A saída do rating de Portugal de lixo permitiu atrair mais investidores. Do lado da banca nacional, a ordem foi para acelerar nas compras de dívida pública. O contributo do sistema bancário no financiamento do Estado quase que duplicou em 2018.
No ano passado, o financiamento líquido da administração central, através de títulos como obrigações e bilhetes do Tesouro, foi de quase seis mil milhões de euros; em 2017, tinha sido de 3,2 mil milhões, segundo dados do Banco de Portugal. Há quatro anos que os bancos ajudam no financiamento do Estado. Detêm no seu balanço 32,7 mil milhões de euros.
Apesar da subida do investimento da banca em dívida pública, os valores ainda estão longe do verificado em 2015 e 2016. Nesses anos, os bancos aproveitaram os empréstimos com juro de 0% do Banco Central Europeu (BCE) para investir em obrigações soberanas com juros altos, como era o caso das portuguesas.
Para impedir que esse cenário se repita nas últimas rondas de financiamentos de prazo alargado e nas novas que serão feitas a partir de setembro, o BCE tenta beneficiar os bancos que direcionem esse dinheiro a 0% para empréstimos à economia real.
Mario Draghi reconheceu na conferência de imprensa sobre as decisões de política monetária desta semana que no passado esses financiamentos foram usados para comprar dívida pública. Mas o presidente do BCE diz “querer minimizar” essa possibilidade.
Filipe Garcia sublinha as diferenças entre estas operações direcionadas e as anteriores, que não estavam desenhadas para direcionar a liquidez cedida pelo BCE para as empresas e famílias. Mas sublinha que se houver excedentes de liquidez esses podem ser usados em dívida pública.
O economista da IMF explica o aumento do investimento em dívida do Estado com a interpretação da banca, que está a assumir o risco do seu próprio país. “A aposta em dívida de outro país em maiores dificuldades, como o caso de Itália, é mais difícil de explicar”, explica Filipe Garcia. Salienta que a banca portuguesa tem alguma exposição a Itália.
E a aposta deu frutos, já que a dívida portuguesa tem aumentado o seu valor nos mercados, a que corresponde também uma descida dos juros. O Novo Banco, por exemplo, apresentou um ganho de 30 milhões com operações de dívida pública. E o BCP aproveitou também o bom momento das obrigações portuguesas para aumentar a sua carteira de títulos.
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