A taxa de desemprego deverá ter-se mantido em torno dos 6,7% no quarto trimestre de 2018 e nos 7% na média para o conjunto do ano, acima da previsão do Governo de 6,9%, segundo analistas contactados pela agência Lusa.
Para 2019, a taxa de desemprego deverá voltar a cair até aos 6,3%, de acordo com a média das estimativas e abaixo das previsões do Governo de 6,9%.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga na quarta-feira as Estatísticas do Emprego relativas ao quarto trimestre, incluindo a taxa anual apurada para 2018, depois de em 2017 o desemprego se ter situado nos 8,9%.
Em 2018, a taxa de desemprego apurada pelo INE para o primeiro trimestre situou-se nos 7,9%, baixando no segundo trimestre para os 6,7% e mantendo-se no mesmo valor no terceiro trimestre.
Em termos mensais, a estimativa provisória do INE para dezembro é de que a taxa de desemprego se tenha situado nos 6,7%, mantendo-se no mesmo valor observado em novembro.
De acordo com o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG), António Ascensão da Costa, estima-se que a taxa de desemprego tenha sido de 6,7% no quarto trimestre e de 7% na média de 2018, um recuo de 1,9 pontos percentuais em relação ao valor médio de 2017 (8,9%).
Simultaneamente, o emprego total terá crescido cerca de 2,4% em 2018, para um número médio de cerca de 4,8 milhões de trabalhadores (cerca de 4,35 milhões em 2013, o valor mais baixo na recente crise).
Em declarações à Lusa, o economista destaca que a descida da taxa média de desemprego em 2018 voltou a surpreender pela positiva, tendo em conta as previsões avançadas para esta variável.
“No final de 2017, as melhores previsões apontavam para que a taxa de desemprego em 2018 ainda ficasse acima de 8%. Esta surpresa positiva repetiu a do ano anterior. De facto, a redução relativamente rápida da taxa de desemprego constituiu um dos melhores desempenhos recentes da economia portuguesa”, afirmou.
Por outro lado, a redução da taxa de desemprego e o crescimento do emprego abrandaram na segunda metade de 2018, em particular desde setembro, pelo que a taxa de desemprego trimestral (INE) mantém-se constante desde o segundo trimestre.
“Relativamente a 2019, admite-se como mais provável que a taxa de desemprego continuará a reduzir-se mas num ritmo substancialmente mais reduzido”, refere António Ascensão Costa, acrescentando que a maior parte das previsões institucionais aponta para que a taxa de desemprego médio em 2019 se situe entre 6,2 a 6,7%, “o que parecem valores plausíveis face à incerteza atual”.
Para o economista, em 2019 não haverá surpresas positivas, “em parte devido ao rápido ajustamento anterior, mas sobretudo porque a incerteza prevalecente quanto ao crescimento da economia europeia e mundial e a desaceleração esperada na economia portuguesa contribuirão para refrear o crescimento do emprego”.
Para o economista-chefe do Montepio Geral, Rui Serra, a estimativa para a taxa de desemprego é de uma redução de 6,7% no terceiro trimestre para 6,6% no quarto trimestre.
“Estimamos uma nova diminuição da taxa de desemprego em 2018, para um valor médio de 7,0% (8,9% em 2017), tratando-se de um valor ligeiramente acima do previsto pelo Governo no OE 2019 (6,9%), apresentado em 15 de outubro, estando, por sua vez, em linha com os 7,0% previstos pelo Banco de Portugal (em 18 de dezembro) e pelo Fundo Monetário Internacional (em 09 de outubro)”, indica.
Para 2019, continua-se a antecipar novas subidas do emprego, ainda que a um ritmo inferior ao de 2018, prevendo-se uma taxa de desemprego de 6,2%, um valor, neste caso, abaixo do previsto pelo Governo no OE2019 (6,3%) e do FMI (6,7%), mas que está em linha com os 6,2% previstos pelo Banco de Portugal.
O ponto central da estimativa do Católica Lisbon Forecasting Lab para a taxa de desemprego no quarto trimestre de 2018 é de que esta recue para os 6,6% e a previsão para o conjunto do ano de 2019 é de uma taxa de desemprego de 6,3%.
“O mercado de emprego deverá evoluir em linha com as perspetivas de crescimento do PIB (neste momento centradas em 2,0%)”, refere.
“Nos últimos trimestres, o crescimento do emprego tem sido maior que o crescimento do produto, pelo que tem havido uma deterioração da produtividade. Noutros períodos de recuperação o normal tem sido que o produto cresça mais do que emprego com o resultante aumento de produtividade. A evolução da produtividade será um dos indicadores mais relevantes para compreender a evolução da economia e do mercado de trabalho este ano”, acrescenta.
De acordo com a economista Vânia Duarte, da Unidade de Estudos Económicos e Financeiros do banco BPI, a previsão inicial para a taxa de desemprego no quarto trimestre do ano passado era de 6,7%, mas, considerando os dados mensais, entretanto divulgados pelo INE, será possível que a taxa de desemprego surpreenda pela positiva e fique em 6,6%.
“Em qualquer um dos casos, é provável que a taxa de desemprego em 2018 se fixe em 7,0%. Esta melhoria (-1,9 pontos percentuais face ao ano anterior) é já mais gradual do que a queda da taxa de desemprego verificada em 2017 (-2,2 pontos percentuais).
Relativamente à população empregada, é possível que volte a desacelerar no quarto trimestre de 2018, mas para a totalidade do ano o ritmo de crescimento deve manter-se em níveis significativos, superiores a 2,0% em termos homólogos.
“Para 2019, a nossa expectativa é que as melhorias no mercado de trabalho sejam mais graduais (tal como já foi visível em 2018). Prevemos que a taxa de desemprego seja de 6,5% (um ajustamento de -0,55 pontos percentuais face a 2018), e o crescimento da população empregada poderá ser inferior ao projetado para 2018, em torno de 1% homólogo”, refere.
Segundo a economista, estarão dois fatores a contribuir para esta perspetiva: o abrandamento esperado para a atividade económica e o facto de o mercado de trabalho estar a entrar numa nova fase, de maior estabilização, depois das melhorias assinaláveis do passado.
“Haverá ainda espaço para melhoria no mercado de trabalho, considerando que as ofertas de emprego registadas no IEFP, ainda que tenham caído de forma substancial em 2018, continuam num dos níveis mais elevados da série histórica; ao mesmo tempo, há relatos de empregadores que não encontram pessoal qualificado para determinadas funções, evidenciando dificuldades estruturais. Por fim, importa ter em conta que a taxa de empregos vagos, publicada pelo Eurostat, está no nível mais elevado de sempre”, concluiu.
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