Moda e desporto estão cada vez mais interligados e Portugal está nos lugares cimeiros do “campeonato do mundo da inovação”. Conheça algumas novidades levadas à Alemanha
As vendas de artigos para desporto valem, na Europa, qualquer coisa como 40 mil milhões de euros ao ano. Um mercado apetecível e no qual Portugal procura ganhar um lugar ao sol, em especial através da indústria têxtil e do vestuário, mas, também, do calçado. Até porque moda e desporto cada vez se interligam mais.
Portugal marcou presença na edição de inverno da ISPO Munich, a maior feira mundial de artigos para desporto, com 40 empresas, divididas por quatro ilhas From Portugal. No total, a indústria portuguesa ocupou mil metros quadrados. “Nunca tivemos tanta área, há uma procura crescente à medida que as empresas vão fugindo dos artigos mais básicos para oferecerem produtos mais complexos e de maior tecnicidade”, diz o diretor-geral do Citeve, Braz Costa.
Mário Jorge Machado, presidente da associação têxtil, a ATP, garante que Portugal está nos lugares cimeiros do “campeonato do mundo da inovação”. E da sustentabilidade. A mostra de artigos portugueses incluiu o iTechStyle Green Circle, um espaço do Citeve que desafiou designers conhecidos a desenvolver peças artísticas a partir de matérias primas recicladas. Portugal brilhou, ainda, na Brandnew da ISPO, a maior plataforma mundial de startups do universo desportivo, com dois projetos na área do surf, a Brusco e a Van der Waal, e um nas meias para desporto, a Sockapro. Mais houve outras novidades.
Scoop. O vestuário de desporto que ajuda a rejuvenescer
A Scoop, marca da Scorecode Têxteis, uma unidade de confeção de Vila Nova de Famalicão especializada em vestuário outdoor, maioritariamente para desporto, está a apresentar o Lumiton, “a primeira fibra têxtil a nível mundial que transforma os raios ultravioletas em infravermelhos, ajudando a rejuvenescer a pele e ao fortalecimentos das articulações e dos músculos, através da produção de colagénio”. Este é um projeto em parceria com a Universidade da Carolina do Norte, que patenteou a tecnologia que permite incorporar uma técnica de laser no fio, de modo a que, “quando a luz solar incide sobre a malha, o tecido transforma a energia do sol em luz natural saudável para o corpo”.
Em consequência do processo de transformação da luz, o vestuário Lumiton conta com proteção UV 50+. Uma inovação que está a gerar um “enorme interesse” até pelas grandes marcas de desporto mundiais, admite Daniel Mota Pinto, socio-gerente da Scorecode Têxteis.
Os produtos Lumiton By Scoop estão já à venda online nos EUA e incluem o equipamento completo, desde as camisolas aos calções, calças, meia, luvas e até sapatilhas. Uma t-shirt custa cerca de 75 dólares (69€), uma camisola de manga comprida 82 (76€). “É o mesmo preço de uma camisola de qualquer grande marca de desporto internacional”, argumenta Daniel Mota Pinto, que está a lançar a plataforma de e-commerce para a Europa e a tentar chegar à Austrália. “Teremos de encontrar um produtor que queira ficar com a representação no mercado australiano. Somos uma empresa muito orientada para as parcerias e acreditamos na produção local para reduzir a pega ambiental”, diz.
A empresa, que conta com 70 trabalhadores e fatura cerca de 11 milhões de euros, praticamente só nos mercados internacionais, apresentou outra inovação, o Musgo, um casaco de iluminação ativa pensado para minimizar os acidentes, graças à integração de fibras óticas para aumentar a visibilidade de um ciclista ou de um corredor na estrada. O casaco Musgo conecta diretamente com o telemóvel de quem o veste e reage aos movimentos do corpo, assinalando, com luz, mudanças de direção ou o abrandar da marcha.
P&R Têxteis. Os fatos dos campeões em marcha
Conhecida pela sua capacidade de ajudar a “fabricar” campeões olímpicos, como Usain Bolt ou Nelson Évora, a P&R Têxteis está a trabalhar em força para os Jogos Olímpicos de Tóquio, no próximo verão, mas arrancou já com os primeiros desenvolvimentos, ao nível da prototipagem e dos testes de novos materiais, tendo em vista os Jogos Olímpicos de inverno de 2022.
“Registamos com agrado a fidelização dos nossos clientes”, admite Nuno Pinto, fundador e sócio da empresa. Em Tóquio irá, mais uma vez, vestir “milhares de atletas”, de uma infinidade de modalidades, do remo à canoagem, do rugby ao andebol, do triatlo ao ciclismo e à natação, entre outras, através de grandes marcas internacionais, como Adidas, Asics e Tyr. Em Munique apresentou já o design gráfico dos equipamentos que criou para as federações nacionais de ciclismo e de triatlo, com imagens de cartas marítimas, inspiradas nos Descobrimentos e na chegada dos primeiros navegadores portugueses ao Japão.
