//​O coronavírus também infeta os media. TV e internet são os mais poupados à crise

​O coronavírus também infeta os media. TV e internet são os mais poupados à crise

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Se nada será igual depois da pandemia de covid-19, é natural que os media também não saiam desta crise da mesma forma que entraram. A dimensão do confinamento e do isolamento impostos nos países democráticos e a forma como está a afetar toda a organização da vida em sociedade já está a ter e um grande impacto na comunicação social e as consequências vão fazer-se sentir por muito tempo.

O Observatório da Comunicação (OberCom) analisou o impacto do coronavírus e da crise pandémica no sistema mediático português e global e concluiu que, se nem todos os meios vão ser atingidos da mesma forma, todos vão ter que se repensar para se adaptarem à nova vida pós-pandemia.

O trabalho foi feito na última semana de março e conclui que esta crise veio expor a fragilidade do sistema mediático global, ainda mal recuperado dos efeitos devastadores da crise de 2008, agravados por fatores como a consolidação do oligopólio das grandes plataformas digitais, a dificuldade em assegurar um valor de troca justo para o jornalismo em ambientes digitais, numa era em que o jornalismo de qualidade tem um custo acrescido e em que a desinformação e a informação ilegítima são de disseminação fácil e barata.

Começando pela principal fonte de receita, o mercado publicitário, está a verificar-se uma travagem a fundo que deixa antever a redução de muitos mil milhões de dólares no investimento. Exceção feita à publicidade na televisão, gora com mais audiência. Em Portugal, já se assiste mesmo à produção de anúncios televisivos com conteúdos relacionados com o coronavírus. A crise pode ser menos grave se a pandemia for contida em breve, permitindo deslocar o orçamento dos anúncios para o final do ano. Se se prolongar, o impacto será dramático.

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Televisão e internet, os mais poupados

A televisão parece, neste momento, ser o meio menos afetado. Com as pessoas fechadas em casa, o consumo de televisão cresceu muito. Dados da GFK/CAEM indicam que, no domingo, dia 15 de março, em média, cerca de um terço dos portugueses (31,6%) viram televisão. Nos dias seguintes a audiência no cabo cresceu cerca de 30%, com os canais dedicados a informação, em particular, a crescer de forma exponencial.

No capítulo do entretenimento, a produção de novos programas está parada, mas o teletrabalho também já chegou ao pequeno écran.

No Estados Unidos, Trevor Noah, o apresentador do programa “The Daily Show”, passou a fazer o programa em casa e agora chama-lhe “The Daily Social Distancing Show”.

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Os canais televisivos têm ajustado a sua programação às necessidades das famílias que passam dias inteiros em casa. A audiência de programas infantis, por exemplo, disparou desde o início da crise

Ainda no campo dos potenciais beneficiários da crise pandémica, está a internet. Há um aumento de subscritores digitais de conteúdos noticiosos, concentrado sobretudo em marcas mais consolidadas. Se o mundo digital aproveitar esta oportunidade para se reconstruir de acordo com o interesse de todos e os grandes atores contribuírem de forma justa para a promoção da diversidade de conteúdos que sustenta as suas plataformas, os meios digitais poderão lucrar com a crise.

Imprensa escrita e rádio correm sérios riscos

O consumo online de notícias poderá compensar um pouco a hecatombe que se espera que caia sobre a imprensa escrita, onde se espera que as tiragens se reduzam numa escala sem precedentes.

Se a compra de jornais já vinha a cair, agora, com o confinamento das pessoas em casa, caiu ainda mais. Jornais como o “Público” e o “Expresso” tentam contornar esse impedimento com a entrega dos jornais em casa.

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A situação ainda é mais complicada para os jornais desportivos sem competições desportivas para noticiar e que já pediram ao governo apoio direto para poderem sobreviver.

Por fim, a rádio, escutada, sobretudo, no carro durante as viagens para o trabalho, poderá ser a grande vítima do coronavírus. Curiosamente, tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos, estudos preliminares de audiências parecem revelar o contrário, sobretudo no que toca à BBC.

Em Portugal, pela sua capacidade de chegar a uma fatia da população tendencialmente mais envelhecida e vulnerável, a rádio desempenha um papel de serviço público que continua a ser importante.

A publicidade institucional poderá desempenhar um papel relevante no futuro deste meio. A diversificação de conteúdos e a produção noutros formatos são outros eventuais caminhos, tanto a nível da informação como do entretenimento, aponta o Observatório da Comunicação (OberCom).

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