//António de Sousa: “Havia tensão na CGD por causa do departamento de risco”

António de Sousa: “Havia tensão na CGD por causa do departamento de risco”

A criação de uma direção de gestão de risco (DGR) no banco público, em 2001, não foi bem acolhida na Caixa Geral de Depósitos. Essa é a convicção de António de Sousa, que liderou a instituição entre 2000 e 2004, defendeu no Parlamento que a “criação de um departamento de risco que iria ter a responsabilidade de contrapor com os pareceres comerciais não foi aceite de forma igual dentro da instituição”.

Nas declarações na Comissão Parlamentar de Inquérito à recapitalização e gestão do banco público, António de Sousa afirmou que “as pessoas não estavam habituadas a isso”, principalmente “as que trabalhavam há anos na CGD”. Um dos exemplos foi Tomás Correia, que chegou a fazer declarações de voto contra decisões sobre a política de concessão de crédito. O atual presidente da Mutualista Montepio foi administrador do banco público entre 1996 e 2002 e manifestou-se na altura contra a política de crédito da Caixa.

“Estávamos no auge de uma certa não aceitação da DGR na CGD”, explica o antigo líder do banco. Detalhou que “havia bastantes casos em que a DGR não dava parecer favorável e as pessoas, que trabalhavam ha muitos anos na CGD, como o Dr. Tomás Correia não estavam habituadas a isso. Havia tensão sobre essa matéria”.

António de Sousa referiu que os administradores com pelouros comerciais teriam queixas dos diretores que queriam fazer operações. Os pareceres da DGR eram contestados, com diretores do banco a mostrarem desagrado com o argumento de que “havia uns senhores em Lisboa que tinham umas ideias e faziam uns ratings e não tinham em conta a relação pessoal” com os clientes.

O antigo responsável do banco pela DGR, Vasco D’Orey, tinha já sublinhado na comissão de inquérito que esta direção “não era amada na CGD”. António de Sousa detalhou que a criação da DGR ia “conta uma cultura instalada e criou um certa perturbação”.

A auditoria especial feita pela EY aos atos de gestão na CGD entre 2000 e 2015 identificou perdas de centenas de milhões de euros em operações com foram feitas contra os pareceres emitidos pela DGR.

Ver fonte