Vasco D’Orey foi o responsável da direção de gestão de risco (DGR) da Caixa Geral de Depósitos entre 2001 e 2010. Essa unidade do banco público emitiu pareceres que não foram seguidos pelos conselhos de crédito, segundo o relatório da EY aos atos de gestão na Caixa. Mas o ex-diretor do banco público contesta algumas das conclusões desse documento.
“Contém realidades alternativas das quais são extraídas conclusões”, considerou Vasco D´Orey numa audição da II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco. Garantiu que a “DGR não podia retirar pareceres emitidos. Tal ação não está prevista em normativo da CGD”.
Vasco D’Orey contestou as conclusões da auditoria especial sobre o condicionamento da independência do diretor central da DGR por considerar que este estava envolvido no processo da decisão de crédito. “Não participava nos órgãos de decisão para novo crédito”, afirmou. E refutou que lhe tivesse sido atribuída a função de chief risk office (CRO). “É uma realidade virtual e isso é uma coisa que me custa”, desabafou.
Na auditoria especial feita pela EY foram detetadas 15 operações, sendo que nos 25 créditos mais ruinosos, esses financiamentos originaram 86 milhões de euros em perdas. Além disso, houve 80 operações em que o parecer de risco era condicionado ao acolhimento de requisitos prévios que não foram seguidos nem houve justificação para tal. Nos 25 grandes financiamentos analisados, esta prática resultou em perdas de 769 milhões de euros. Houve 13 operações que foram contra o parecer de tisco que no top 25 originaram prejuízos de 48 milhões de euros.
Apesar dessa conclusão da auditoria da EY, Vasco D’Orey desvalorizou que os conselhos de crédito, onde estavam presentes administradores, não tenham seguido os pareceres de risco. “Quando era decidido contra o risco era porque era decidido a favor da área comercial. Se, por acaso, tudo tivesse sido decidido como defendido pelo risco, as coisas teriam corrido de maneira diferente? É difícil fazer esse contrafactual”, disse.
DGR não podia fazer cartazes a dizer para não aprovar crédito
Vasco D’Orey considerou que a DGR era “um serviço do banco” e que quem tinha de decidir eram os administradores. Seria “complicado as pessoas terem aquela responsabilidade e andarem a reboque do que diz um serviço”, disse. Numa outra audição, o antigo secretário da mesa da Assembleia Geral do banco público, João Dias Garcia, tinha revelado que os administradores podiam decidir contra os pareceres de risco sem fazerem uma justificação por escrito.
Apesar de ter garantido que a “DGR não estava calada” e que era “totalmente independente”, Vasco D’Orey detalhou que “não tinha voto e não podia fazer declarações de voto nem tinha poder de veto e não podia retirar pareceres emitidos”. E concluiu que “a DGR não pode meter-se à porta do Conselho de Administração com um cartaz a dizer para não aprovar o crédito”.
Ainda assim, e apesar dos pareceres negativos emitidos pela DGR, o antigo diretor dessa área considerou que “o pior serviço que podemos dar à CGD é um parecer negativo porque não tivemos imaginação suficiente para transformar um risco elevado num risco que possa ser suportável”.
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