anunciada a sua reprivatização e temos não sei quantas greves e um Plano de Reestruturação que demorou meses a ser aprovado em Bruxelas.
Em relação à privatização, é essencial que algumas questões fiquem previstas: Desde logo, o hub de Lisboa é fundamental, a questão das ilhas e do nosso mercado da diáspora.
É preciso estar dentro da negociação e perceber o que o comprador quererá ou não. Acho que é muito difícil uma companhia da dimensão da TAP sobreviver sozinha no futuro. Cada vez mais as global aliances estão a impor-se no mercado e na Europa temos três: O Grupo IAG, o KML/Air France e a Lufthansa. Portanto, acho difícil que uma companhia como a TAP, de um país pequeno periférico não tenha de estar inserida numa destas alianças globais.
O Estado deverá ficar ou não com uma cota, golden share? Depende. Se isso ajudar à privatização, seja ficar com a quota, seja privatizar a 100%, que seja. Acho é que, de uma vez por todas, teríamos de ter uma solução definitiva para a TAP porque a companhia, no passado, já deu provas que funciona.
A TAP é boa e já provámos que consegue dar a volta. Veja-se que segundo o que está anunciado, já em 2022, a TAP consegue dar resultados positivos. É com tudo o que a TAP tem passado, ainda consegue estar aqui e ser importantíssima para o turismo português. Portanto, o que eu desejo para a TAP é que se faça uma boa negociação porque a TAP é viável.
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