Afinal não foi só no tempo do ainda Banco Espírito Santo (BES) que foram executadas operações que deram prejuízos para o atual Novo Banco. A auditoria especial feita ao banco pela Deloitte, por encomenda do Ministério das Finanças, também detetou falhas que geraram perdas para o Novo Banco: entre os prejuízos já ocorridos depois da resolução do BES, em agosto de 2014, estão os decorrentes de falhas na análise de risco em créditos concedidos a construtoras; as perdas com estes empréstimos ascendiam a 271,1 milhões de euros no final de 2018. Mas a Deloitte aponta ainda o dedo a outras operações que geraram perdas, incluindo a venda de imóveis a desconto pelo Novo Banco, sem que o banco explicasse os motivos para o preço de venda.
O relatório da auditoria especial feita pela Deloitte foi ontem divulgado no site do Parlamento na sua versão expurgada de dados considerados confidenciais pelo Novo Banco. O relatório, datado de 31 de agosto, foi enviado pelo Novo Banco à Assembleia da República na passada sexta-feira, nesta versão ‘truncada’.
Fundo de Resolução às escuras
O relatório também confirma que o Fundo de Resolução não foi informado sobre o chumbo interno da venda de alguns imóveis. A notícia já tinha sido avançada ontem pelo jornal Público. Em causa, está um negócio que envolveu imóveis no valor de 645 milhões e uma instituição espanhola, que os vendeu. A operação foi chumbada por duas vezes pela direção do Novo Banco responsável pelo cumprimento das boas práticas. Mas o Fundo de Resolução só foi informado sobre a operação dois anos depois.
No relatório ficou ainda a saber-se que o Novo Banco não identificou quais os beneficiários diretos da compra de alguns ativos. “Verificou-se a inexistência de normativos internos para todo o período que regulassem a realização sistemática de uma análise das entidades compradoras que participaram em processos de desinvestimento, de forma a concluir acerca de eventuais riscos de branqueamento de capitais e de conflitos de interesse”, refere o relatório.
“Foram identificados processos de desinvestimento onde esta análise não foi efetuada, como são exemplo a alienação do BESI em 2014 e do BES V em 2018”, destaca. A generalidade das operações de venda de participações de entidades financeiras tiveram como compradores sociedades gestoras de fundos de investimento internacionais. A justificação dada nos pareceres preparados pela direção de Compliance do banco é de se tratarem de entidades com uma estrutura “complexa”. Uma das operações que tem levantado dúvidas sobre o comprador último prende-se com a venda da seguradora GNB Vida, vendida em 2018.
Centeno chamado para ir ao Parlamento
Os deputados aprovaram ontem em sede de Comissão de Orçamento e Finanças uma audição com caráter de urgência de Mário Centeno, o anterior ministro das Finanças e atual governador do Banco de Portugal. Também João Leão, que sucedeu a Centeno na pasta das Finanças, será ouvido na mesma Comissão sobre o mesmo tema. Os deputados também vão chamar responsáveis do Fundo de Resolução e do Banco de Portugal.
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