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António Costa voltou a mostrar-se orgulhoso de ter construído a geringonça, apesar dos votos contra de Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português no Orçamento de Estado 2022.
“Ao longo destes seis anos construímos uma solução inédita, que durou seis anos e que foi a solução pluripartidária mais estável da história”, afirmou o primeiro-ministro em entrevista à RTP 1, confessando que só no final é que percebeu que o OE2022 ia ser chumbado: “Só no final é que percebi é que o OE ia ser chumbado. Fizemos tudo, tudo o que estava ao nosso alcance. Tenho muita pena. No discurso antes da votação disse que o que estava em causa era a votação na generalidade e não matar o OE à nascença. Estivemos a negociar até ao último minuto.”
“Agora cabe aos portugueses escolher”, atirou, apontando já às eleições legislativas de 30 de janeiro.
“Vivemos num país de salários muito baixos. O salário mínimo já subiu 39% desde 2016. Propusemos o maior aumento de salário mínimo de sempre, 40 euros. PCP queria chegar aos 800 euros em 2022, o que seria um aumento maior do que o total dos últimos seis anos, e seria muito fácil dizer que sim, mas seria responsável?”, questionou, quando abordado sobre as negociações relativamente ao aumento do salário mínimo. “Não estamos a falar de verbas de OE, mas sim da sustentabilidade das empresas. É preciso ser realista e ver se há condições”, acrescentou, esperando um acordo para aumentar o salário mínimo para 705 euros, apesar da “legitimidade política limitada” de que o Governo dispõe, uma vez que vai governar em duodécimos em janeiro.
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Interrogado sobre se sentiu que houve uma intenção prévia por parte de BE e PCP no chumbo do OE2022, António Costa disse que não quer “abrir feridas que importa sarar”, mas admitiu que a classe política falhou.
O primeiro-ministro salienta que o Governo devolveu “a confiança na Segurança Social”, mas que não quis ceder a “qualquer coisa” para colocar em causa as pensões das futuras gerações. “Eu acho que fomos ao limite do limite”, aditou, voltando a criticar o facto de o debate do Orçamento de Estado não ter chegado à especialidade. “Se tivesse havido vontade não tinha chumbado”, reforçou.
Sobre a posição do Presidente da República em anunciar que dissolveria o parlamento em caso de chumbo do OE, António Costa elogiou a clareza de Marcelo Rebelo de Sousa. “Ninguém pode dizer que foi enganado pelo Presidente da República”, frisou, não se alongando sobre a possibilidade da apresentação de um segundo orçamento em vez da dissolução da Assembleia da República. “Compreendo a posição do Presidente da República. Não é possível apontar-lhe o dedo. Procurou a menos má das soluções. Ninguém gosta das eleições antecipadas”, afirmou, considerando que a data das eleições “não é uma questão fundamental”.
Sobre o cenário pós-eleições, António Costa disse que um Governo do PS “será sempre à esquerda”. “As pessoas que escolham se querem dar força a um Governo do PS ou se não querem”, atirou, não fechando as portas aos partidos à esquerda. “A ambição do PS é ganhar com o maior número de votos”, aditou.
“A geringonça indiscutivelmente que acabou. Vamos ver o que se segue. Em 2019 as pessoas decidiram reforçar a posição do PS, como elemento estabilizador. As pessoas é que vão escolher: se querem um Governo do PS ou um Governo do PSD. Já governei uma Câmara Municipal com e sem maioria. Um Governo do PS com maioria absoluta terá sempre o escrutínio do Presidente da República, da comunicação social e do poder judicial. E não deixaríamos de negociar. Um Governo do PS com maioria absoluta não será perigoso”, explicou, apontando à maioria absoluta.
“Em 2019 disse aos portugueses que votar no PS seria reforçar geringonça. Seria uma traição chegar a um acordo com o PSD. Agora, em que o PCP diz que não haverá mais geringonças e que Catarina Martins diz que só quando António Costa sair da liderança do PS é que serão possíveis acordos, peço o maior número de votos para podermos governar sem nunca deixar de dialogar. E nunca deixámos de dialogar com o PSD. Procurarei um entendimento duradouro com os nossos parceiros”, vaticinou.
Sobre a direita e o PSD, António Costa não quis comentar a disputar interna no PSD nem se preferia negociar com Paulo Rangel ou Rui Rio, mas recordou que nos Açores o PSD não hesitou em chegar a acordo com o Chega para subir ao poder.
Em relação ao aumento de casos de covid-19 e o atraso na dose de reforço da vacina contra o vírus, Costa diz que “esta terceira fase tem problemas de comunicação” e expressou confiança em ver as famílias reunidas à mesa no Natal.
Relativamente à Operação Miríade, António Costa lamentou o caso mas garantiu que a imagem de Portugal estrangeiro não ficará beliscada, até pela atempada comunicação à ONU.
O líder do Governo admitiu ainda que não vai ficar na liderança do PS caso seja derrotado nas eleições legislativa e que também não se sentará na bancada da oposição na Assembleia da República, para que seja aberto um “novo ciclo”.
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