//Archegos: um “family office” que criou um susto de milhões

Archegos: um “family office” que criou um susto de milhões

Cinco dos gigantes mundiais da banca de investimento vão ter milhões de euros de prejuízos devido a único investidor, o Archegos Capital Management. O japonês Nomura, o suíço Credit Suisse, o alemão Deutsche Bank e os norte-americanos Morgan Stanley e Goldman Sachs deverão ser os bancos com maior exposição a esta empresa de investimento. Os dois primeiros bancos assumiram logo no início da semana que a fatura é de vários milhões, podendo mesmo penalizar os resultados trimestrais. Além disso, tanto as ações do Nomura como do Credit Suisse sofreram logo na segunda-feira quedas expressivas em bolsa, mas os reflexos parecem já estar contidos e nem a bolsa nem as cotadas nacionais devem sentir os efeitos.

A Archegos Capital Management é um chamado family office, uma empresa de investimento americana que tem como objetivo gerir o dinheiro de uma família e prestar alguns serviços de apoio. Tal como explica a Reuters, estes family offices não são, tipicamente, regulados. A Archegos Capital tem um portfólio de ações que inclui títulos de empresas de comunicação social americanas e tecnológicas chinesas. Essas ações foram compradas com recurso a uma espécie de crédito. A queda desses títulos em bolsa, que aconteceu na semana de 22 de março, levou as corretoras que concederam os empréstimos para financiar a compra de ações a pedirem garantias adicionais.

Este family office não tinha capacidade para dar essas garantias e as corretoras colocaram no mercado muitas ações numa tentativa de recuperar dinheiro. O primeiro efeito foi que no final dessa semana, a 26 março, foram despejadas nas principais bolsas americanas (Wall Street) uma grande quantidade de ações de tecnológicas chinesas e de empresas de comunicação social americanas. O segundo foi que bancos como o japonês Nomura e o suíço Credit Suisse alertaram que vão ter perdas de vários milhões de euros. Ainda assim, não deverá haver contágio a cotadas nacionais nem o mercado deverá reviver o episódio Lehman Brothers.

Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros, acredita que o Nomura e o Credit Suisse, “provavelmente, serão as instituições mais afetadas dado que houve imediatamente um levantamento da situação em cada participante da indústria. Havendo a obrigação legal e moral de comunicar ao mercado, não creio que se esteja a esconder mais nada de muito relevante. No entanto, este caso mostra a importância de reforçar os critérios de concessão de crédito”. Pedro Lino, presidente da Dif Broker, por sua vez, acrescenta que “não haverá implicações para a bolsa nacional, a não ser uma maior vigilância da alavancagem aos institucionais cujas posições são difíceis de desfazer, ao contrário das posições de clientes particulares ou investidores de retalho, de menor dimensão”.

Tanto Filipe Garcia como Pedro Lino recusam comparar este episódio com a queda do Lehman Brothers, há mais de uma década. Paulo Rosas, do Banco Carregosa, concorda e explica: “A Lehman Brothers apresentou prejuízos na ordem dos 3,9 mil milhões de dólares no terceiro trimestre fiscal, a 10 de setembro, e os seus ativos estavam avaliados em mais de 600 mil milhões de dólares. No caso da Archegos o montante conhecido é muito menor, apenas cerca de 5% do total da Lehman Brothers”.

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