Banco de Portugal está mais pessimista, revê em baixa crescimento e apela à manutenção da descida da dívida
Dias antes da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, Mário Centeno corta as previsões de crescimento da economia para este ano e o próximo.
O Boletim Económico de outubro corrige o crescimento este ano, de 2% para 1,6%. Para 2025 passou de 2,3% para 2,1%.
As novas previsões representam uma revisão em baixa de 0,4 e 0,2 pontos percentuais para este ano e o próximo, respectivamente.
Apenas a OCDE é tão pessimista como o Banco de Portugal para este ano. O Governo indicou aos partidos que espera uma evolução do PIB em torno dos 2%, a Comissão Europeia prevê uma expansão de 1,7%, o Conselho das Finanças Públicas de 1,8% e o Fundo Monetário Internacional de 1,9%.
“É o momento de construírem almofadas financeiras”
Esta correção em baixa do crescimento é justificada pelo banco central com o menor contributo do investimento e das exportações, que estão a ser compensados parcialmente pelo consumo privado.
As famílias estão a gastar mais este ano e devem manter o ritmo no próximo, graças a uma evolução mais positiva do rendimento disponível, animado pelo forte desempenho do mercado de trabalho e das medidas políticas, como o aumento das pensões e a redução do IRS.
Este ano o rendimento disponível real das famílias deverá aumentar 6,6%.
No entanto, nos próximos anos “projeta-se um crescimento mais contido do rendimento disponível real (1,9%, em média), refletindo a desaceleração da massa salarial e a dissipação dos efeitos das medidas orçamentais incluídas na projeção, recomendável dada a necessidade de assegurar o equilíbrio das finanças públicas, que tem beneficiado nos últimos anos de elevados excedentes da Segurança Social”.
Perante este cenário, o governador do Banco de Portugal deixou esta terça-feira uma recomendação a famílias, empresas e Estado: “É o momento de todos construírem almofadas financeiras para o futuro”.
Uma recomendação que já seguiu para a banca. O supervisor exigiu aos bancos mais uma almofada financeira (buffer) no balanço a partir de 1 de janeiro de 2026
A taxa de poupança das famílias deverá aumentar para 11,5% este ano (8% em 2023), um valor “historicamente elevado”.
Inflação desce para 2,6%, em 2024. Nos próximos anos, prevê-se estabilidade de preços.
No futuro poderemos vir a pagar a fatura
Segundo o Boletim Económico de outubro a inflação “reduz-se para 2,6%, em 2024, e fixa-se em valores consistentes com a estabilidade de preços nos anos seguintes”.
O mercado de trabalho “continua a evoluir favoravelmente, com aumento do emprego ― de 1,1% em 2024, 0,6% em 2025 e 0,9% em 2026 ― e dos salários reais ― de 4,6% em 2024, 2,2% em 2025 e 2,0% em 2026”.
Mário Centeno antecipa que até 2026 a economia vai manter uma orientação “expansionista”, mas pode vir a ser confrontada com a fatura no futuro.
Por isso o Banco de Portugal apela ao governo para que mantenha uma política orçamental prudente, com a diminuição do rácio da dívida pública ao ritmo dos últimos anos.
Os riscos inerentes a estas projeções são “equilibrados”. Ainda assim, “no futuro próximo, haverá desafios importantes ― associados às transformações tecnológicas, às alterações geopolíticas e à gestão da transição climática”, avisa o Banco de Portugal.
Deixe um comentário