
O jurista e antigo CEO do Novo Banco considera que chegou a hora de lançar a discussão sobre um modelo de transição para um sistema de capitalização do fundo de pensões.
A ideia foi defendida durante mais uma edição do “Conversas na Bolsa”, no Palácio da Bolsa, no Porto.
António Ramalho defende a capitalização das pensões em nome da sustentabilidade das próximas gerações reconhecendo, no entanto, que se trata de um processo custoso e que que não é “instantâneo”.
“Vamos ter de ter esta discussão séria, porque senão, daqui a uns anos, não haverá pensões para os novos utilizadores”, alertou, acrescentando que “este é um problema que ainda tem tempo, mas um problema transitório para ser gerido e que vai custar muito dinheiro”.
Em causa, explicou o também presidente do Fórum dos Administradores e Gestores de Empresas, está o atual modelo social “de sucesso no passado”, mas, que já não dá as mesmas garantias de futuro.
“Perdemos o problema da expectativa, porque, pela primeira vez, não conseguimos prometer melhoria das condições de vida para os nossos filhos”, apontou durante o almoço-conferência organizado pela Associação de Comerciantes do Porto, alertando para o que diz ser “armadilha geracional” à qual é preciso dar resposta.
“Estamos perante um momento decisivo daquilo que é a nossa reflexão sobre o Estado que criamos, que é de extraordinário sucesso, porque redistribuímos uma riqueza que criámos, mas as condições de base para a criação da riqueza deixaram de existir”, constatou, para concluir: “Ou reorganizamos todo o nosso modelo em nome de princípios que estejam muito mais próximos daquilo que é a sua sustentabilidade ou o conflito que vamos ter, não é social, não é do género, é geracional.”
O crescimento anémico da economia, o envelhecimento demográfico e o alargamento do endividamento foram os três indicadores destacados pelo gestor para o retrato do país que, para além, de “mais confiança no sistema de pensões” precisa, também, de uma “gestão de recursos mais eficiente”. Aqui, o gestor deu o exemplo do fim da gratuidade dos serviços.
“Vamos ter de fazer uma coisa que que custa muito, que é acabar com esta ideia notável dos serviços gratuitos aparentes por parte do Estado. O Estado não presta nenhum serviço gratuito, porque isso não existe”, lembrou.
“Todos os serviços têm um custo e podem ser pagos pelo contribuinte, por um beneficiário quando o contribuinte não é visível, pelo utilizador e finalmente podem ser pagos pelo contribuinte futuro”, mas, “se continuarmos a onerar o contribuinte futuro, ele um dia faz uma revolução e o próximo maio de 68 vai ser muito pior”.
Noutro plano, o da Europa, o ex-CEO do Novo Banco mostrou-se critico do atual modelo de financiamento dos fundos europeus que, disse, em nada têm contribuído para diminuir a diferença entre os países da União Europeia.
Apesar dos “fundos comunitários sem nome” que recebemos, “neste momento mantemos a distância, o mesmo gap para a Europa. Portanto, o sistema de incentivos dos fundos comunitários é um erro”, apontou.
“A Europa já deveria ter refletido se não valeria mais a pena obrigar a investimentos no exterior.”
“Se queremos que a Alemanha ajude Portugal a aproximar-se da Alemanha. Há uma maneira simples, em vez de uma Autoeuropa no nosso país mete que três”. Assim, explicou António Ramalho, “o investimento vai alargando para um espectro mais equilibrado”.
O antigo CEO do Novo Banco foi o convidado da Associação Comercial do Porto para mais uma edição do “Conversas na Bolsa” que trouxe a debate os desafios do setor empresarial português para os próximos anos.











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