//Bancos cortam 2700 milhões no malparado

Bancos cortam 2700 milhões no malparado

Em termos de vendas de malparado, os bancos portugueses poderão cortar este ano 5.150 milhões de euros.

A valorização dos preços dos imóveis em Portugal tem ajudado os bancos a vender as suas carteiras de créditos tóxicos. No primeiro semestre deste ano, os bancos desfizeram-se de quase 2700 milhões de de crédito malparado. O montante inclui vendas, recuperações e abatimentos ao ativo (write-offs). O valor abrange a redução de malparado pelos bancos que já divulgaram os seus resultados do primeiro semestre – Caixa Geral de Depósitos (CGD), Novo Banco, Millennium bcp, Banco BPI e Santander – e também o Montepio, que vendeu uma carteira de 321 milhões de euros já este ano.

No final de junho, cinco dos maiores bancos do mercado português tinham 17.500 milhões de euros em crédito não produtivo, menos 2.380 milhões de euros do que no final de 2018.

Face à carteira de crédito total, os bancos reduziram o peso do malparado para entre os 4% e os 7,3%, com o Novo Banco a destacar-se com um rácio de malparado de 21%.

“A economia portuguesa tem atravessado um bom período, que se faz sentir na redução do prémio de risco do país, no maior dinamismo do mercado imobiliário, nos menores níveis de incumprimentos e melhores níveis de recuperação dos valores dos créditos colateralizados em recuperação”, afirmou Mário Carvalho Fernandes, diretor de Investimentos do Banco Carregosa. “Estes factos associados ao emagrecimento das estruturas de custos, que os bancos nacionais realizaram nos últimos anos, contribuem para a tendência da recuperação generalizada dos níveis de lucros”, frisou.

A somar aos montantes que já saíram dos balanços dos bancos no primeiro semestre, o Novo Banco anunciou ontem que acordou a venda de quase 800 milhões de euros de crédito malparado. O banco – que duplicou os seus prejuízos nos primeiros seis meses de 2019, para 400 milhões de euros – espera ter as operações ontem anunciadas concluídas no até ao final do ano. Em causa está a venda da carteira ‘Projeto Albatroz’, com um valor contabílistico de 308 milhões de euros, à Waterfall Asset Management e a carteira ‘Projeto Sertorius’, avaliada em 487,8 milhões de euros, à Cerberus Capital Management.

A agência Bloomberg noticiou em julho que o banco liderado por António Ramalho preparava a venda de carteiras de malparado da ordem dos 3.500 euros.

A CGD prevê vender mais 800 milhões de euros de malparado, eventualmente até ao final de setembro, disse Paulo Macedo, presidente executivo do banco público na apresentação dos resultados semestrais.

O BPI também anunciou na sua apresentação das contas do primeiro semestre que vai alienar créditos tóxicos no valor de 200 milhões de euros até ao final deste ano.

Tudo somado, os bancos poderão vender em 2019 cerca de de 5150 milhões de euros em crédito tóxico. Em 2018, os bancos venderam 5719 milhões de euros em malparado, segundo contas da agência Lusa.

“O nosso sistema bancário está muito melhor, são evidentes as melhorias registadas em todos os domínios, do capital e da liquidez à qualidade dos ativos, da governance e da ética bancária ao ajustamento dos modelos de negócio à era da digitalização e da sustentabilidade e agora também já em termos de rentabilidade, embora esta permaneça abaixo do custo de capital”, disse Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, ao DV. “Mesmo num quadro de política monetária acomodatícia e pressionante para os bancos, confiamos na continuidade deste trabalho meritório que os nossos associados vêm desenvolvendo”, adiantou.

A venda de créditos não produtivos é necessária para que os bancos tenham um balanço mais saudável. Mas, os bancos podem registar perdas, se as carteiras forem vendidas com desconto. Para os fundos e entidades financeiras que compram este tipo de crédito, o negócio é uma alternativa para obter lucro devido ao à conjuntura de taxas de juro baixas e falta de ativos que possam gerar rendimento atrativo.

BE critica nova injeção no Novo Banco

A coordenadora do Bloco de Esquerda criticou ontem a nova injeção de capital que o Novo Banco terá de pedir ao Fundo de Resolução. O Novo Banco anunciou, no seu comunicado com os resultados semestrais, divulgados na passada sexta-feira, que terá de pedir, pelo menos, mais 541 milhões de euros ao Fundo de Resolução.

“Estamos a por dinheiro público num banco privado, que foi entregue a um fundo abutre e que fará o máximo dinheiro no mínimo tempo possível, deixando a fatura para os contribuintes portugueses”, afirmou Catarina Martins em declarações aos jornalistas no Porto, citada pela agência Lusa. A coordenadora do BE considera estar em causa uma “situação inaceitável” que demonstra a necessidade de “outras regras para a banca e para as resoluções”.

O banco, que ficou com parte dos ativos do antigo BES – alvo de resolução em 2014 – explica que, nos primeiros seis meses de 2019, “registou perdas relacionadas com o processo de restruturação e desalavancagem de ativos não produtivos, designadamente o projeto Sertorius [imóveis], o projeto Albatroz em Espanha e o processo de venda da GNB Vida, cujo impacto negativo ascendeu a 340 milhões de euros”.

O Novo Banco passou a ser detido a 75% fundo norte-americano Lone Star, a partir de outubro de 2018, tendo o Fundo de Resolução ficado com os restantes 25%.

No comunicado com os resultados, o banco lembrou que “tem os seus rácios de Common Equity Tier 1 [CET1] e Tier 1 protegidos em níveis predeterminados até aos montantes das perdas já verificadas nos ativos protegidos pelo Mecanismo de Capital Contingente”. “O montante de compensação de capital estimado nas contas do semestre é de 541 milhões de euros”, referia no comunicado. “A compensação do final do ano dependerá das perdas e custos, das recuperações e das exigências de capital em vigor à data”, acrescenta.

No final de junho deste ano, o rácio CET1 do banco foi de 13,5%, acima dos 12,8% registados em dezembro de 2018, e o rácio de solvabilidade total de 15,1%, contra 14,5% no final do ano passado.

Os deputados aprovaram neste mês de julho um projeto de resolução que recomenda ao governo uma auditoria independente ao Novo Banco relativa ao período pós-resolução. A recomendação foi aprovada com os votos contra do PS.

O objetivo da auditoria é perceber melhor os fatores que estão a levar o Novo Banco a pedir de forma contínua injeções de capital ao Fundo de Resolução – que está na esfera do Estado.

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