A mensagem ouviu-se ainda há semanas em Sintra, no último Fórum do Banco Central Europeu, e é este domingo retomada no relatório anual do Banco Internacional de Pagamentos (BIP), a instituição detida por bancos centrais de todo o mundo. O BIP aponta faróis à névoa de incerteza gerada pelas tensões comerciais e geopolíticas e diz que para alcançar céus mais limpos não vão chegar os instrumentos de política monetária.
“O avião não pode voar com um motor apenas; é preciso ligar os quatro motores. O desempenho económico continua a depender do apoio extraordinário dos bancos centrais, mesmo com um crescimento global que ainda é saudável”, afirmou este domingo Agustín Carstens, diretor geral, na apresentação do relatório anual da instituição em Basileia, Suíça. “Precisamos de um melhor equilíbrio entre política monetária, política orçamental, políticas macroprudenciais, e reformas estruturais”, defendeu.
A mensagem passa num momento em que os mercados antecipam um corte de juros ainda este ano pela Reserva Federal dos Estados Unidos, muito embora a última reunião da Fed não tenha desenhado tal trajeto, e quando Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, prometeu retomar estímulos monetários num cenário de maior abrandamento – incluindo descidas nos juros de depósitos e a eventual retoma das compras líquidas de ativos pela instituição.
O Banco Internacional de Pagamentos diz, no entanto, que a política monetária não pode ser o único motor a contrariar os riscos globais. “Navegar para céus mais limpos significa equilibrar velocidade e estabilidade e reservar algum combustível para lidar com possíveis ventos contrários”, diz a instituição, aludindo à margem dos bancos centrais para responderem a crises num período de juros negativos.
Recentemente, o antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, falou no mesmo tom numa entrevista concedida em Portugal à agência Lusa. O economista francês, agora ao serviço do Peterson Institute for International Economics, defendeu que os países devem aproveitar os atuais custos baixos de endividamento para investirem e considerou que sobram na política monetária do euro poucas “munições” para atuar.
O BIP resume os riscos à vista. Incluem as tensões comerciais entre EUA e China, assim como União Europeia e outros parceiros, mas também margens mais reduzidas nos bancos e os processos de desalavancagem em curso em algumas economias emergentes, como a China, que têm contribuído para abrandar a procura com efeitos globais. Além disso, persistem os ricos de um elevado endividamento empresarial.
Por outro lado, aponta alguns elementos positivos: “a resiliência das indústrias de serviços e mercados laborais fortes” capazes de apoiar o crescimento no curto prazo.
Sobre a combinação necessária de motores para seguir em frente, o Banco Internacional de Pagamentos dá como exemplo os casos de economias emergentes que agiram para conter fuga de capitais e a instabilidade cambial usando quer a política monetária, quer a intervenção cambial ou reformas na supervisão para manter a inflação estável.
“Este tipo de política multi-instrumental não está muito bem ancorado do ponto de vista conceptual. A prática política monetária das economias emergentes tem avançado à frente da teoria. A teoria tem que acompanhar”, defende no relatório Claudio Borio, chefe do departamento monetário e económico da instituição.
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