//“As pessoas ainda vão ter saudades desta carga fiscal”, diz secretário de Estado

“As pessoas ainda vão ter saudades desta carga fiscal”, diz secretário de Estado

Os empresários portugueses são, em geral, muito responsáveis no cumprimento das suas obrigações fiscais. Também porque sabem que não devem acumular dívidas. É a opinião do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que esta sexta-feira participou numa videoconferência sobre a retoma económica, organizada pela Ordem dos Contabilistas Certificados.

António Mendonça Mendes pensa que ainda vamos todos ter saudades da carga fiscal pré-pandemia, conseguida não com um aumento de impostos, mas graças ao aumento do emprego.

Certo é que as medidas de emergência para resposta à COVID-19 vão ser pagas com impostos futuros.

Ana Mendes Godinho, a Ministra do Trabalho e Segurança Social garante que o Governo está a preparar um programa de estabilidade económica e social para a fase de transição, em que a atividade está a recomeçar, mas ainda sem estabilidade. Discutido com todos os parceiros. Mas os pormenores, ficam para depois.

Se há quem deseje voltar ao normal, à situação que tínhamos há dois anos – como referiu o eurodeputado Carlos Zorrinho –, Eduardo Paz Ferreira, não é um deles. O professor universitário frisa que é preciso “dar uma volta a tudo isto”.

Para a bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, este é um ano diferente e tem que haver muita flexibilidade, criada à medida das necessidades.

Crise é séria, mas “estamos numa situação económica e financeira melhor” do que há dez anos

Nos últimos dois meses, as Finanças receberam pedidos de deferimento de pagamento de impostos no valor de 498 milhões de euros, ou seja, o equivalente a um quinto da receita que o Fisco deveria receber, revelou esta tarde o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, durante a videoconferência sobre “A retoma económica: pontos de vista institucionais”, organizada pela Ordem dos Contabilistas Certificados.

As grandes empresas foram as que menos diferiram pagamento de impostos, mas “mesmo as micro, pequenas e médias agiram com grande parcimónia. Mais de um terço optou pelo diferimento a 1/3, nem chegaram aos seis meses”.

O governante elogia o sentido de responsabilidade dos empresários, “sabem que não devem acumular dívidas, que são um problema para o futuro”.

Prevenindo “mal-entendidos ou descontextualizações”, António Mendonça Mendes afirmou que “as pessoas ainda vão ter saudades desta carga fiscal”, para logo a seguir argumentar que os portugueses não estavam a pagar mais impostos. O aumento da receita fiscal deve-se sobretudo às contribuições do IRS “gerado por mais e melhor emprego criado nos últimos cinco anos”.

Para o Secretário de Estado, a crise pôs a nu a importância de contribuir para a Segurança Social. “Não é um custo, mas sim, investimento.”.

A crise resultante da pandemia é muito mais séria do que a que enfrentámos há dez anos, mas “o ponto de partida não é o mesmo, estamos numa situação económica e financeira melhor”. “Alcançámos um equilíbrio do ponto de vista orçamental que faz toda a diferença para podermos enfrentar esta crise. Por isso não tivemos dúvida em tomar, com muita rapidez, todas medidas para a situação de emergência no combate à COVID-19.”

Ainda assim, Mendonça Mendes repete o alerta já ouvido na boca do ministro da Economia, Siza Vieira: “Despesa de hoje são impostos de amanhã, é uma realidade, é paga com os impostos do futuro”.

Governo prepara plano económico-social para a fase de transição

Sem nunca admitir que o “lay-off” simplificado pode vir a ser prolongado para além do fim de junho, como pedem e defendem diversos setores da economia, a ministra do Trabalho e Segurança Social garantiu que o Governo está a preparar um plano de estabilidade económico-social, com medidas que se adaptem à nova realidade (a retoma gradual), ouvindo todos os parceiros nas diversas áreas.

Ana Mendes Godinho não adiantou pormenores do plano, apenas frisou que “o foco tem que ser a manutenção dos postos de trabalho”. “Sentimos que, claramente, os mais atingidos pelo desemprego foram os jovens – já é a segunda crise que estão a atravessar –, os mais vulneráveis do ponto de vista das relações laborais, porque têm contratos temporários ou a termo, são trabalhadores independentes ou estão no período experimental. E temos que fazer um esforço coletivo para manter o emprego daqueles que estão a trabalhar.”

A titular da pasta do Trabalho referiu ainda outras prioridades do Plano: estancar o desemprego, apostar em medidas de apoio à formação, qualificação e reconversão profissional (nomeadamente com a aceleração do Programa Garantia Digital), apoio à contratação e, por último, estabilização e reforço das medidas aos mais vulneráveis, “incluindo os novos grupos de pessoas que antes nunca precisaram de ajuda”.

Europeus deixaram de ser indiferentes à UE

Para o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho, a União Europeia (EU) está a viver o maior desafio de sobrevivência da sua história e “os europeus, sentiram que a única resposta a esta crise era mesmo a União Europeia”. “Só com a UE é que todos os programas nacionais são possíveis. Quebraram a indiferença, mas isso ainda lhe dá mais responsabilidade.”

Algumas respostas já estão a ser dadas, mas na opinião de Carlos Zorrinho “é altura de introduzir no debate a questão de ‘como vamos voltar à tona de água, mas não para o mesmo sitio’; é preciso fazer alterações nas nossas capacidades, que aumentem a competitividade da UE”.

Crise é a grande oportunidade para mudar a sociedade

O professor universitário Eduardo Paz Ferreira não se mostra tão otimista como Zorrinho. Europeísta confesso, revela que a União Europeia lhe tem dado muitos desgostos.

E em relação à retoma, garante que não quer estar “como estávamos há dois anos”. “É preciso dar uma enorme volta a isto tudo para dar solução aos problemas económicos e das finanças públicas.”

Para Eduardo Paz Ferreira, a crise é a grande oportunidade para mudar a sociedade. “Temos que fazer uma sociedade nova, mais justa, como aponta o Papa Francisco. É preciso trabalharmos juntos.” E sublinha que “se continuarmos com uma estrutura profundamente desigual nas sociedades, de desinteresse pelo que se passa com as populações, a única coisa que vamos fazer é esperar por outra crise, por outra pandemia”.

Garante que não tem vontade de o fazer e, para já, o seu contributo é “ir falando, para agitar as ideias”.

Para Paula Franco, bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, promotora da conferência, este está a ser um ano diferente e é preciso muita flexibilidade, “tem que se ir criando flexibilidade à medida das necessidades”.

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