
O fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, considera que a edição deste ano do evento em Lisboa foi “a melhor de sempre”. O responsável destaca “a mistura de oradores”, o aumento significativo de investidores – “a força vital dos empreendedores” – e elogia “a qualidade do evento, a cidade e o ambiente”.
Questionado sobre, nos últimos anos, terem deixado de estar presente grandes nomes da atualidade, Cosgrave defende que a conferência adaptou-se ao mundo tecnológico. “Depende da perspetiva. Para algumas pessoas, ter o Tony Blair é incrível. Para pessoas da área tecnológica, ver o fundador da Lovable no palco é 100 vezes melhor que Tony Blair”, afirmou.
“O coração da Web Summit são as startups. As pessoas vêm aqui para descobrir o futuro.”
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Cosgrave sublinha ainda que a geografia da inovação está a mudar rapidamente. “Durante 500 anos, o Ocidente foi a superpotência do mundo. Agora, os BRICS e o Sul Global estão a crescer mais depressa do que qualquer outro”, diz. “A Alemanha está em declínio, mas a Polónia e o Leste europeu estão em expansão.”
Sobre Portugal, Cosgrave mostra-se confiante: “Há 10 anos, via jovens a abandonar o país. Agora encontro pessoas de São Francisco, Londres e Nova Iorque que se mudaram para Lisboa porque veem aqui um grande futuro.”
O principal rosto da Web Summit admite, contudo, que o sucesso trouxe desafios, nomeadamente no mercado imobiliário, e defende “novas intervenções políticas” para os enfrentar. Quanto ao futuro do evento em Lisboa, diz que tudo está em aberto.
Que balanço faz da edição deste ano?
Esta edição, para mim, foi, parece-me, a melhor edição. Ainda temos um pouco de caminho a percorrer… Portanto, nunca se sabe. Acho que a mistura de oradores é a melhor que alguma vez tivemos.
O número de investidores, por qualquer razão, aumentou imensamente. Eles são, de certa forma, a força vital dos empreendedores. A qualidade do evento, a cidade, o ambiente tudo me parece ser o melhor de sempre.
Em edições passadas, já tivemos aqui nomes como António Guterres ou Tony Blair. Não sente que, nos últimos anos, tem faltado esse tipo de personalidade?
Quando falo com fundadores de empresas tecnológicas… Juan Pablo Ortega – fundador daquela que talvez seja a startup unicórnio mais bem-sucedida da América do Sul, a Rappi – ele sente que, este ano, são os maiores nomes de sempre. E acho que depende da perspetiva.
Para algumas pessoas, ter o Tony Blair numa conferência é incrível. Para pessoas da área tecnológica… OK, é interessante, mas quando veem o fundador da Lovable no palco, isso é 100 vezes melhor que Tony Blair.
O coração do Web Summit são as startups. As pessoas vêm aqui para descobrir o futuro
Então, podemos entender que a Web Summit, com o passar dos anos, ajustou os nomes no evento ao mundo tecnológico. É isso?
Acho que sim. Para mim, é claro que a razão pela qual as pessoas vêm à Web Summit é para descobrir o futuro. Tivemos sempre alguns grandes nomes da atualidade no palco, mas acho que, por vezes, podemos ter enfatizado isso em demasia.
Para mim, o coração do Web Summit são as startups. As pessoas vêm aqui para descobrir o futuro. É interessante falar com alguém que foi primeiro-ministro de um país há 20 anos, mas, empreendedores e investidores podem ler a biografia dessa pessoa, se quiserem e aprender tudo sobre ela. Preferem conhecer uma startup de que nunca ouviram falar a fazer algo que nunca imaginaram possível.
Essa é a magia da Web Summit e nós, na Web Summit, nunca devemos esquecer isso.
Já considerou a edição de 2025 é a melhor de sempre. O que prevê para o próximo ano, então?
Acho que há mudanças no mundo a acontecer mais depressa do que nunca. Essas mudanças, para mim, não são por setor, são por geografia. Durante 500 anos, o Ocidente foi, pode-se dizer, a superpotência do mundo. Nos últimos anos, a participação de alguns povos – chamam-lhe os BRICS, o Sul Global, o mundo em desenvolvimento – tem crescido mais depressa do que qualquer outro.
O número de CEOs brasileiros que fazem parte da delegação governamental do Brasil é maior do que o número de CEOs portugueses numa conferência em Portugal, o que era inimaginável há alguns anos.
