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Os últimos resultados das companhias de aviação deixam poucas margens para dúvidas: os prejuízos são avultados. Nesta altura, é impossível afirmar com certezas quando é o setor vai regressar aos níveis de 2019 – há entidades que apontam o ano de 2024 – que permite especular que os próximos trimestres vão ser, para todas as companhias, no mínimo difíceis.
A maioria das transportadoras europeias recebeu Ajudas de Estado, embora com contornos diferentes entre elas, o que lhes permitiu driblar a tempestade para que a pandemia de covid-19 as arrastou. Além do impacto financeiro, ao nível do emprego a situação não é menos penosa: os anúncios de redução de pessoal sucedem-se.
A gigante Lufthansa, que recebeu um empréstimo de Berlim na casa dos nove mil milhões de euros, registou prejuízos de 1,26 mil milhões de euros no terceiro trimestre, ainda assim melhor que o previsto pelos analistas. Mas a empresa, a 20 de outubro, foi clara na mensagem que enviou ao mercado: se o trimestre do verão foi melhor que o esperado, graças a uma subida da procura, o inverno vai ser mais difícil. Poucos dias depois, a 25 de outubro, a Reuters noticiava que o grupo Lufthansa (além da companhia de bandeira tem também a Eurowings, Swiss Air, Austrian e Brussels Airlines) prepara-se para nas próximas semanas deixar em terra mais aviões do que o anteriormente previsto. Com a Europa a regressar aos confinamentos – ainda que diferentes dos da primavera em muitos casos – o grupo vai deixar em terra mais 125 aeronaves. O pessoal administrativo da companhia está inserido nos mecanismos aplicados por Berlim para reduções de horário. Além disso, estão em curso negociações com os sindicatos para proceder a reduções de recursos humanos.
Com a Air France-KLM a situação não é muito diferente. Os prejuízos do último trimestre ascenderam a 1,67 mil milhões de euros. O grupo, escreveu o Market Watch, antecipa uma descida das receitas no quarto trimestre, isto numa altura em que a França está em situação de confinamento e os Países Baixos aplicaram igualmente medidas restritivas (confinamento parcial). “Após o confinamento, o grupo registou uma tendência de recuperação positiva da procura até meados de agosto”, indicou o grupo, citado por este órgão de informação. “Depois, a tendência negativa na atividade dos passageiros levou as companhias aéreas do grupo a ajustarem em baixa a capacidade prevista para o outono e inverno”.
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Tal como o grupo germânico, a liderança da Air France-KLM tem em curso negociações com os representantes dos trabalhadores para cortar postos de trabalho. A imprensa tem avançado que nos planos de corte de custos, que as companhias aceitaram implementar a troco das Ajudas de Estado, está previsto que a KLM diminua o número de trabalhadores efetivos em 5.000 até ao final deste ano e a Air France em 4.000 até ao final do ano e 8.500 até 2022.
Paris concedeu um empréstimo de sete mil milhões de euros à Air France. Haia, por sua vez, concedeu ajudas de 3,4 mil milhões de euros. Mas, e de acordo com o Le Monde neste fim de semana, o sindicato de pilotos da KLM não aceita o congelamento salarial que o governo holandês inscreveu como condições para a ajuda. Perante este braço-de-ferro, as autoridades bloquearam o pagamento das tranches do empréstimo que ainda não foram desembolsadas.
No Reino Unido, a situação não é melhor. Devido ao elevado número de infeções por covid-19, o Executivo de Boris Johnson decretou um novo confinamento para várias regiões e as viagens que não sejam de trabalho não estão autorizadas pelo menos até ao início de dezembro, deixando as companhias aéreas com mais uma dor de cabeça. A EasyJet, a segunda maior transportadora low-cost da Europa, de acordo com a Bloomberg, vai operar os voos previstos até quinta-feira. A companhia admite que grande parte a operação prevista para o Reino Unido “vai ser cancelada durante o confinamento com os nossos voos previstos a regressarem no início de dezembro”. A gigante British Airways está a avaliar a situação e garante que vai manter os passageiros informados.
TAP. Reestruturação à vista
A TAP também recebeu uma Ajuda de Estado no valor de 1.200 milhões de euros. As condições exigidas por Bruxelas não foram as mesmas que aplicadas a transportadoras como a Lufthansa. Em causa estava a situação financeira das companhias aéreas a 31 de dezembro de 2019.
A companhia aérea portuguesa, que atualmente tem o Estado como o principal acionista e a quem cabe a gestão da companhia, tem de fazer chegar a Bruxelas até 10 de dezembro um plano de reestruturação. E, apesar de ainda não serem conhecidos detalhes, o número de funcionários, rotas e aviões vai diminuir.
O plano de tesouraria da TAP para este ano indica que a empresa tem necessitado de 100 milhões de euros, em média, por mês, para fazer face às necessidades de liquidez, de acordo com o Observador. Através do mesmo é ainda possível perceber que, o ritmo das necessidades de financiamento da TAP vai esgotar praticamente na totalidade o empréstimo (Ajuda de Estado) concedida pelo governo.
O Orçamento de Estado, aprovado na generalidade, admite já que a Ajuda de Estado de 1.200 milhões de euros, deverá ser utilizar na totalidade em 2020, e por isso para 2021 “à cautela” prevê a concessão de garantias de 500 milhões de euros para ajudar à liquidez da empresa.
O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, esteve no Parlamento no passado dia 15 de outubro, e admitiu que já saíram do grupo TAP 1200 trabalhadores. Mais 400 pessoas devem deixar o grupo (TAP, TAPGER Sociedade de Gestão e Serviços, S.A., Portugália, Aeropar Participações – 99,83% -, TAP Manutenção e Engenharia Brasil, S.A. – 78,72% – e GroundForce -43,9% ) até ao final do ano. “No total do grupo, neste momento, saíram 1200 e prevê-se que saiam 1600 até ao final do ano. Mas estamos a falar no grupo”, disse Pedro Nuno Santos, na Comissão de Economia, no parlamento.
Entretanto, o sindicato que representa os tripulantes defende que os trabalhadores da TAP não estão a ser ouvidas no âmbito do processo de reestruturação. Para responder a isto, decidiu criar uma equipa de trabalho multidisciplinar.
“A Direção do SNPVAC sempre assumiu que está disponível para colaborar no processo de reestruturação da TAP de forma responsável, na defesa da nossa companhia e da manutenção dos postos de trabalho. Não podemos aceitar que este processo de reestruturação nos seja apresentado como um facto consumado, sem antes serem ouvidas as estruturas representativas dos trabalhadores, nomeadamente o SNPVAC”, pode ler-se no comunicado que o sindicato que representa os tripulantes enviou aos associados da TAP, a que o Dinheiro Vivo teve acesso.
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