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Os bancos preparam-se para um aumento do crédito malparado. O Banco de Portugal prevê que o nível de incumprimento nos empréstimos vá subir com a chegada do fim das moratórias no crédito. Até agora, a medida que permite a suspensão do pagamento das prestações do crédito de empresas e no crédito à habitação tem servido como um dique que evita que suba o malparado na banca. Mas a situação deverá mudar com o fim da vigência das moratórias, dentro de três meses.
No caso das famílias, o desemprego é visto como a maior ameaça a que consigam retomar o pagamento das prestações ao banco, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira divulgado ontem pelo Banco de Portugal. Cerca de 18% do crédito à habitação abrangido por moratória estava em risco de incumprimento no final de abril deste ano. Nas empresas, metade do crédito em risco de incumprimento encontrava-se abrangido por moratória no final de dezembro. Perante a situação, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, pediu ontem medidas de apoio, com a chegada do fim das moratórias, para os setores mais vulneráveis, como os do alojamento e da restauração.
Segundo o documento, “os efeitos adversos” sobre as famílias e as empresas da crise provocada pelas medidas adotadas no âmbito da epidemia “começaram a refletir-se em alguns indicadores de qualidade de ativos do sistema bancário” português. “O montante bruto de empréstimos em stage 2 (em risco de incumprimento) aumentou 15,5% em 2020, sobretudo no quarto trimestre de 2020″, refere o relatório. No caso das empresas, o aumento foi de 43,8% no segmento. Nas empresas, “cerca de metade dos empréstimos em stage estava em moratória”, destaca. Adianta que “o rácio de empréstimos em moratória classificados em stage 2 aumentou para 25% no último trimestre de 2020, situando-se bastante acima do rácio correspondente para a totalidade dos empréstimos”. No total, o rácio de crédito malparado “bruto dos empréstimos em moratória situou-se em 7,2%”, sendo de 10,6% para o caso das empresas.
“As instituições financeiras deverão continuar a monitorizar o risco de crédito das empresas, em particular no crédito em moratória”, alerta o documento do supervisor. Que avisa ainda que “o fim da moratória pública em setembro de 2021 irá implicar a reposição do serviço de dívida dos particulares, sendo de esperar a materialização de incumprimento por parte de alguns mutuários, designadamente os que tenham tido quebras significativas no seu rendimento”. O supervisor refere que , em abril último, 12,1% dos empréstimos a particulares estavam em moratória, o que correspondia a 15,1 mil milhões de euros, 88% dos quais em empréstimos à habitação.
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No caso do crédito ao consumo, a moratória privada da Associação de Instituições de Crédito Especializado terminou ainda em 2020 e “observou-se maior incidência de incumprimento recente nos contratos que beneficiaram de moratória do que nos contratos que não recorreram a moratória, 8,5% e 3,6%, respetivamente”. No caso da moratória da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que terminou em março, relativa ao crédito hipotecário, “traduziu-se na retoma dos planos de reembolsos para um volume de crédito de 3,7 mil milhões de euros – cerca de 4% do total do crédito à habitação”. Mas “o tempo decorrido desde o fim desta moratória é ainda limitado para uma análise do seu impacto em termos de materialização do risco de crédito, limitação à qual acresce a particularidade de os mutuários terem tido, até dezembro de 2020, a possibilidade de transitar para a moratória pública”. “A informação disponível até à data de publicação deste relatório, aponta para incremento muito residual do incumprimento”, ressalva. Diz ainda que “apenas 0,5% do montante dos contratos de crédito hipotecário que foram abrangidos pela moratória da APB registou crédito vencido em pelo menos um mês entre a data de saída de moratória (que pode ser igual ou anterior à data de término) e final de abril de 2021”.
Segundo o relatório, ” em março de 2021, a percentagem de crédito à habitação que ainda se encontra em moratória (pública) e classificado em stage 2 ascendia a cerca de 18%”. Das famílias “que beneficiaram desta moratória, cerca de 15% beneficiam ainda de moratórias no crédito ao consumo, moratória privada que termina em junho, e no crédito à habitação, moratória pública que termina em setembro”. Segundo o relatório, “apesar desta primeira evidência de materialização, embora contida, do risco de crédito”, muitas famílias continuam a moratória no crédito hipotecário”.
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