A construção é um dos setores que está a mostrar mais dificuldade, apesar dos bons ventos. Mas também o sector financeiro enfrenta a maior reestruturação de sempre. Na educação os problemas têm dois nomes, falta de dinheiro e de alunos.
Com a economia mundial em abrandamento, a indústria também não tem tido a vida facilitada.
Na construção estão por recuperar 200 mil empregos
Este foi um dos sectores mais afetados e nem o “boom” do mercado imobiliário (que fez disparar o preço das casas) conseguiu que os trabalhadores e empresas revivessem antigos anos de glória.
Em 2008 o sector empregava mais de 525 mil pessoas. Passados 10 anos, estão a trabalhar cerca de 326 mil.
O mercado imobiliário está em alta, as empresas da área batem recordes de vendas, mas na construção chegam notícias de encerramentos, como a Soares da Costa e a Opway Engenharia.
Os problemas económicos em Angola obrigaram várias empresas a regressar a Portugal, sobretudo da construção.
O turismo dinamizou bastante o mercado nacional, mas tornou os preços inacessíveis para muitas famílias. A construção aguarda por melhores dias.
A banca, o comércio e os empregos que já não voltam
Há sectores que estão em mudança profunda, alguns há mais de uma década, como a banca, e as alterações nunca foram tão visíveis como hoje.
Cada vez mais o próprio cliente é chamado a participar no serviço, em substituição do profissional que acaba por ser dispensado. São empregos eliminados por máquinas, por equipamentos, pela Inteligência Artificial.
Todas as catividades com carácter repetitivo estão condenadas a desaparecer, segundo os especialistas em economia do trabalho. Algumas profissões já começaram este processo de eliminação mais cedo, mas esta será uma edição inevitável.
Na banca e seguros, entre 2008 e 2017 perderam-se quase 20 mil empregos. Mas estes números já aumentaram.
Os bancos continuam os processos de reestruturação e todos os anos têm sido anunciados em Portugal novos cortes, seja através da redução de balcões, seja pela diminuição de efetivos.
O comércio é outro sector em transformação. Há cada vez mais transações online, da roupa à alimentação, passando por jóias, telemóveis e até carros, já se compra um pouco de tudo à distância.
Em Portugal já se banalizaram as caixas de supermercado em que o próprio cliente passa os produtos pelos leitores de códigos de barras e faz o pagamento. No entanto, nos Estados Unidos a automação já deu mais um passo: através dos smartphones, os clientes entram nas lojas Amazon Go, pegam no que precisam e vão embora. Tudo acontece numa aplicação, com ajuda das câmaras nos corredores, que registam os produtos adquiridos, debitam na conta e enviam depois a fatura por e-mail.
Em Portugal, já existe uma loja automatizada com um sistema semelhante: é do Pingo Doce e foi inaugurada no início de outubro, no campus universitário da Nova School of Business and Economics, em Carcavelos.
Uma moda ou uma tendência? Desde que a automação no atendimento ao público arrancou, tem vindo a intensificar-se, com uma consequência clara: a diminuição dos postos de trabalho.
No comércio por grosso e retalho, entre 2008 e 2018 desapareceram 44 mil empregos.
A nova revolução industrial ou uma morte anunciada?
Em 10 anos, a indústria transformadora perdeu mais de 36 mil empregos. Continuamos a assistir, todos os meses, a anúncios de fábricas em insolvência, algumas por acumulação de dívidas, outras em resultado de uma estrutura ineficaz, pouco competitiva, ou um pouco de tudo.
Na indústria extrativa perderam-se, no mesmo período, mais de 3800 empregos. Em Portugal, a extração de cobre e água são o que gera mais negócio, seguido sobretudo de material para o setor da construção – onde já percebemos que há muitas transações, mas que aguarda por melhores condições.
Há economistas que defendem que as crises são uma oportunidade para varrer os maus negócios e criar as bases para novas estruturas. Há mais de uma década que há sectores que estão a apostar em novas tecnologias e outros mercados, como o calçado e o têxtil, mas este último parece estar a cair numa nova crise e já admite perder 28 mil trabalhadores até 2025.
Para o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, Portugal vai produzir mais, mas com menos pessoas, com melhores qualificações e com mais aposta na modernização das infraestruturas tecnológicas.
Metade da profecia do governante já se cumpriu: a indústria está a produzir com menos pessoas, pelo menos desde a crise.
Na educação falta dinheiro, alunos e… futuro
Em 2018 estavam matriculados em Portugal pouco mais de 2 milhões de alunos, segundo dados oficiais. Constas feitas, em 10 anos, o ensino pré-escolar, básico, secundário e superior perdeu quase 180 mil alunos.
A somar a isto, as escolas perderam também transferências do Orçamento do Estado, umas mais do que outras – como as que tinham contratos de associação.
Sucedem-se as greves e os protestos no ensino, seja dos professores, seja dos auxiliares de educação. Entre uns e outros, nos últimos 10 anos, perderam-se 6.350 empregos no país.
Onde estão as profissões com futuro?
A agricultura foi o refúgio de muitos nos últimos dez anos. O emprego neste sector, que inclui ainda atividades como a pesca ou produção animal, quase duplicou entre 2008 e 2018, de 110 mil para 204 mil trabalhadores.
Um regresso às origens para alguns; para outros uma aposta em novos negócios e tendências, como produtos biológicos e orgânicos.
Com o envelhecimento da população, outro sector em crescimento, uma tendência europeia, são os equipamentos sociais e atividades de saúde humana. Aqui cabem não apenas os lares e residências para a terceira idade, mas também todo o tipo de serviços de saúde e bem-estar, desde ginásios a clínicas, wokshops e terapias alternativas.
A esperança média de vida é maior. E com muitos trabalhadores a serem substituídos por máquinas, procuram agora ocupação com qualidade. Em 10 anos, surgiram mais de 50 mil novos empregos nesta área e este número deverá continuar a subir.
Também em crescimento em Portugal estão todas as atividades relacionadas com o turismo. O país está na moda. Desde o alojamento local aos restaurantes, passando pelo imobiliário e pelos transportes, são sectores em crescimento.
A energia também está a criar novos empregos, com a tendência das renováveis, alguns grandes projetos hídricos no país e a expansão de algumas empresas da área.
Para terminar, ficam algumas profissões e atividades que não estão discriminadas nos dados da Pordata e do INE, nem existiam há alguns anos.
Algumas são alvo de contestação, mas prometem continuar a dar que falar na próxima década: programadores informáticos, influenciadores digitais, “coaching”, consultor de imagem, gestor de negócios de inteligência artificial (implementa programas para acelerar vendas e negócios de IA), marketing digital, gestor de rede, engenheiro ambiental, gestor de resíduos, Walker/Talker (acompanha idosos através de uma plataforma online, para ouvir e conversar), designer de dispositivos “wearables” (como óculos ou relógios), analista de “quantum machine learning” (pesquisa e desenvolvimento de soluções de ponta para aumentar a velocidade e performance de algoritmos e sistemas).
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