O Algarve de hoje é completamente diferente do Algarve dos anos 80. Ganhou muitas infraestruturas e qualidade de vida, mas na opinião da CEO da Rota Vicentina, Marta Cabral, também perdeu identidade. E se o turismo contribuiu para o desenvolvimento, também é responsável por essa perda de identidade.
Uma posição que não colhe unanimidade embora todos apontem a via da sustentabilidade e do ordenamento do território como inevitável para o futuro. Os hoteleiros lamentam a falta de mão de obra – faltam 50 a 60 mil ativos – de habitação e de mobilidade intermunicipal. Por outro lado, o Algarve está cada vez mais no radar dos investidores e a procura aumenta.
O turista não conhece o verdadeiro Algarve
Marta Cabral, CEO da Rota Vicentina não tem dúvidas em frisar que “o turismo é território e o turismo só pode ser sustentável quando a prioridade for o território e as pessoas que lá vivem. O Algarve tem um problema grave de identidade, o que era na década de oitenta, foi-se perdendo durante estes anos”.
“Aquilo que um turista conhece do Algarve não é o verdadeiro Algarve. Há toda uma narrativa que está desajustada da forma como os algarvios olham para o Algarve, sobretudo os que não estão nos meios urbanos. O Algarve é objetivamente uma região maioritariamente rural e estamos muito focados no modelo urbano, mesmo que incluamos a praia”.
A responsável da Rota Vicentina referiu que pode ser incómodo dizê-lo, mas é preciso reconhecer que a indústria do turismo, a nível global, não é sustentável. É preciso fazer mudanças que não acontecem de um dia para o outro e implicam uma responsabilidade pública e privada.
Marta Cabral sublinhou que é preciso olhar para todo o território com atenção, não apenas para a linha de costa. “e até aí, a pesca desapareceu totalmente, o que temos hoje e peixe no prato, o que é diferente. Há muito trabalho a fazer porque se perdeu muito.
Algarve atrai turistas, mas não pessoas para viver e trabalhar
O Algarve tem um grave problema de falta de população ativa, diz Mário Azevedo Ferreira, CEO do grupo NAU Hotels & Resorts. Nas contas do hoteleiro faltam cerca de 50 a 50 mil pessoas para viver e trabalhar no Algarve e não vêm para a região porque não há habitação e a preços que possam pagar. “E infelizmente não há um Plano de habitação para as acolher”.
A falha de mão de obra nota-se especialmente na área do turismo, mas segundo Mário Azevedo Ferreira também há dificuldade em contratar médicos, enfermeiros, professores e forças de segurança, devido à falta de habitação.
Refere este como um dos grandes constrangimentos mas também a falta de uma rede de transportes intermunicipais e uma lei laboral que “não é amiga do emprego, rígida, genérica, inspirada na indústria e não adequada a uma região afetada pela sazonalidade”. Por isso considera que “tem que vir gente de fora”.
João Fernandes, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve admite que há alguns problemas relacionados com as infraestruturas, há anos por resolver e que se devem à falta de financiamento.
Mesmo com o aumento de verbas no novo quadro comunitário, João Fernandes frisa que o Algarve ainda está longe das outras regiões porque o financiamento europeu é inferior ao de outras regiões com o PIB per capita mais baixo. Mas alerta que “o novo pacote financeiro é mais robusto, temos esmo que executar“.
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