Um dos maiores especialistas mundiais em macroeconomia afirmou esta segunda-feira que o Banco Central Europeu (BCE) merece a maior parte do crédito pela recuperação que a Europa conseguiu alcançar após a crise que viveu.
Mario Draghi, presidente do BCE, está no mesmo patamar que os fundadores da União Europeia, por a ter “salvo”, defendeu ainda Olivier Blanchard, do Peterson Institute for International Economics e antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Há poucas dúvidas de que (o BCE) merece a maior parte do crédito pela longa recuperação da crise”, afirmou o economista francês, no seu discurso no jantar de boas-vindas, que marca o arranque dos trabalhos da sexta edição do Fórum do banco Central Europeu (BCE), em Sintra.
O evento, que junta todos os anos governadores dos bancos centrais, políticos, especialistas e académicos, decorre até quarta-feira sob o tema “20 anos da União Económica e Monetária Europeia”.
É o último Fórum do BCE com Draghi como presidente do banco central. “Suspeito que (Draghi) vai ser colocado no mesmo nível que os pais da Europa, não por a ter criado, mas por a ter salvo, o que é igualmente importante”, afirmou Blanchard, segundo a versão escrita do seu discurso, disponibilizada aos jornalistas.
Draghi não tem ainda sucessor para o cargo que ocupa de presidente do BCE até ao final de outubro. Um colunista da Bloomberg classificou Blanchard como “o melhor candidato para substituir Mario Draghi”, num artigo publicado na semana passada.
Draghi fica na história pela sua afirmação de que o euro seria salvo, “custe o que custar” (whatever it takes em inglês).
Para Blanchard, “por detrás dessas três palavras, esteve muita preparação, e o contributo de Mario é muito mais profundo. Ele conseguiu-o através da combinação de pragmatismo e criatividade por um lado, e um senso político excecional por outro”, disse o economista.
Uma meta mais alta para a inflação
O economista deixou algumas propostas alternativas para o futuro da política macroeconómica da região. E deixou uma “provocação” ao BCE, sugerindo que a meta para a inflação na zona euro seja mais elevada, “o que ajudaria a resolver muitos dos problemas que (a zona euro) enfrenta hoje”.
Blanchard frisou que “a política monetária não pode fazer tudo”. Salientou que “a política macroeconómica da zona euro sofre de duas fraquezas sérias, que largamente moldaram a história dos últimos 20 anos e provavelmente também vão moldar os próximos anos”: falta de ajustamento dos preços relativos; e o quadro de política orçamental.
O economista sugeriu que a região adote um orçamento comum financiado pela emissão de obrigações europeias (eurobonds). “Mas isto implica partilha de risco e conhecemos as dificuldades políticas de o fazer”. Em alternativa, poderia ser adotada uma expansão orçamental concertada, “como foi feito pelo G20 em 2009, com cada país a emitir dívida”.
Destacou que a redução da dívida hoje em dia não é tão urgente e que a meta de endividamento de cada país “deve ser revisitada”. “Os custos são menores. Os riscos também são menores. Enquanto a dívida é alta, o serviço da dívida não é, em termos históricos. Não há uma crise de dívida”, afirmou. “Se isso é feito através de uma mudança formal nas regras, ou uma interpretação mais liberal, não é para mim recomendar”, disse.
Chamou ainda a atenção para a descida do investimento público face ao Produto Interno Bruto (PIB) desde 2007, como é o caso de Portugal, onde o rácio caiu 1,3%.
Blanchard concluiu, afirmando: “a política monetária transformou-se. Agora é altura de fazer o mesmo pela arquitetura de política macro”.
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