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O Abanca não está a sentir aumentos na taxa de incumprimento do crédito à habitação por parte das famílias. A garantia foi dada pelo responsável de produtos de investimento do Abanca Portugal, em entrevista ao Dinheiro Vivo antes de o Banco Central Europeu (BCE) ter anunciado a subida das taxas de juro em 50 pontos base, o primeiro aumento em 11 anos. Hugo Freitas já antecipava o inicio da subida das taxas, mas mostrava-se confiante de que “o BCE terá capacidade para evitar que o prémio de risco dos países periféricos” seja muito afetado”. No que toca às taxas Euribor, estima que “mantenham esta tendência de subida ao longo deste ano, terminando, em 2023, em patamares a rondar os 2,2%”.
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Nos vossos modelos, que cenário têm para a evolução da Euribor a 3, 6 e 12 meses no final deste ano e em 2023?
Na Europa, descontamos atualmente que a Euribor a 3, 6 e 12 meses termine 2023 em níveis próximos dos 2%, 2,1% e 2,2%, respetivamente. A Euribor a 12 meses constitui o indicador mais usado no cálculo de créditos hipotecários e estima-se que mantenha esta tendência de subida ao longo deste ano de 2022, terminando, como referi, em 2023, em patamares a rondar os 2,2%.
A partir de que valor pode ser preocupante para o aumento do incumprimento?
As taxas de incumprimento encontram-se em níveis baixos na Europa e, ainda que se anteveja um aumento desse indicador em 2022, não se estima níveis superiores a 10% no segmento “high yield”. Outro ponto positivo é o facto de o nível de alavancagem ser atualmente muito menor que o verificado antes de 2008, pelo que a capacidade de pagamento das empresas não se deverá ver especialmente comprometida, nesse sentido, também esperamos que as ações do Banco Central Europeu (BCE) irão no sentido de evitar aumentos excessivos nas taxas de incumprimento.
O Abanca já está a sentir algum impacto a nível de incumprimento?
Neste momento podemos afirmar que no Abanca Portugal não sentimos aumentos na taxa de incumprimento.
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Sentem uma maior procura por ofertas com taxa fixa?
A oferta de taxa fixa começou no início do ano a ser recomendada de forma mais acentuada pelos intermediários de crédito. Adicionalmente, notamos também uma maior procura por parte dos clientes em virtude de algum receio sobre uma subida mais sustentada da Euribor.
Até quando e quanto pode durar a subida das taxas Euribor?
A velocidade e intensidade das subidas estarão claramente indexadas à inflação. Apesar de uma coesão evidenciada numa fase inicial, neste momento voltamos a ver uma Europa a várias velocidades, com a periferia a ver fortes aumentos na inflação e um centro que apresenta níveis mais moderados, não obstante os constrangimentos provocados pelos custos energéticos. O mercado atualmente já desconta a expectativa de relevantes subidas da taxa diretora. Os dados dos meses de verão serão chave e determinarão se será necessário incorporar no preço dos ativos uma subida mais acentuada, ou não.
Estão preocupados com o aumento dos juros da dívida pública portuguesa e do sul da Europa?
A problemática centro-periferia volta a estar na ordem do dia. Com efeito, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, indicou a possibilidade da coexistência de subidas de taxa de juro [anúncio concretizado após a realização da entrevista] com um programa de estímulos orientado para controlar os juros implícitos no mercado para a dívida periférica europeia. Um dos países mais expostos é atualmente a Itália (com uma dívida que representa já 150% do PIB), seguida de Portugal e Espanha (127% e 119%, respetivamente) que têm uma margem menos apertada para gerir a situação. O BCE já soube retirar as ilações necessárias da crise das dividas soberanas ocorrida em 2011 e pensamos que agora se focará ao máximo em evitar um cenário que coloque em perigo os países periféricos europeus.
Com o fim das compras líquidas de ativos e a subida das taxas de juro existe o risco de uma nova crise de dívida na zona euro? O que o BCE pode fazer para prevenir esse risco? Tem instrumentos para o conseguir?
A robustez do sistema do euro depende das economias que o compõem e essas mesmas economias têm demonstrado uma muito boa capacidade para defender margens e produção, inclusivamente no cenário de disrupção atual. Não obstante, o BCE possui ferramentas para controlar um possível aumento do custo das dívidas, conforme já o fez recentemente ao anunciar o esboço de um novo veículo para combater a fragmentação financeira na zona euro. Deste modo, mesmo num cenário de subida de taxas de juro [concretizado esta quinta-feira], o BCE terá capacidade para evitar que o prémio de risco dos países periféricos se veja especialmente afetado.
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