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O próximo ano adivinha-se um ano difícil. Esse foi, talvez, o principal elemento aglutinador na Money Conference, organizada pelo Dinheiro Vivo, DN e TSF. Fernando Medina, ministro das Finanças, alertou para o facto de que as subidas das taxas de juro pelo Banco Central Europeu vão também marcar 2023. O ministro afirmou mesmo que a banca terá de “enfrentar o processo da subida das taxas de juro, que poderá ser vista como um processo de normalização da política monetária”.
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Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, por seu lado, alertou que deveremos assistir a um “abrandamento das economias” e que se prevê, mesmo, que países como a Alemanha e a Itália possa entrar em recessão. Ao que Medina acrescentou que “teremos inflação elevada, durando um maior período”, ainda que as análises apontem para valores “mais reduzidos do que os atuais”.
O administrador do Banco de Portugal explicou que o aumento generalizado das taxas de juro traduz-se em condições de financiamento mais desfavoráveis. “Este é um contexto adverso e estamos ainda a lidar com o impacto da pandemia”, sublinhou. Além disso, a “confiança pode deteriorar-se ainda mais se as condições do lado das ofertas continuem a deteriorar-se”.
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Ainda no que ao futuro diz respeito o ministro das Finanças alertou para o facto de o país permanecer sujeito a um “contexto externo” que lhe é imposto: “Seremos confrontados com desafios sob os quais não temos qualquer responsabilidade”, disse. A guerra na Ucrânia, que dura desde 24 de fevereiro, continuará a marcar a agenda e reinará a “total incerteza sobre quando e em que condições o conflito termina”. Restará “normalizar os preços da energia” e assumir que os seus sucessivos aumentos são de caráter estrutural, mas manter a esperança no movimento europeu para autonomização energética.
A banca como garante da estabilidade da economia
Relembrando crises anteriores, a opinião foi a de que a “banca foi e tem sido um dos fatores fundamentais para a estabilidade de Portugal”. A afirmação foi proferida por João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, e confirmada por outros banqueiros presentes na conferência. Um dos exemplos dados foi precisamente o apoio facultado pela banca durante a covid-19, que não só foi uma mostra da resiliência do setor como assegurou famílias e economia. Pedro Oliveira e Costa afirmou mesmo que a banca hoje é um fator de desenvolvimento. Basta olhar para os indicadores, em termos de capital, por exemplo, para se notar a solidez da banca portuguesa.
Miguel Belo de Carvalho, administrador do Santander, por seu lado, relembrou a importância das moratórias. “Duraram o tempo certo e não prejudicaram a carteira de clientes”, afirmou.
Um apoio à economia que, na opinião de Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, se irá manter. Segundo o gestor, os bancos serão parte da solução na crise que se avizinha. “É um caminho longo que não começou agora [de resposta aos desafios da economia]. Desde 2008 que temos tido desafios atrás de desafios”, assinalou o CCO do Novo Banco, que acrescentou que “todos os bancos farão parte da solução, mas o Novo Banco fará parte da solução e tem hoje a sua atividade estritamente [focada] em Portugal”.
Na mesma linha, Pedro Leitão, CEO do Montepio, garantiu que o banco está preparado para apoiar os clientes a enfrentar eventuais dificuldades sentidas com a subida dos custos com empréstimos.
“No caso do crédito à habitação, não deixaremos de dar apoio a mais ou a menos um cliente pelo facto de termos ou não o diploma”, disse Pedro Leitão em referência à clarificação que tem sido pedida ao governo sobre as formas de suporte às famílias. “Estou certo de que não há nenhum banco que deixará de apoiar um cliente pelo facto de termos alguma clarificação adicional ao diploma”, reforçou.
“Bancos não querem ficar com as casas”
Questionado sobre a obrigação de renegociar os créditos, Miguel Belo de Carvalho considerou que esta é uma “medida importante”, que vem reforçar “a que já estava em vigor desde 2012”, e a qual “os bancos têm vindo a aplicar nos últimos dez anos, de uma forma permanente, sempre que se justifica”.
Já Miguel Maya, CEO do Millennium BCP, acrescentou que “os bancos não querem ficar com as casas de ninguém porque senão ficam sem crédito”. E alertou para o facto de estarem a colocar nos bancos, que apoiam a economia e a habitação, o ónus dos bancos que não o fazem.
O CEO do BCP aproveitou e lançou para cima da mesa o tema das taxas de juro. Para o banqueiro, as mesmas ainda não estão no patamar adequado. O que aconteceu foi que “tiveram foi um crescimento muito acentuado”.
Miguel Maya alertou ainda para o facto de os resultados dos bancos ainda estarem abaixo do custo de capital. “Estamos finalmente a conseguir caminhar para um patamar minimamente sustentável”, apontou, afirmando que “não é possível ter uma banca robusta sem ter uma economia robusta”. E é por isso mesmo que o CEO do BCP não vê “nenhum racional para as comissões descerem”. Isto porque as mesmas têm um serviço subjacente que, por seu lado, tem um custo associado. E o valor das comissões é precisamente calculado tendo por base o custo desse serviço.
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