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O estudo da BCG sobre a resiliência das empresas “identifica o setor industrial ibérico como tendo a pior classificação” em termos de rentabilidade e estabilidade financeira, indica o sócio da consultora José Ferreira, em declarações à Lusa.
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O estudo, denominado de BCG Transform Index: The European Economy and the Resilience Imperative, “identifica o setor industrial ibérico como tendo a pior classificação nas três dimensões consideradas – solvência, rentabilidade e estabilidade financeira -, ficando abaixo da média europeia para este setor”, refere o managing director & partner da BCG Portugal.
As razões desta baixa classificação, prossegue, “podem ser explicadas pelo impacto do aumento dos preços dos materiais de produção e da energia, bem como das perturbações na cadeia de abastecimento e do risco de recessão na Europa, nos rácios financeiros destas empresas”.
Este segmento, sublinha, “inclui 18 empresas ibéricas, cotadas em bolsa e com receitas de pelo menos 500 milhões de euros”, sendo que, “adicionalmente, neste setor foram incluídas empresas de diversos subsetores, tais como: transportes & aviação, construção & engenharia, setor postal & logística”, entre outros.
Questionado sobre o que pode ser feito para ultrapassar esta situação, do ponto de vista português, José Ferreira salienta que o estudo identifica “três principais estratégias que as empresas europeias, incluindo as portuguesas, devem implementar de forma a antecipar os desafios que estão iminentes e preparar um crescimento rentável a longo prazo, aumentando a sua resiliência”.
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Entre elas está “manter uma estrutura de custos lean, monitorizando o impacto da inflação e adaptando a estrutura de custos em conformidade, reavaliando o portefólio de produtos, e implementando medidas de poupança de custos”.
Além disso, é preciso “assegurar a estabilidade financeira com foco na gestão do fluxo de caixa e na otimização do balanço para assegurar liquidez de curto prazo e mitigar efeitos resultantes do aumento das taxas de juro” e “aproveitar oportunidades de crescimento, transitando de uma estratégia reativa para uma proativa, que possa resistir a choques com maior facilidade e sustentar o crescimento mesmo em tempos turbulentos”.
Paralelamente, “é também crucial trabalhar nos enablers, tais como ajustes no modelo operativo que promovam a resiliência, medidas para retenção de talento, e continuar a investir em inovação”, como por exemplo, com recurso a inteligência artificial, acrescenta.
“Na generalidade dos casos, o facto de as margens EBITDA [resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações] não estarem a recuperar na mesma medida que as receitas poderá dever-se ao aumento dos custos operacionais das empresas, nomeadamente, ao nível dos custos dos materiais de produção, do trabalho e da energia, motivados pelo aumento da inflação e dos impactos diretos e indiretos da guerra na Ucrânia, que, dependendo dos setores, poderão ter um impacto muito significativo” nas margens, refere.
Além disso, grande parte das indústrias “teve uma forte recuperação após a crise de covid-19, com o desempenho operacional a atingir recordes em vários setores e, até agora, não se assistiu a um declínio drástico como resultado da guerra na Ucrânia”, prossegue José Ferreira.
O responsável aponta que “há sinais claros de alerta no horizonte: em termos gerais, a liquidez está a cair pela primeira vez desde 2018, enquanto a dívida líquida continua a crescer para níveis históricos, com um número crescente de empresas com free cash flow negativo, e a qualidade da dívida líquida a deteriorar-se – uma questão especialmente preocupante no atual contexto de altas taxas de juro”.
Sobre isso, “importa ainda notar que mesmo os setores que se têm mostrado mais resilientes estão dependentes da evolução do panorama económico e deverão estar em alerta para tal”, avisa.
Por exemplo, o setor das TMT – telecomunicações, media e tecnologias – enfrenta grandes desafios e a margem financeira ainda não recuperou ao nível pré-covid.
“As perspetivas para a economia e empresas europeias para 2023 estão ainda a sofrer de uma grande incerteza, com várias economias a entrar em recessão”, como o caso recente da Alemanha, que entrou em recessão técnica.
“Como tal, a generalidade dos setores, nomeadamente o setor TMT, deverá continuar a enfrentar desafios, em particular ao nível das dimensões do estudo de rentabilidade e estabilidade financeira, devendo manter-se alerta e adotar uma estratégia proativa (ao invés de uma estratégia reativa) a este respeito, considerando lançar programas de transformação para melhoria da sua situação financeira, por exemplo recorrendo à implementação de use cases digitais”, considera José Ferreira.
Em termos gerais, “o estudo indica que as receitas das empresas ibéricas ultrapassaram os níveis pré-pandemia, mas as margens EBITDA ainda não recuperaram em vários setores”.
O estudo aponta ainda que um quinto das empresas no território ibérico “têm um free cash flow negativo nos últimos 12 meses, valor inferior à média europeia (27%)” e a “dívida líquida aumentou nos últimos 12 meses pela primeira vez desde 2019, sendo que apenas 20% da mesma é de investment grade – classificação que demonstra que um título apresenta um risco de incumprimento relativamente baixo -, o que é um valor muito inferior aos 45% médios a nível europeu”.
No caso da indústria e das TMT, “é possível observar que as receitas e a margem EBITDA ainda não recuperaram os níveis de 2019”, sendo que as empresas destes setores tiveram um efeito agregado de aumento da dívida líquida.
O BCG Transform Index é o resultado de uma análise financeira de mais de mil empresas em dez setores primários em 33 países europeus, abrangendo dados públicos de 2018 até ao terceiro trimestre de 2022.
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