//​Incêndios florestais. “Pequenos produtores são sempre esquecidos”

​Incêndios florestais. “Pequenos produtores são sempre esquecidos”

Os incêndios das últimas semanas queimaram dezenas de milhares de hectares e deixaram um conta enorme de prejuízos. Os pequenos produtores florestais sentem-se esquecidos e duvidam que a ajuda possa chegar.

À Renascença, Artur Ramalho, presidente da Associação Florestal do Concelho de Ansião, diz que embora ainda não estejam contabilizados, são muitas as perdas que se fazem sentir, desde terrenos, a anexos e até animais.

“É evidente que existem imensos estragos, nomeadamente de máquinas agrícolas, habitações, segundas habitações, barracões, culturas e também muita floresta destruída.”

Depois do recente incêndio em Ansião, no distrito de Leiria, o presidente da associação admite serem necessários apoios e, para isso, o Estado tem de ser mais sensível e intervir.

“Não sei se o Governo estará sensível para ajudar, nomeadamente, os produtores florestais e agricultores, no que diz respeito às plantações. Normalmente, o que eles costumam apoiar é na questão dos barracões que estiverem legais, nas máquinas agrícolas”, explica Artur Ramalho.

O responsável pede ao Governo que seja “mais sensível”, porque os incêndios afetaram “muitos dos produtores florestais que viviam praticamente da produção florestal, nomeadamente do eucalipto e do pinheiro”.

Incêndio de Ansião destruiu terrenos, anexos e casas devolutas

“Não somos ouvidos”

Também Carlos Silva, presidente da Associação de Produtores Florestais de Pombal, conta à Renascença que a destruição é imensa naquele concelho do distrito de Leiria.

“A nível florestal arderam dois mil hectares, houve destruição de várias habitações de segunda habitação, houve prejuízos muito elevados a nível de alfaias agrícolas, tratores, barracões de armazenamento de produtos para os animais. A nível de pessoas, felizmente, não houve qualquer dano.”

Já quanto a ajudas do Governo, Carlos Silva diz não ter muita esperança que estas cheguem ao concelho de Pombal, porque são pequenos demais para conseguirem ser ouvidos.

“Espero que as instituições públicas e o Estado português contribuam. Não sei se alguma vez isso virá, agora com o dinheiro que veio lá de Bruxelas pode ser que sobre alguma coisinha aqui para os pequenos agricultores do nosso concelho, o que não tem acontecido”, lamenta o presidente da Associação de Produtores Florestais de Pombal.

Carlos Silva constata que, regra geral, “quem vai ser beneficiado são sempre os grandes produtores, os pequeninos, o minifúndio que é o nosso caso, são sempre esquecidos, não atingem aqueles patamares necessários e pronto é sempre um problema”.

“Mas não há nada a fazer em relação a isso, já está enraizado de tal forma que enquanto as legislações não forem mudadas, tanto faz lutarmos ou não, que temos feito diariamente e não somos ouvidos em lado nenhum”, lamenta.

Já arderam quase 58 mil hectares este ano, mais do dobro que em 2021

“Somos cada vez menos em Murça”

O incêndio no concelho de Murça foi um dos que mais preocupação deu aos operacionais e às autoridades.. Ardeu praticamente tudo o que era floresta e mato, diz à Renascença Francisco Vilela, presidente da Cooperativa Agrícola de Murça.

“Os maiores estragos acabam por ser na parte florestal e no mato. Aquilo que não ardeu, pelo menos em grande parte do concelho, era o que estava cultivado. Claro que a maior parte dos agricultores ficou com um prejuízo vasto, especialmente souto e olival, porque a intensidade das chamas era grande e as primeiras linhas de cultura sofreram imenso.”

Cada vez são menos os agricultores e produtores florestais. Sem apoios que combatam estes grandes prejuízos, fica cada vez mais difícil prosseguir a atividade, alerta o presidente da Cooperativa Agrícola de Murça.

“A maior parte dos agricultores não têm seguros que consigam suportar as perdas de produção. Não acredito que por aí consigam mitigar os prejuízos, que são muitos, para além disso muitos deles acabam por ser pequenos produtores florestais e que ficaram com parcelas de pinhais completamente destruídas.”

Os produtores de Murça são “resilientes”, mas o grande incêndio da última semana foi um duro golpe. Talvez demasiado para alguns.

“Eu gostava de acreditar, até porque as pessoas que estão localizadas e residentes em Murça, e que são olivicultores ou agricultores, são mesmo resilientes, mas se não tiverem apoio quando acontece estas catástrofes, torna ainda mais difícil manterem-se por cá, cada vez somos menos”, constata Francisco Vilela.

Agravamento da seca extrema em Portugal continental no final do junho

Alentejo pede barragens

No Alentejo, o problema é a seca. Francisco Palma, presidente da Associação dos Agricultores do Baixo Alentejo, explica que “desde o litoral alentejano até ao interior alentejano há zonas completamente diferentes”.

O grande reservatório do Alqueva tem sido precioso, mas faltam outras barragens para armazenar a preciosa água noutros pontos da região, afirma Francisco Palma.

“Há zonas como o Alto Alentejo, a região de Mértola, Barrancos, onde realmente aí a água é escassa, não há barragens, ou não há aquelas que deveriam haver e aí haverá mais dificuldades no que diz respeito ao abastecimento de água para os produtores”, sublinha.

São precisas mais barragens, este é um problema que só se resolve com medidas estruturais e não pontuais, acrescenta o presidente da Associação dos Agricultores do Baixo Alentejo.

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