Portugal e os bancos voltaram a estar amarrados por causa da dívida e isso é um perigo enorme se os ratings da República ou dos bancos começarem a cair: o soberano arrastará consigo os bancos ou os bancos prejudicarão ainda mais a qualidade de crédito público (e vice-versa, o chamado nexo ou interdependência), como aconteceu na última crise económica e financeira na qual Portugal e vários bancos tiveram de ser resgatados/apoiados, sinaliza o Banco Central Europeu (BCE), na sua avaliação sobre a estabilidade financeira da zona euro.
E diz mais. Para o BCE é urgente uma reforma dos esquemas de resolução de bancos para que o governo e os bancos deixem de estar neste nível de alta interdependência, para que não se arrastem mutuamente para o fundo caso aconteça uma nova tempestade financeira.
Recorde-se que, pelas contas do Dinheiro Vivo, cerca de 60% da dívida pública nacional está na posse de entidades privadas, a maioria delas são bancos sedeados em Portugal.
Segundo o BCE, “em alguns países da zona euro, as ligações entre bancos e Estados soberanos são consideráveis e criam riscos de ciclos de feedback negativos decorrentes da redução das notas da dívida soberana ou bancária”.
“Ainda que algumas medidas políticas possam amortecer os efeitos económicos adversos sobre empresas e famílias resultantes das medidas de contenção relativas ao coronavírus, continua a existir o risco de as agências de rating poderem cortar na avaliação dos soberanos e/ou bancos devido a riscos crescentes no crédito.”
Isto “poderia reativar os ciclos de feedback negativo da interdependência entre bancos e soberanos, especialmente em Itália e Portugal, bem como em Espanha“, territórios “onde os ratings dos bancos estão mais próximos do grau de não investimento”, “lixo”, na gíria dos mercados, avisa Frankfurt.
Além disso, o BCE recomenda vivamente que se modernizem ou reformem os atuais mecanismos de resolução de bancos, que só estão a agravar aquele risco de colapso mútuo entre Estado e banca.
“As reformas da resolução de bancos e dos resgates internos devem reduzir a força do nexo de interdependência face ao que existia nas crises passadas. No entanto, os benefícios dessas reformas podem ser mais fracos se os bancos não conseguirem atingir metas em termos de emissão de dívida garantida”, acrescenta o BCE.
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