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O Banco Central Europeu (BCE) deve continuar a subir as taxas de juro na sua reunião de quinta-feira e os economistas antecipam um novo aumento de 75 pontos base, apesar do risco de recessão.
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A instituição quer continuar a endurecer as condições de acesso ao crédito para “travar a procura”, explicou no final de setembro, Christine Lagarde, presidente do BCE.
A prioridade é não deixar a inflação “enraizar-se”, segundo Lagarde, depois de os últimos dados apontarem para uma taxa de inflação homóloga de 9,9% em setembro na zona euro, muito longe dos 2% que o BCE fixou como meta.
O BCE já decidiu duas subidas das taxas de juro desde o início do verão, pondo fim a uma década de política monetária expansionista. Em julho começou com um aumento de 50 pontos base e em setembro acelerou para uma subida de 75 pontos base, o mesmo que é esperado agora.
“Esperamos um aumento de 75 pontos base na próxima reunião do Banco Central Europeu em 27 de outubro”, refere Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, numa nota enviada à Lusa, acrescentando, que “desde a última reunião do BCE em setembro, pouco mudou no contexto da inflação”.
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Dixmier considera que “o crescimento está a enfraquecer semana após semana, o que aponta para uma entrada em recessão iminente, ainda que seja difícil avaliar a extensão da desaceleração nesta fase”.
A taxa de juro que se aplica aos depósitos bancários, uma das três taxas diretoras do BCE, durante vários anos em terreno negativo, está atualmente em 0,75% e ficará mais perto de 2%, que é o nível considerado neutro para a atividade.
O BCE continua “muito determinado” quanto à inflação e “fecha os olhos quanto ao risco de recessão”, que considera inevitável em 2023, afirmou Carsten Brzeski, economista da ING, citado pela AFP.
A inflação tende a generalizar-se, “despertou” após uma década de letargia, resumiu o líder do banco central da Alemanha, Joachim Nagel, numa intervenção perante estudantes em Harvard.
Nagel, uma figura conotada com os “falcões”, partidários de uma política monetária restritiva, defendeu que é preciso agir depressa quanto às taxas de juro para “domar” a inflação.
Apesar de Lagarde ter afirmado em setembro que o instrumento mais adequado para travar a inflação é o das taxas de juro, o BCE deve começar também a discutir uma nova etapa, a de redução do seu balanço, que aumentou bastante depois de anos de política anticrise, com sucessivos programas de compra de ativos para manter as taxas de juro baixas e apoiar a economia.
Para Dixmier, “vai ser interessante ouvir a presidente do BCE, Christine Lagarde, sobre a redução do balanço do banco central. De facto, a reunião de governadores deve dar-lhes a oportunidade de começarem a discutir o Quantitative Tightening (QT). Espera-se que Christine Lagarde reafirme que o QT só vai começar após o final do ciclo de alta dos juros sem dar detalhes sobre o ‘timing'”.
Essa política de “aperto quantitativo” não deverá ter lugar antes dos primeiros meses de 2023, consideram outros analistas, tendo em conta os riscos de abalar os mercados financeiros num contexto já muito volátil.
O BCE pode ainda indicar o que pretende fazer quanto aos empréstimos concedidos nos últimos anos aos bancos com prazo alargado e juros muito baixos, às vezes até negativos, para os incitar a conceder crédito.
Agora que sobem as taxas de juro e a taxa de depósitos já não é negativa, os juros que os bancos pagam são inferiores aos que recebem por depositar o excesso de reservas no BCE, o que leva a instituição a estudar alterações nas condições dessas operações.
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