//A banca portuguesa está cada vez mais espanhola

A banca portuguesa está cada vez mais espanhola

O “assalto” espanhol à banca portuguesa voltou a ganhar fôlego nesta semana. Os ventos estão favoráveis a uma maior consolidação no setor e empurram bancos portugueses para casamentos com bancos do país vizinho.

Depois de na segunda-feira 10 de fevereiro o Abanca ter fechado o acordo para a compra de 95% do EuroBic, foi a vez, logo no dia seguinte, de o Bankinter se assumir como potencial candidato à compra do Novo Banco. Foi na terça-feira, na apresentação das contas do banco em Portugal, que o diretor-geral do Bankinter no país reconheceu o interesse no banco “que tem uma quota (de mercado no segmento) das empresas bastante interessante”, nas palavras de Alberto Ramos.

Entre os espanhóis, o Santander retirou-se, aparentemente, da corrida nesta nova vaga de concentração da banca em Portugal. Depois de nos últimos anos aglutinar o Banif e o Banco Popular, o banco liderado por Pedro Castro e Almeida apontou que apenas está interessado no crescimento orgânico do banco. Mas, apesar de clarificar que não quer comprar o Banco Montepio, um dos que têm sido alvo de expectativas de vir a ser vendido, Castro e Almeida deixou um recado: os bancos mais pequenos irão mesmo ter de consolidar. O CEO do Santander explicou que não há espaço no mercado português para tantos bancos e lembrou que “é interessante a parte da consolidação, porque a rentabilidade média do capital está na casa dos 7%, o que é muito abaixo”, já que é “quase metade da rentabilidade da banca americana” e “o custo do capital está na casa dos 10%”. Nesta situação, “as empresas ou fecham ou têm de ganhar escala”, pelo que parece “inevitável” que haja consolidação na banca, disse Castro e Almeida.

Banca nova

No caso do EuroBic, este banco está na reta final para se tornar a mais recente baixa na lista de bancos – e marcas – que desaparecem para reforço de rivais espanhóis; ainda não há datas fixadas nem valores divulgados no negócio que foi anunciado. Fontes contactadas pelo Dinheiro Vivo apontaram que “só quando for concluída a due diligence [análise da saúde financeira do banco] é que pode avançar a operação” e “haver um valor final e uma data para a sua conclusão”.

A compra, a concretizar-se, vai reforçar a presença do Abanca no mercado português. O banco galego – que por sua vez é detido pelo banco venezuelano Banesco – entrou no país através da aquisição, em março de 2018, da atividade de banca de retalho e banca privada do Deutsche Bank. O Abanca herdou então 41 balcões e mil milhões de euros em depósitos. Detém atualmente 91 agências bancárias no país. Agora, pode ganhar uma rede com cerca de 170 balcões em todo o país e um banco que tem um volume de negócios (crédito a clientes e recursos de clientes) a rondar os 11 mil milhões de euros.
Quanto ao Novo Banco, o cenário apontado como mais provável no mercado é de que venha a consolidar com o Millennium bcp. Mas a Lone Star – detentora de 75% do banco – já garantiu que não está vendedora antes de 2021. Tem sido noticiado que está a ser estudada pelo governo uma injeção final de capital no Novo Banco, o que poderia acelerar a venda do banco.

Segundo o CEO do Bankinter, a confirmação do seu interesse na compra do banco vai depender da situação financeira e de balanço em que o Novo Banco se encontrar quando o momento de uma venda chegar. “Veremos o que é que será [o Novo banco quando for posto à venda] e avaliaremos”, disse Alberto Ramos. Adiantou que “é natural” que o Novo Banco venha estar à venda neste ano ou em 2021. “Estaremos atentos a essa oportunidade”, garantiu, reconhecendo que “nos últimos tempos” o banco analisou “várias opções”.

O Bankinter começou a operar em Portugal a 1 de abril de 2016 na sequência da aquisição da rede de banca comercial do Barclays. A concretizar-se a compra do Novo Banco, seria a maior aquisição no setor depois de o La Caixa ter ficado com a totalidade do Banco BPI. A banca espanhola passaria assim a controlar quase metade do setor em Portugal. Atualmente, um terço da banca está nas mãos de grupos espanhóis. Sobram o Millennium bcp, que tem como maiores acionistas a chinesa Fosun e a angolana Sonangol, a estatal Caixa Geral de Depósitos, o Montepio, da Associação Mutualista Montepio Geral, e o Grupo Crédito Agrícola, de cariz cooperativo.

Pressão para consolidar
Apesar de o pior já ter passado na banca portuguesa, como se tem confirmado pelos lucros que os bancos vão apresentando – à exceção do Novo Banco – permanecem riscos e desafios. Segundo a agência Fitch, os bancos portugueses terão de emitir até nove mil milhões de euros de dívida nos próximos anos para ter a almofada necessária para cumprir os requisitos mínimos de fundos próprios e ativos elegíveis (MREL, em inglês). A maior concorrência e a chegada de novos rivais digitais pressionam as receitas e a margem do setor, e a revolução digital por que passa o setor exige investimentos e contratação de novos – e caros – recursos.

“Fusões e aquisições estão de volta à agenda como possível solução para as preocupações sobre a rentabilidade dos bancos europeus”, apontou Richard Barnes, diretor da S&P numa análise, no final de 2019. Lembrou que vários responsáveis políticos na Europa defenderam a consolidação como forma de criar campeões regionais e acelerar a união bancária da zona euro. E antecipa que, no futuro, a “lógica” dita que vai haver uma consolidação maior entre os grandes bancos na região.

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