O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, diz que não sentiu o “irritante” (o caso Manuel Vicente) interferir nas relações entre Portugal e Angola no setor que tutela, mas está muito satisfeito por ver a relação entre os dois países a estender-se a todos os níveis.
Em entrevista à Renascença, Capoulas Santos explica como a Agricultura se tornou numa prioridade na cooperação entre Portugal e Angola, anuncia que será criada uma câmara agrícola e que Portugal vai gerir um fundo europeu de 60 milhões (o Fresan) que pretende reforçar a agricultura familiar e reduzir a fome em três provinciais do Sul muito afetadas seca.
Como é que a agricultura se tornou uma prioridade na cooperação entre Portugal e Angola?
A agricultura é um setor muito importante para os dois países, para Angola concretamente porque, devido à história recente do país, Angola tem potencialidades praticamente infinitas, mas é um país que produz muito pouco das suas necessidades alimentares. Luanda manifestou-nos já há dois anos a necessidade de uma cooperação mais intensa, uma vez que Portugal dispões de muito conhecimento, de muita tecnologia, de muita informação sobre a realidade agrícola africana, que vem dos tempos coloniais.
Nesse sentido, iniciamos um processo de troca de informações, de identificação de prioridades. O ministro angolano já foi por duas vezes a Portugal. Por outro lado, Portugal teve um papel ativo também no processo de negociação de um financiamento da União Europeia – o Fresan – um projecto europeu que acaba de ser aprovado e irá atribuir a angola cerca de 60 milhões de euros, dos quais Portugal é administrador designado pela União Europeia. Portanto, houve um conjunto de circunstâncias muito favoráveis a que pudéssemos aprofundar esta relação. Agora vamos passar à fase de execução com a assinatura esta terça-feira de um protocolo em que está já configurado um plano de ação para procurar dar resposta aos principais problemas que neste momento se colocam a Angola.
E que são?
São na sanidade e na fitossanidade. Angola tem um grande potencial, tem bons solos, tem água com abundância, mas está sujeita cada vez mais às alterações climáticas, há pragas, doenças, quer nas plantas, quer nos animais que carecem de investigação e resposta, equipamento de laboratório. Essa será uma área muito importante de cooperação, assim como a capacitação técnica em diversos domínios, desde a irrigação até ao desenvolvimento de determinadas culturas. Para além de um aspeto muito importante que é o combate à fome e à subnutrição nalgumas regiões do país porque o projecto da União Europeia a que fiz referência incidirá sobretudo em três provinciais do Sul: Huíla, Cunene e Namibe.
Falava do conhecimento acumulado que Portugal tem dos tempos coloniais. Penso que é um conhecimento que está depositado na Estação agronómica, em Oeiras. Quando fala em concretizar esta colaboração, está a falar exatamente em quê: devolver esse conhecimento, formação de angolanos, vinda de portugueses trabalhar em Angola, é financiamento?
A cooperação tem dois pilares fundamentais. Um institucional, Governo a Governo, e essa incidirá muito nas questões técnicas e de capacitação, de formação, de ajuda na instalação de laboratórios de referência. Há também uma cooperação empresarial que não ser obviamente ditada pelos governos, mas um dos aspetos que consta do protocolo é a criação de uma Câmara Agricola Luso-angolana para que possamos estimular o intercambio e o investimento nos dois sentidos. Há excelentes empresários neste momento, com tecnologia de ponta. É fundamental que o Governo angolano crie condições, designadamente, no campo das infraestruturas para que o atrativo seja maior. E, ao mesmo tempo, Portugal quer seduzir empresários angolanos que vão investir em Portugal como acontece já em alguns casos no sector agrícola. A facilitação da relação entre empresários dos dois países é um objetivo que os governos vão estimular, mas que ficará a cargo dos empresários
Ao nível mais geral desta visita, está confiante neste tempo novo de Angola?
No caso da agricultura, praticamente não senti o ‘irritante’, a cooperação que encetamos há dois anos processou-se com toda a normalidade, mas fico muito satisfeito de verificar agora que este desanuviamento se alarga a todas as componentes do Estado e isso é muito bom para os dois países porque existe aqui, em Angola, uma comunidade muito ativa de portugueses, muitos deles encontraram aqui solução para as suas vidas, na sequência do período de crise que acabamos de viver. Existe também uma comunidade muito grande de angolanos em Portugal, existe uma relação histórica que nenhuma vicissitude política pode alguma vez pôr em causa.
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