“Em Portugal as mulheres auferem em média 14% menos do que os homens em trabalhos equivalentes”, alertou esta sexta-feira, Álvaro Santos Pereira, o ex-ministro do governo PSD-CDS, hoje diretor da área dos estudos por país no departamento de economia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
O economista foi ao Twitter fazer esse apontamento, mostrando ainda que Portugal sai mal na fotografia quando comparado com os restantes países chamados desenvolvidos ou ricos. Para tal citou um novo estudo publicado esta sexta-feira, pela OCDE, intitulado Relatório Global sobre as Instituições Sociais e o Índice de Género (Social Institutions and Gender Index – SIGI 2019 Global Report).
No gráfico que fez questão de replicar na sua conta na rede social, Portugal continua a ser um dos países ditos desenvolvidos onde o fosso salarial entre homens e mulheres é maior, continuando assim acima da média da OCDE. Traduzindo em números, em Portugal, as mulheres ganham em média menos 14,3% que os homens para o mesmo tipo de trabalho a tempo completo, um fosso que no conjunto da OCDE é menos pronunciado, cerca de 13,6%. Os dados reportam-se à situação em 2017.
Em Portugal as mulheres auferem em média 14% menos do que os homens em trabalhos equivalentes: @OECD_Social https://t.co/tFYcw3Us8P pic.twitter.com/0d0xD0Jhpc
— Alvaro SantosPereira (@santospereira_a) March 8, 2019
Luxemburgo, Bélgica e Grécia surgem como os países com menor discrepância salarial de género (o salário médio feminino equivale a 3,4%, 3,7% e 4,5% do ordenado masculino médio, respetivamente).
Do outro lado da tabela, os países com desigualdades médias mais gritantes são Coreia (as mulheres auferem em média 34,6% menos que os homens em circunstâncias semelhantes), Estónia (28,3%) e Japão (24,5%).
Santos Pereira, que recentemente terá entrado em colisão com o governo do PS por causa de um diagnóstico que estaria a ser coordenado por si sobre o problema da corrupção em Portugal, parece estar, desta vez, mais no comprimento de onda do Governo.
Costa também diz que há caminho a fazer
Ainda ontem, o primeiro-ministro, António Costa, na celebração oficial do dia da mulher (na residência oficial), disse, citado pela Lusa, que “não podemos ter a ilusão que este é um percurso que está concluído e que o exemplo do sucesso destas mulheres nas suas carreiras seja já o paradigma da sociedade portuguesa. Não é”.
Costa disse que é “necessário prosseguir a afirmação da igualdade em todos os domínios”. É preciso “erradicar todas as formas de violência, em particular a doméstica e a de género”; promover a “conciliação entre as vidas profissional e familiar”, “combate à desigualdade salarial entre homens e mulheres, que é maior nas profissões com mais elevadas exigências de qualificação”, exemplificou o chefe do governo.
“Temos de prosseguir uma trajetória crescente da igualdade de género em todas as funções de responsabilidade”, disse o primeiro-ministro, observando que apesar de a primeira lei da paridade [na representação de cargos políticos] já ter “duas décadas” e que “muitos diziam que era desnecessária, porque, pela natureza das coisas, a sociedade resolveria o problema”, o que se provou “é que são sempre necessárias medidas legislativas para assegurar os mínimos previstos na lei” já que “a dinâmica social não tem resolvido este problema”, concluiu António Costa.
OCDE destaca um bom exemplo dado por Portugal
No novo estudo, a OCDE mostra que Portugal tem caminho a fazer no combate às desigualdades de género, mas destaca o país como um exemplo positivo porque aumentou o peso das mulheres na política.
“Em 2009, as mulheres representavam 27% dos membros do parlamento português e 7% dos autarcas do país. Para aumentar a sua representação, o governo [governo PS, de José Sócrates] lançou uma campanha nacional para fazer subir a consciencialização relativa à igualdade das capacidades das mulheres para serem eleitas como líderes”.
A OCDE recorda que essa campanha “incluiu um kit de ferramentas que fornecia orientação na área da formação para aumentar competências de comunicação e de liderança das mulheres, sessões de consciencialização em todo o país e uma parceria com associações de juventude que incentivavam as mulheres jovens a participar em eventos públicos e na vida política”.
Houve ainda uma “campanha de comunicação mediática para incentivar as mulheres a serem politicamente ativas e o governo publicou guias educacionais com apoio pedagógico para os professores implementarem atividades que lidavam com estereótipos de género nas escolas”, acrescenta a organização liderada por Angel Gurría.
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