//Adiar a subida de juros e pagar à banca para emprestar. O que irá decidir o BCE?

Adiar a subida de juros e pagar à banca para emprestar. O que irá decidir o BCE?

Juros mínimos por mais tempo e as condições sobre os novos empréstimos para a banca. São os temas que deverão marcar a reunião desta quinta-feira do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE). Mario Draghi e os responsáveis de política monetária da zona euro estão num impasse. A economia e a inflação da zona euro não estão a evoluir de forma a sustentar a retirada dos estímulos e o início da subida de juros.

Na última reunião, no passado dia 10 de abril, o banco central deu a orientação de que “as taxas de juro diretoras do BCE se mantenham nos níveis atuais, pelo menos, até ao final de 2019 e, em qualquer caso, enquanto for necessário para assegurar a continuação da convergência sustentada da inflação no sentido de níveis abaixo, mas próximo, de 2% no médio prazo”.

Mas o banco central deverá ser forçado a adiar esse prazo.

Juros de 0% por mais tempo

Nesta reunião, o BCE divulgará novas estimativas económicas. Revisões em baixa do crescimento ou da inflação poderão levar o banco central a sinalizar juros mais baixos. E há bancos de investimento, como o Morgan Stanley, o Jefferies ou o Goldman Sachs que admitem a hipótese de um anúncio oficial do BCE a afirmar que as taxas do BCE só começarão a subir em 2020. Atualmente estão em mínimos. A taxa de referência é de 0% e a taxa de depósito de -0,40%.

Mas mesmo que Draghi não deixe preto no branco que as taxas de referência vão demorar ainda mais tempo a subir, no mercado isso é já um dado adquirido. “Não esperamos uma subida dos juros até 2021”, afirma Frank Dixmier, numa nota. O responsável de análise do mercado de obrigações da Allianz Global Investors explica que “o BCE continua impossibilitado de normalizar a sua política monetária após uma deterioração das perspetivas macroeconómicas”.

O BCE continua impossibilitado de normalizar a sua política monetária após uma deterioração das perspetivas económicas. Não esperamos uma subida de juros até 2021.”

As expectativas para a inflação na zona euro estão bem abaixo da meta do BCE. A missão do banco central é fazer com que a evolução dos preços esteja perto mas abaixo de 2%. Mas em maio, a taxa de inflação desceu para 1,2%. No mês anterior tinha sido de 1,7%. Pior, os últimos dados aparentam desafiar a ideia defendida por Draghi de que com o tempo a inflação suba para perto de 2%, os últimos dados aparentam desafiar essa expectativa.

“A maior parte das métricas de mercado [para as expectativas de inflação] continuam a descer e estão agora em níveis baixos”, salientam os economistas do Morgan Stanley, num relatório a que o Dinheiro Vivo teve acesso. Consideram que “isso irá, provavelmente, aumentar a consciência do Conselho de Governadores de que, a dada altura, serão necessários estímulos extra”.

Frank Dixmier salienta que nos últimos meses houve “uma queda histórica nas expetativas para a inflação”. E acrescenta que “o balanço dos riscos continua a pender para o lado negativo, e esses riscos – em particular, as incertezas persistentes relacionadas com o Brexit, Itália e, acima de tudo, as tensões no comércio global – são difíceis de quantificar”.

Pagar para a banca emprestar dinheiro

Para já, a arma que o BCE conta utilizar para espicaçar a inflação são as operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO na sigla em inglês). Esta medida não convencional já foi utilizada no passado pelo banco central, em várias rondas de financiamento relativas a dois programas.

Nos programas passados, foram concedidos empréstimos ilimitados aos bancos da zona euro com juros negativos. Na prática, o BCE pagava ao setor bancário. Em troca, as instituições financeiras tinham de transmitir esse dinheiro à economia real, emprestando-o às empresas e famílias. Quanto mais crédito concedessem, maiores os ganhos.

Os mercados antecipam que o BCE irá oferecer condições [nos TLTRO] muito semelhantes às de 2016″.

As condições do novo TLTRO serão detalhadas esta quinta-feira. E o BCE deverá continuar a pagar aos bancos para que estes emprestem à economia real. “Os mercados antecipam que o BCE irá oferecer condições muito semelhantes às de 2016”, indicam os economistas da Jefferies num relatório a que o Dinheiro Vivo teve acesso.

A confirmar-se essa expectativa, isso significa que se o banco central deixar os juros inalterados nos próximos dois anos, os bancos poderão aceder ao TLTRO com juros negativos de até -0,40%, dependendo do volume de crédito que concedam.

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