Guardar dinheiro no banco já só rende 0,1% a um ano. Portugal é o terceiro país da Zona Euro onda a remuneração dos depósitos é mais baixa. Com a taxa de juro perto de 0% e as comissões a subirem, há quem comece a pagar para ter o dinheiro nos cofres dos bancos.
Pagar para ter o dinheiro no banco. É o que começa a acontecer a muitas famílias portuguesas que têm as suas poupanças em depósitos a prazo. A taxa de juro dos novos depósitos constituídos em agosto atingiu um mínimo histórico: 0,1%, de acordo com os dados do Banco de Portugal. E, com o crescente aumento das comissões, há mesmo quem não tire nenhuma remuneração dos seus depósitos, ficando ainda a perder dinheiro.
“Em Portugal, os depósitos não podem ter taxa de juro negativa porque o Banco de Portugal não permite”, explica António Ribeiro, economista da Deco. “Mas na prática é o que já acontece em muitas situações. Quando existe uma comissão de manutenção da conta – por exemplo 60 euros por ano, como na Caixa Geral de Depósitos – dificilmente um montante de cinco ou dez mil euros consegue superar esse custo em juros”.
Portugal é o terceiro país da Zona Euro onde a taxa de juro dos depósitos a um ano é mais baixa. No fundo da tabela está a Espanha (0,03%) e a Irlanda (0,04%), segundo os dados recolhidos pela ComparaJá.pt. A oferta mais atrativa encontra-se na Holanda, onde a banca oferece uma taxa de juro de 1,29% para depósitos a um ano. Perto de 1% estão ainda a França e a Estónia.
Para depósitos com um prazo entre um e dois anos, a banca portuguesa continua a ocupar a terceira posição com uma taxa de juro de 0,19%, só à frente da Espanha e do Luxemburgo. No que toca a prazos superiores a dois anos, Portugal avança para o segundo lugar no top menos, com os juros dos depósitos a renderem apenas 0,14%; a banca espanhola continua a ser a que pior remunera os depósitos das famílias, da Zona Euro.
Os bancos têm descido os juros dos depósito para tentar compensar a pressão sobre as margens de lucro provocada pela queda das taxas para valores negativos.
“E com as taxas de juro do Banco Central Europeu a manterem-se a este nível ou a descerem ainda mais e as comissões bancárias a subirem, mesmo que ligeiramente, a situação tende a agravar-se”, salienta António Ribeiro.
Em setembro, o BCE desceu a taxa dos depósitos bancários de -0,4% para -0,5%, reforçando o valor que a banca paga para aí aplicar o seu excesso de liquidez – isto é, o dinheiro que não emprestam -, mas introduziu um sistema de dois escalões, permitindo que uma parte do excesso de liquidez do setor fique isento deste custo. A medida deverá poupar milhões aos bancos portugueses. O sistema de escalões, que varia consoante os montantes que os bancos da Zona Euro depositam no BCE, vai entrar em vigor a 30 de outubro.
“Ao escalonar a taxa de depósito, na prática isentando os bancos de pagar os -0,5% por depósitos até seis vezes o valor das reservas, deixa de haver um argumento financeiro tão premente para a banca”, indica Filipe Garcia, analista da Informação de Mercados Financeiros (IMF). Mas a realidade é que “o comissionamento deverá ser cada vez mais pesado, levando os clientes a concentrarem a sua relação com menos bancos ou mesmo aderindo a projetos alternativos de banca e sistemas de pagamentos”.
“Com as remunerações a mínimos recorde, o que tem acontecido é que nos últimos cinco anos, os depósitos à ordem aumentaram 93% e os montantes aplicados a prazo diminuíram 12%. Não compensa estar a colocar o dinheiro em depósitos a prazo, quando os depósitos à ordem rendem o mesmo”, indica o economista da Deco. E salienta um fator adicional: a inflação. A inflação prevista pelo Banco de Portugal para o próximo ano é de 1,2%. “Se nós pouparmos, o valor do nosso dinheiro vai ser muito baixo comparativamente com o nível de vida. O valor das nossas poupanças vai diminuir”, alerta António Ribeiro.
Ainda assim, o economista continua a aconselhar o recurso a depósitos para parte das poupanças. Em agosto, os depósitos de particulares nos bancos portugueses totalizavam 148,2 mil milhões de euros. “As pessoas têm sempre de ter algum dinheiro naquilo a que chamamos de fundo de emergência ou fundo de maneio que é necessário ter em depósitos, produtos com alguma liquidez para os imprevistos. Portanto, nesse caso deve-se procurar as melhores taxas de juro do mercado”. Nesta altura, as taxas de juro a um ano variam entre 0,1% e 0,8% líquidas. Nenhuma delas consegue superar a inflação prevista. Quanto às restantes poupanças, António Ribeiro sugere canalizá-las para produtos financeiros de médio ou longo prazo, “sejam eles com ou sem capital garantido”, dependendo do montante disponível de cada pessoa.
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