//“​Estamos todos convocados para responder ao desafio da JMJ”, diz presidente da Região de Turismo do Centro

“​Estamos todos convocados para responder ao desafio da JMJ”, diz presidente da Região de Turismo do Centro

Que seja um investimento a longo prazo?

Claramente, um investimento. Há dias alguém dizia – e é certo – a propósito desta polémica que se tem criado à volta do preço dos palcos -que se fosse tudo racional, provavelmente nunca se teriam construídos os Jerónimos nem outros dos ex-libris de Portugal, que são agora as âncoras mais importantes do património classificado pela UNESCO e que fazem de Portugal uma montra para o mundo inteiro.

Há pouco falou na qualidade do serviço e isso implica mão-de-obra, que temos falta. Há condições para que tudo corra bem nessa área?

Eu acho que estamos todos convocados para que isso aconteça porque o acréscimo previsível da Jornada Mundial pode causar uma de duas: ou uma boa experiência, com os esforços e a criatividade que os portugueses têm para resolver as coisas à última hora e fazem com que tudo corra bem; ou eventualmente, podemos ter aqui uma experiência particularmente dolorosa.

Estamos a falar de um tempo particularmente difícil, muito quente e sabemos o que isso pode significar para as pessoas mais idosas ou mais vulneráveis e o facto de haver espaços compatíveis com esse volume de pessoas. Não há, seguramente, gente suficiente que permita garantir essa qualidade de serviço agudizada pelas condições climatéricas, especialmente num período de pico de procura. Porque Portugal já é, por excelência, um destino particularmente procurado no pico do Verão e mais um milhão. Podemos dizer que Portugal recebeu 27 milhões de turistas em 2019 e agora é mais um milhão.

Mas é mais um milhão só numa semana…

Esse é que é o problema. Por isso, a convocatória é para Portugal porque o que acontecer nesta Jornada Mundial, com a visibilidade e a quantidade de comunicação social que vai estar presente, se não correr bem, os resultados não serão apenas nefastos para o destino Lisboa ou Porto; serão para o país. É a imagem de Portugal que está em causa.

Já aqui referiu a grande diversidade de oferta turística nos 100 concelhos da Região Centro. Mas tem apontado, de alguma forma criticamente, o facto de ainda se apostar muito no sol, praia e mar, deixando para trás alguns dos produtos turísticos tão presentes na sua região. É uma crítica à estratégia do Turismo de Portugal?

Não, foi uma constatação durante muitos anos. Portugal tem três problemas estruturais para resolver. Tem um problema de forte sazonalidade e se aposta em demasia na internacionalização do destino Portugal como sol e praia, está no fundo, a colocar-nos duas balizas: a baliza do mono produto e a baliza da sazonalidade. A época estival são três, quatro meses do ano, o que significa que ficam oito meses por cobrir, do ponto de vista da promoção.

Felizmente já não acontece. Além desse, temos um problema de estadia média e temos um problema da litoralização do turismo. Como é que combatemos isto? A sazonalidade, obviamente, que alargando aquilo que o mercado hoje procura. Os consumidores já não querem só sol e praia e não querem sol e praia durante 15 ou 30 dias, como acontecia há 20-30 anos. Hoje querem “cross selling” entre os vários produtos turísticos.

Claro que temos de continuar a promover o sol e praia, não podemos escamotear a importância destas estâncias e temos que continuar a promover estes destinos associados, no caso do Centro de Portugal, aos seus 279 quilómetros de costa atlântica. E também não queremos promover o Interior à custa de diminuirmos a procura no nosso Litoral.

O que temos que fazer é tornar o Interior – os territórios de baixa densidade – tão competitivo, tão atrativo como foi possível fazer durante anos em relação ao produto sol e praia. Porque o mercado hoje assim o exige, porque os consumidores – não falo dos “baby boomers”, não falo dos “millennials”, mas falo da “Geração X” – valorizam outros produtos turísticos. Ou dos novos mercados emergentes, os Estados Unidos, o Canadá, que querem trekking (caminhadas por trilhos e montanhas), pedestrianismo, cicloturismo, gastronomia, natureza, serra e à noite, uma boa cama.

Hoje a estratégia de Portugal está centrada em 22 produtos turísticos (consolidados, em crescimento e emergentes) em 25 mercados internacionais, é bom referi-lo. O sol e praia já não são, felizmente, do nosso ponto de vista, o foco principal. A Agenda para o Interior que o atual secretário de Estado do Turismo, Nuno Fazenda, traz para dentro da nossa atividade, também é sinal disso.

E a Estratégia para o Turismo Transfronteiriço. O que acrescenta para o Centro, que tem vários concelhos a confinar com a vizinha Espanha?

Interessa-nos particularmente por três ordens de razões. Primeiro, Espanha é o nosso principal mercado externo. É o mercado que está ali ao lado, tem contiguidade geográfica, tem contiguidade logística, tem afinidade cultural, tem afinidade linguística. É um mercado particularmente apetecível.

Segundo, porque nos permite mudar a tal estratégia de visibilidade para estes territórios. Se pensarmos, por exemplo, no novo traçado que já está anunciado pelo governo do IC 31, que liga Cáceres a Salvaterra do Extremo, Salvaterra do Extremo e Monfortinho, Monfortinho a Idanha e Idanha a Castelo Branco, temos o Centro de Portugal à mesma distância – por estrada – de Madrid e de Lisboa. A Idanha, por exemplo, ficará a 3h00 de Lisboa e a 3h30 de Madrid.

Isto abre-nos uma enormíssima porta de oportunidades para estes territórios e, sobretudo para podermos ter o mercado espanhol – que são 50 milhões de consumidores, sem contarmos com os estrangeiros que chegam a Espanha. Porque se pensarmos nos 10 milhões de portugueses com 27 milhões de turistas internacionais, somos 37 milhões. É este o mercado nacional. Se pensarmos nos 50 milhões de espanhóis com os 87 milhões de turistas estrangeiros que chegam a Espanha, fazem da Península Ibérica a maior placa turística do mundo. Portanto, são centenas de milhões que estão disponíveis porque estão ao nosso lado.

E terceiro, de uma vez por todas tiramos a tal perceção negativa do interior. Nós deixamos de ser Interior e passamos a estar no meio entre grandes capitais, neste caso entre Lisboa e Madrid. Este triângulo Porto-Lisboa -Madrid faz com que os territórios do Centro de Portugal estejam no coração desta operação. E é esta mudança de perceção que eu acredito que a cooperação transfronteiriça faz – com a Extremadura e com o Alentejo, com a Castilla y Leon e com o Porto e Norte Portugal -em produtos como a gastronomia, os vinhos, o turismo cultural, o turismo patrimonial, o turismo religioso, o turismo, natureza e o mar.

E com todo esse potencial, há alojamento para tanta gente?

Felizmente, há muitos projetos novos. Aveiro vai inaugurar em breve um hotel de cinco estrelas, o Grupo Vila Galé também vai abrir um hotel em Tomar este ano, depois de ter aberto outro, o ano passado, em Manteigas. O Grupo Trip/Melia está com vários projetos. O Hotel da Guarda finalmente teve luz verde e já há protocolo com o Grupo Pestana. Ou seja, há novos investimentos, nova atratividade e capacidade de carga que ainda não está utilizada.

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