A comissão de acompanhamento do Novo Banco revelou alguns dos créditos mais tóxicos que pesam nas contas da instituição e que levaram a injeções de capital, mas sem revelar o nome dos devedores. “O pior prejuízo é de um determinado grupo que nos anos 2005 e 2006 pediu um volumoso crédito para comprar ações do BCP numa operação descomunal no âmbito daquela guerra no BCP”, disse José Bracinha Vieira, um dos dois atuais membros da comissão de acompanhamento.
A garantia do negócio foram ações do próprio BCP que, apesar da recuperação mais recente, acumulam perdas de mais de 90% desde aquela altura, detalhou Bracinha Vieira. Além desta operação, o responsável detalhou outro tipo de financiamentos que causam mossa nas contas dos bancos e que têm forçado injeções de capital por parte do Fundo de Resolução.
O presidente da comissão de acompanhamento tinha revelado que os maiores devedores em incumprimento do Novo Banco coincidem com os da Caixa Geral de Depósitos. No caso do banco público entidades de Joe Berardo e de Manuel Fino causaram perdas com créditos concedidos para a compra de ações do BCP.
Os apoiantes de Ricardo Salgado, os lesados e as herdades
Mas há outro tipo de casos a causar buracos. “Houve muitos créditos para comprar grandes terrenos e grandes herdades que não tinham ainda parâmetros de construção definidos e em muitos casos isso frustrou-se”, disse Bracinha Vieira.
O membro da comissão de acompanhamento do Novo Banco revelou ainda aos deputados que houve o que considera “defaults estratégicos”. Disse que “há entidades que por estarem ligadas ao Dr. Ricardo Salgado ou porque tinham títulos do grupo não financeiro e perderam dinheiro ficaram indignadas”.
A forma de protesto, segundo Bracinha Vieira, passou pela decisão de “fazer tudo para não pagar créditos ao Novo Banco”.
O Benim e o Congo, os detetives internacionais e os testas de ferro
No tipo de operações a causar perdas estiveram ainda as garantias concedidas pelo banco a construtoras que foram acionadas por governos internacionais. As empreitadas de construtoras em países como o Benim e o Congo, entre outros, correram mal e os governos desses países executaram os avais que tinham sido concedidos pelo banco.
A comissão de acompanhamento sinalizou ainda casos em que os devedores em incumprimento têm património para pagar esses empréstimos. “Houve um caso terrível em que perguntámos ao Novo Banco se não era possível contratar uma firma de detetives internacionais e tentar mesmo junto de offshores que investigassem essa pessoa que vive lindamente”, disse Bracinha Vieira. O Novo Banco tinha já contratado uma empresa desse tipo.
Já Rodrigues Jesus disse que há pessoas com Mercedes e que não pagam os créditos. E sublinho que o banco está a tentar apurar o património desses devedores no Brasil e na América do Norte.
A comissão de acompanhamento do Novo Banco tem como função emitir pareceres sobre questões relacionadas com ativos que estão abrangidos por um mecanismo que permite injeções de capital por parte do Fundo de Resolução. Um dos pontos analisados é a venda de ativos, como carteiras de crédito.
Bracinha Vieira disse que uma das questões que geram mais preocupação é se o comprador das dívidas é “um testa de ferro do próprio devedor”. E revelou que “já houve processos parados nessa base”.
Novo Banco vai pedir dinheiro até 2020
O Novo Banco foi vendido à Lone Star em 2017. O fundo americano meteu mil milhões no banco. Em troca, o Fundo de Resolução comprometeu-se a tapar perdas com um conjunto de ativos que veio ainda do antigo BES num máximo de 3,89 mil milhões até 2025.
Em apenas dois anos o banco vai pedir quase metade daquele valor. E Bracinha Vieira sinalizou que haverá mais injeções até 2020 num máximo que estima ser de três mil milhões de euros. Só já há 640 milhões que podem ser pedidos a que serão acrescidos ainda os prejuízos que serão gerados este ano.
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