O empresário Alexandre Relvas diz que depois das adaptações a que foram obrigadas nas últimas semanas, nenhuma empresa vai sobreviver a esta crise sem se restruturar, o que passa por decisões difíceis.
Empresário há 35 anos, Relvas diz que “estes são, sem dúvida, os momentos mais difíceis, são momentos de enorme incerteza e complexidade”.
O Estado deu “luz verde” à reabertura da economia, mas continuamos a sombra da pandemia paira, ainda, sem garantias que não regresse a obrigatoriedade de confinamento. Por isso Alexandre Relvas diz ser “um optimista moderado, com algum pessimismo”.
À frente de uma empresa fortemente exportadora, este empresário antecipa já uma retoma lenta, com a descida das vendas e o aumento do desemprego. A retração e o receio dos consumidores deverá manter-se, com impacto no trabalho e no comércio, interno e externo.
“Nenhum de nós vai manter a mesma estrutura organizativa. Até devo dizer que as restruturações vão implicar decisões corajosas, em termos de pessoal. Muitos vão ter um novo olhar para aquilo que é essencial e para o que é acessório. Ao longo destes meses, mantivemos o essencial e vemos que as empresas conseguem trabalhar com eficiência”, aponta.
Apesar desta acertividade, o empresário diz que reorganizar não implica dispensar trabalhadores. “Não estou a dizer que isto vai levar ao aumento dos despedimentos. O que eu penso é que temos, em muitas das empresas, capacidade para fazer mais, com as mesmas estruturas, como este tempo mostra agora”, acrescenta.
Relvas dá como exemplo o teletrabalho, que permitiu às empresas descentralizarem operações e aumentarem a eficiência. Algumas empresas foram obrigadas a recorrer ao lay off, “são decisões difíceis, mas é o custo da sobrevivência”, defende.
O desafio agora é chegar ao pós-covid. Alexandre Relvas diz que quem está à frente de um negócio olha agora para o futuro com uma perspectiva diferente: “A única coisa que hoje me interessa é como é que garanto os próximos 15 dias, 3 semanas, o próximo mês, como a generalidade dos empresários, estou fundamentalmente centrado no curto prazo.”
Entre as preocupações dos gestores, destaca-se o dinheiro em caixa, só depois vem tudo o resto. “A tesouraria, é o ponto número 1, número, 2, número 3. É garantir liquidez, que se consegue continuar a vender e garantir que é escoado. É receber, muitos estamos com problemas em receber. É negociar condições de financiamento, as moratórias aqui são decisivas”, diz Relvas. Como líder de uma empresa que exporta 80% da produção de vinhos, este empresário destaca ainda os seguros de crédito, “um aspecto importante para aqueles que continuamos a exportar, neste momento tive, da parte da Cosec, uma redução brutal da cobertura de riscos de crédito”.
Por outro lado, é preciso ganhar a confiança dos consumidores e procurar novas oportunidades no mercado. Como? Através da “proximidade, consolidação da carteira de clientes, diversificação”. A oferta deve ser repensada, segundo Alexandre Relvas esta é uma oportunidade para “adaptar, renovar as linhas de produtos”.
O empresário admite que todos gostariam de receber mais apoios, mas defende que os que estão disponíveis vão ao encontro da generalidade das necessidades. Portugal está entre os países que menos apoio está a dar, em percentagem do PIB, mas Relvas recorda que todos somos co-responsáveis pelo endividamento nacional, que impõe limitações.
Durante um Webinar sobre o impacto e a saída da crise covid-19, Alexandre Relvas sublinhou ainda que estes novos tempos que vivemos trazem novas exigências de liderança: com mais presença, com promoção de confiança, diálogo, garantias de segurança e novas soluções.
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