O ano de 2019 trouxe mais polémicas, multas e escândalos ao setor da banca e também um acelerar da revolução digital. Mas o ano também trouxe lucros e dividendos e menos crédito malparado.
No setor da banca em Portugal, o ano fica marcado pelas revelações que saíram da segunda Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos, que terminou em julho. Ficou a saber-se que o banco estatal perdeu 1.300 milhões de euros com créditos ruinosos de grandes devedores, como o empresário madeirense, José Berardo. O caso da atribuição dos créditos está nas mãos do Ministério Público, que acredita em alegada gestão danosa na CGD.
Tanto a CGD como outros bancos, incluindo o Novo Banco e o Millennium bcp, ainda se veem a braços com créditos concedidos no passado que geraram elevadas perdas para os bancos.
O ano de 2019 marca a ainda o regresso ao pagamento de dividendos pela CGD e pelo BCP. No caso do banco público, que foi recapitalizado em cerca de 5.000 milhões de euros, entregou este ano 200 milhões de euros ao Estado relativos ao exercício de 2018. Já os acionistas do BCP, receberam 30,1 milhões de euros em dividendos, ou 0,2 cêntimos por cada ação.
Ainda em matéria de dividendos, o Banco de Portugal entregou ao Estado um valor recorde de 645 milhões de euros, mais 120 milhões de euros do que no ano de 2018.
O Novo Banco voltou a precisar de injeções de capital do Estado, desta vez de 1.149 milhões de euros, o correspondente a 0,5% da riqueza produzida no país. O Parlamento vai ouvir com urgência o presidente do Fundo de Resolução.
Também este ano, 14 bancos em Portugal foram multados em 225 milhões de euros pela Autoridade da Concorrência por alegada cartelização envolvendo produtos de crédito. A nível mundial, 2019 foi mais um ano em que foram aplicadas multas a bancos devido a práticas ilegais. Na Europa, destaque para a multa de 1,07 mil milhões de euros aplicada a cinco bancos pela Comissão Europeia por combinação de preços no mercado cambial.
Em Portugal, o setor continuou a reduzir a sua exposição a carteiras de crédito malparado. No primeiro semestre deste ano, os bancos desfizeram-se de quase 2700 milhões de empréstimos em incumprimento.
O setor prosseguiu com o corte de custos, com a saída de trabalhadores. Só a CGD cortou 254 postos de trabalho e encerrou 12 balcões. A nível mundial, o setor perdeu este ano 75 mil trabalhadores, o maior corte dos últimos quatro anos, segundo contas da Bloomberg.
O Banco Central Europeu voltou a cortar as taxas de juro e relançou um programa de estímulos ao crescimento económico. A taxa de depósitos foi reduzida em 10 pontos base para um valor ainda mais negativo, de -0,5%. Aumentou assim a pressão sobre a margem dos bancos. Para compensar, em Portugal, bancos passaram a cobrar por depósitos de entidades financeiras.
O ano de 2019 fica ainda marcado pelo aumento das comissões cobradas pelos bancos – nomeadamente, a cobrança pelo serviço MB Way – e os recordes registados no crédito à habitação e ao consumo, de 10 anos e 15 anos, respetivamente.
A entrada em vigor de novas regras de pagamentos – decorrentes de uma diretiva europeia, a PSD2 – é outro marco no setor, com a ascensão de empresas como a britânica Revolut e a N26 em termos de captação de clientes, incluindo portugueses.
A fechar o ano, efetivou-se a saída de António Tomás Correia da liderança da Associação Mutualista Montepio Geral, dona do Banco Montepio, depois de muitas polémicas.
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