Os bancos em Portugal já estavam preocupados com a fatura que o setor terá de pagar com as transferências que o Fundo de Resolução tem feito para o Novo Banco, desde que foi criado, em 2014. Agora, têm outro receio: o do reforço do contágio para o setor da imagem negativa que os últimos desenvolvimentos em torno do Novo Banco pode acarretar.
Mais uma comissão de inquérito, além da investigação por parte do Ministério Público, pode trazer maiores custos e obstáculos a um setor que se prepara para enfrentar uma crise aguda. Por agora, os bancos, as famílias e as empresas têm estado de certa forma protegidos pelas moratórias públicas e privadas para os empréstimos, ainda em vigor. Mas com o aumento do desemprego e do número de falências, quando acabar o prazo das moratórias, os bancos antecipam um tsunami de incumprimento por parte dos clientes.
“Como é possível, numa altura de crise, os partidos que formavam governo na altura da venda do Novo Banco, estarem a fazer um aproveitamento político das perdas que o banco registou”, questionou uma fonte do setor da banca, que pediu para não ser identificada. “Os partidos estão a usar o Novo Banco e a fazer um aproveitamento político da situação, prejudicando todo o setor e a economia, numa altura em que é preciso unir todas as forças para enfrentar a crise que aí vem”, afirmou outra fonte do setor.
A irritação com os partidos segue-se a uma semana quente depois de ter sido divulgado o relatório da auditoria externa que a Deloitte realizou ao Banco Espírito Santo e ao Novo Banco. A análise, feita por encomenda do governo, abrangeu o período entre 2014 – altura da resolução – e 2018. A principal conclusão apontou para a existência de perdas líquidas de 4042 milhões de euros, na maioria relativas ainda ao período do BES.
Algumas dúvidas, porém, continuam por esclarecer, nomeadamente em relação a operações de venda de ativos pelo Novo Banco, incluindo a alienação da GNB Vida, em 2018.
Os partidos saíram em coro a pedir uma investigação ao Novo Banco, com o Bloco de Esquerda a anunciar que quer que seja formada uma Comissão Parlamentar de Inquérito. O Ministério das Finanças, que recebeu o relatório da Deloitte na passada segunda-feira, encaminhou o documento para os reguladores e para a Procuradoria-Geral da República, que investiga ainda ações do tempo do BES.
Contactada, a Associação Portuguesa de Bancos (APB), não quis comentar os últimos desenvolvimentos, mas o presidente, Fernando Faria de Oliveira, mostrou recentemente preocupação em relação à instituição. “Não pode deixar de preocupar o setor no seu conjunto”, lamentou o presidente da APB à Renascença. E frisou que teme que o Novo Banco possa abalar “forte e diretamente os bancos em Portugal”.
O Fundo de Resolução injetou 1848 milhões no NB entre 2014 e 2020 – e a fatura vai subir em 2021.
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