Qual é o efeito Jogos Olímpicos na empresa? “Obriga-nos a evoluir permanentemente em termos tecnológicos, assegurando que dominamos o estado da arte da tecnologia de ponta para o desenvolvimento dos equipamentos, com as funcionalidades e o conforto necessários para assegurar o melhor rendimento dos atletas”, diz.
Com mais de 200 trabalhadores e uma faturação da ordem dos 14 milhões de euros, a P&R tem feito “investimentos pontuais” no aumento da sua capacidade em termos de estamparia digital e, também, ao nível da montagem das peças por termocolagem. E é neste segmento de produtos que se insere outra das novidades que apresentou na ISPO, o rain running jacket, um casaco em material refletor iridescente. O material de base, um laminado composto por uma malha circular pelo interior colado a um película refletora iridescente exterior, que tem a particularidade de não perder as propriedades elásticas da malha, foi desenvolvido por um parceiro italiano. A P&R deu-lhe a forma final, um casaco que tem um efeito de alta visibilidade, durante a noite, que se destina aos praticantes de desportos como o ciclismo ou o runnig. A execução técnica da construção da peça torna-a resistente tanto à agua como ao vento.
Impetus. O pijama que vai ajudar a dormir bem
A Impetus está a desenvolver, em parceria com a Universidade do Minho, uma linha de pijamas para melhorar a qualidade do sonos dos atletas, contribuindo para um melhor desempenho desportivo. A linha ProtechSleep só deverá chegar ao mercado no final do ano, mas a empresa de Barqueiros já vai aproveitando para divulgar o projeto nas feiras por onde passa, como a ISPO. Os novos produtos vão combinar três tecnologias distintas: a libertação de substâncias ativas para o relaxamento e melhoramente da respiração; o efeito de micromassagens para a drenagem circulatória e linfática, que favorecerá o relaxamento muscular; e o efeito de compressão, direcionalmente orientada, para o auxílio da recuperação muscular.
Enquanto estes novos produtos não estão em fase de venda, a Impetus, marca de renome de vestuário interior para homem, mas, também, sinónimo de um dos maiores fabricantes da Europa da tecnologia seamless, dá a conhecer a sua capacidade multidisciplinar no desenvolvimento de produtos técnicos orientados para atividades desportivas especificas.
O seamless é uma tecnologia que permite produzir peças sem costuras, que vão desde as interiores, mais suaves por estarem em contacto com a pele, às exteriores, designadamente às que precisam de assegurar um elevado desempenho, por exemplo, a resistência ao abrasão, para desportos como o skating ou o parkour. “Podemos ir de áreas tão sensíveis como o ioga ou o fitness, aos produtos mais técnicos, para outdoor, conjugando as técnicas de tricotagem, de acabamentos e de confeção com o uso de materiais reciclados e biodegradáveis”, explica o diretor comercial, António Rossas.
A reinvenção dos jeans em versão seamless é um dos exemplos da inovação tecnológica da empresa de Barqueiros, que, com três fábricas e 900 trabalhadores, gera, anualmente, uma faturação de 55 milhões de euros.
BEPPI. As sapatilhas com rodas made in Portugal
Nem só de têxteis e vestuário é feita a presença de Portugal na maior feira de desporto do mundo. Há, também, calçado. E a Beppi aproveitou a ISPO para apresentar a sua mais recente aposta, os Breezy Rollers, umas sapatilhas para criança com rodas incorporadas. Este tipo de sapatilhas tem encantado crianças e jovens há várias décadas, mas sob o monopólio da americana Heelys.
“Procuramos diferenciar-nos da patente existente e colocar no mercado um produto melhor e a melhor preço. Foram nove meses desde os primeiros rabiscos, mas conseguimos desenvolver um produto de raiz, patenteado a nível mundial”, explica Paulo Maia, administrador da empresa.
Com tamanhos que vão dos 29 ao 36, para abranger a faixa etária dos 4 aos 10 anos, os Breezy Rollers custam, em média, garante, 25% a menos do que os da concorrência. Se a procura o justificar, a Beppi admite alargar a oferta para tamanhos maiores. Têm a grande vantagem de, ao contrário dos modelos da empresa americana, que obrigam ao uso de acessório, uma pequena “chave” vendida com os sapatos, para retirar as rodas, as Breezy Rollers tem incorporado um sistema simples de encaixe, que não obriga, sequer, a tocar com as mãos nas solas.
Com uma faturação de 10 milhões de euros, a Beppi tem em Portugal e Espanha os seus principais mercados. Mas vende 70% do que produz para 67 países em todo o mundo, com “crescimentos muito fortes” na América do Sul e “bons números” nos países do Leste europeu. Com o novo produto pretende fazer uma aposta “muito forte” no mercado americano.
* A jornalista viajou a convite da ATP
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