As associações setoriais, algumas delas chamadas a contribuir com propostas para o plano de poupança energética, que deverá ser conhecido em breve, insistem na adoção de medidas estruturais de redução de consumos e eficiência energética.
A ameaça do corte de fornecimento de gás russo à Europa levou a Comissão Europeia a definir metas de poupança e os Estados-membros a preparar planos de redução do consumo de energia, para evitar escassez no inverno.
Em Portugal, o plano de poupança energética deverá ser conhecido até ao final do mês e, para a sua elaboração, a Adene – Agência para a Energia recolheu propostas junto de várias associações setoriais.
Entre as entidades consultadas, a Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC) defendeu a importância da implementação de medidas estruturais, como “a agilização dos mecanismos de licenciamento para centrais de autoconsumo”.
“A energia fotovoltaica em grandes edifícios é uma importante forma de reduzir a nossa dependência energética”, disse à Lusa o diretor executivo da APCC, Rodrigo Moita de Deus.
Já no que diz respeito a medidas imediatas de poupança, a APCC defendeu três eixos distintos de atuação: climatização, iluminação e meios mecânicos.
“Na área da climatização, a medida mais importante é o acerto das temperaturas para 19º no inverno e 26º no verão. A climatização é o grande consumo energético destes edifícios e o conjunto destes acertos permitirá uma poupança entre 7-9%”, explicou o responsável.
Na área da iluminação, a associação destacou a conclusão da passagem para iluminação eficiente (LEDs) e os acertos de iluminação em áreas não comerciais (parques de estacionamento, áreas técnicas, entre outras) e, por fim, no que diz respeito aos meios mecânicos, o acerto de velocidades em elevadores e escadas rolantes. .
Segundo a APCC, estas medidas imediatas podem vir a ter um impacto total de 10% na redução dos consumos.
Por sua vez, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que contribuiu com propostas através da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, realçou que “o desafio de consumir menos energia, não pode estar separado da necessidade de produzir mais e melhor energia”.
“Uma política pública que não tenha em conta a necessidade de melhorar os processos inerentes à instalação de centrais de produção de energia para autoconsumo, não tem em conta a realidade e uma perspetiva de médio prazo”, defendeu o diretor-geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier, em resposta escrita à Lusa.
Para a associação, “a resposta à situação de crise energética deve passar sobretudo pela consulta e envolvimento dos diferentes setores de atividade e por iniciativas de duração limitada”.
Lobo Xavier lembrou ainda que, nos últimos 10 anos, as empresas do setor da distribuição implementaram medidas de ecoeficiência que permitiram uma redução até 30% no consumo de eletricidade por metro quadrado (m2) de área de venda.
Já a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que não recebeu, até ao momento, qualquer pedido da Adene para apresentação de propostas, reiterou a necessidade de implementação de um programa que permita aos agricultores produzirem energia renovável para autoconsumo, sendo o excedente introduzido na rede, uma proposta que estava já incluída num documento estratégico apresentado ao Governo, em 2020.
“A proposta prevê que, através de um balanço de consumo anual (ou até mesmo intra-anual, de três anos), e por forma a dar resposta à especificidade da atividade e à sazonalidade dos produtos agrícolas, seja criada uma espécie de “conta corrente”, em que os agricultores vão utilizando os seus respetivos “saldos” energéticos sempre que necessitarem”, explicou à Lusa o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa.
O responsável apontou, no entanto, que a legislação em vigor não permite a implementação efetiva deste tipo de medida, tendo a confederação enviado uma carta ao então ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, a expor a proposta, mas à qual nunca obteve resposta.
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