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As famílias e as empresas mais vulneráveis incorrem num maior risco de incumprimento dos empréstimos, provocado pelo sucessivo aumento das taxas de juro, alerta o Banco de Portugal (BdP) no seu mais recente Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado esta quarta-feira.
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Do lado das famílias, o BdP adverte para o potencial risco de incumprimento, sobretudo no crédito à habitação, “devido à inflação elevada, à subida das taxas de juro de curto prazo e a um potencial agravamento da taxa de desemprego”, recordando que a “preponderância da taxa de juro variável no stock de empréstimos à habitação (90%) leva a que a subida das taxas de juro de curto prazo se traduza num aumento relativamente rápido e significativo dos encargos com a dívida”.
Já no caso das empresas, “apesar da evidência recente de resiliência do setor, um contexto económico e financeiro mais desfavorável, caracterizado por menor crescimento económico e taxas de juro mais elevadas, poderá aumentar a percentagem de empresas vulneráveis”, pode ler-se no relatório.
Não obstante o quadro de risco, existem fatores “mitigantes”, aponta a instituição liderada por Mário Centeno. Entre eles, a redução do rácio de endividamento dos particulares, a concentração do crédito à habitação em famílias de rendimentos mais elevados, a melhoria do perfil de risco dos novos mutuários, o baixo nível de desemprego, a poupança acumulada durante a pandemia e as medidas governamentais de apoio às famílias.
As empresas, por seu turno, “têm conseguido preservar as suas margens comerciais e a capacidade de geração interna de capital, refletindo uma melhoria dos indicadores de rendibilidade e autonomia financeira”.
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Riscos mantêm-se elevados
Os riscos para a estabilidade financeira mantêm-se elevados, em resultado das tensões geopolíticas, da inflação e da turbulência nos mercados financeiros, revela o relatório do supervisor.
Face à turbulência nos mercados financeiros internacionais, espoletada por desenvolvimentos recentes em bancos norte-americanos e suíços, embora reflita “fragilidades idiossincráticas, os eventos nessas instituições suscitaram um quadro geral de incerteza”, que poderá dar origem a “efeitos de contágio entre os ciclos financeiro e económico”, alerta o Banco de Portugal.
“Uma eventual aversão ao risco mais generalizada teria impactos adversos sobre os custos de financiamento, a valorização dos ativos e a atividade económica”, é destacado. Assim, e tendo em conta esta possibilidade, frisa-se a necessidade de uma “monitorização acrescida por parte das autoridades”.
Entre as principais vulnerabilidades identificadas pela instituição liderada por Mário Centeno, inclui-se “a materialização dos riscos de mercado e de crédito no setor bancário, refletindo a interação entre uma evolução mais adversa das variáveis do cenário macrofinanceiro e as vulnerabilidades dos setores de contrapartida”.
Também o mercado imobiliário residencial poderá conhecer um possível arrefecimento, com impacto sobre os preços e sobre o valor do colateral de créditos garantidos por imóveis. Diz o BdP que o contexto de subida das taxas de juro “deverá contribuir para a desaceleração dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal”.
Por fim, a análise adverte para uma trajetória menos favorável do rácio da dívida pública: “Os principais riscos associados a este processo derivam de um enquadramento económico e financeiro potencialmente mais adverso, com menor crescimento económico e inflação mais persistente, que motive uma reação mais intensa e duradoura das autoridades monetárias por via de taxas de juro mais elevadas”.
Perante os desafios e os riscos identificados, o supervisor diz esperar que os bancos “aproveitem a melhoria do contexto económico e financeiro para adequar as condições dos empréstimos à capacidade de pagamento dos clientes” e que, por outro lado, “mantenham políticas prudentes de constituição de imparidades e de conservação de capital, que permitam aumentar a sua capacidade de absorver perdas e de financiar a economia”.
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