A participação da China aumentou drasticamente. É a primeira vez que o governo chinês está formalmente envolvido. Acho que isso diz algo.
Mesmo dentro da Europa, há mudanças que alguns têm dificuldade em compreender. A Alemanha está em declínio. O número de startups da Alemanha diminuiu pela primeira vez na história, mas a vizinha Polónia está em expansão, está quase a tornar-se um exemplo de uma nova Europa.
Essa Europa é uma Europa onde grande parte da atividade, da energia, vem da Europa de Leste, não da Europa Ocidental.
Portanto, sim, há muita mudança. E não acho que essa mudança vá parar no próximo ano. Acho que só vai acelerar e levanta grandes questões, não tanto para Portugal.
Portugal está na Europa Ocidental, mas é muito mais vibrante, com muito mais energia, está em expansão.
Agora, o núcleo, às vezes referido no Brasil como o núcleo imperial da Europa – Alemanha, França, Itália, Espanha e Reino Unido – estão bastante estagnados e têm grandes problemas. Precisam encontrar respostas para esses problemas. Portugal, acho, é um pouco diferente.
Encontro frequentemente pessoas de São Francisco, Los Angeles, Londres, Nova Iorque, que se mudaram para Lisboa ou para Portugal porque veem aqui um grande futuro
Sente-se confiante em relação a Portugal?
Sim, sinto-me muito confiante. Há 10 anos, saía de Lisboa e podia estar sentado ao lado de um jovem que estava a abandonar Portugal porque não via futuro, o que me preocupava porque nós tínhamos decidido fazer o nosso futuro em Portugal [risos]. Agora, quando estou em aviões a entrar e sair de Lisboa, encontro frequentemente pessoas de São Francisco, Los Angeles, Londres, Nova Iorque, que se mudaram para Lisboa ou para Portugal porque veem aqui um grande futuro.
Portanto, houve uma enorme mudança e nem toda será perfeita – com tantas pessoas a mudarem-se para Portugal, muitas vezes com tanto dinheiro, isso cria efeitos distorcidos no mercado imobiliário e noutros setores.
Precisamente. Para os portugueses, às vezes parece que essas boas condições de vida e de bons salários são apenas para os outros. Como vê isso?
Eu não sou político. Acho que o novo Governo em Portugal está plenamente consciente de que todo este sucesso criou novos desafios e que esses novos desafios exigem novas intervenções políticas. Se não introduzirem novas políticas para enfrentar esses novos desafios, provavelmente só vão piorar.
Voltemos à Web Summit. Há alguns anos, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa disse que esperava ver 100 mil participantes aqui. Esse objetivo ainda não foi atingido. Ainda poderá ser possível?
Não, não é possível no local atual. Sabemos isso há anos. Ouvi rumores de pessoas bem colocadas de que há discussões para um novo sítio.
Em 2022, deveria haver um novo local, com o dobro do tamanho. Isso não aconteceu e o Marcelo tinha razão. Com o novo local, poderíamos receber mais pessoas, mas talvez esse novo local acabe por chegar.
Este tipo de projetos nunca é simples. Nunca é fácil. Sempre, e em toda a Europa, demoram um pouco mais do que todos esperam.
Mas está zangado com os líderes portugueses que não cumpriram a promessa de ampliar o espaço?
Não, nem por sombras. Acho que tem sido, de certa forma, algo incrível para a Web Summit. Tivemos tanta procura por todo o mundo para vir a Lisboa e não conseguimos acomodar todos.
Então, fomos para mercados como o Brasil e criámos a maior conferência tecnológica da América Latina. Fizemos o mesmo no Médio Oriente.
Talvez se houvesse um espaço com o dobro do tamanho do que temos, teríamos simplesmente ficado em Lisboa. Portanto, de certa forma, acabou por correr melhor para a Web Summit do que esperávamos. E acho que, ao mesmo tempo, Lisboa continua transformada.
Vão ficar em Lisboa depois de 2028?
Ainda falta muito. Estamos em 2025 e, pensar em 2029, é, efetivamente, meia década num setor em que piscas os olhos, fechas e voltas a abrir, e está tudo completamente diferente. Portanto, acho que começaremos a pensar nisso nos próximos anos, mas ainda não. Por agora, estamos em Lisboa.











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