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O diploma que o Governo está a preparar para apoiar as famílias com crédito à habitação pode trazer riscos, alertou o presidente executivo do BCP. Em causa está a obrigação dos bancos renegociarem os contratos dos clientes cuja taxa de esforço seja superior a 40%, para fazer face à subida das taxas de juros que estão a ter um forte impacto no valor dos empréstimos mensais de muitos portugueses.
Na apresentação das contas dos primeiros nove meses do ano, período em que aumentou os lucros em 63% para 97 milhões de euros, Miguel Maya recusou fazer comentários específicos sobre o diploma até conhecer o documento na sua totalidade. Mas deixou alguns avisos. O banqueiro sublinhou que “é um risco elevado para os clientes pensarem que isto é for free [de graça]” e lembrou que as famílias ficarão “marcadas” como sendo de risco, podendo sair prejudicadas em financiamentos no futuro. Por isso, teme que o Governo esteja a criar os “incentivos errados que levem a comportamentos errados”, uma vez que as “reestruturações têm consequências na forma como olhamos para esses clientes”. E reforçou: “Esse estigma que se cria com a reestruturação não será bom para os clientes, nem para o banco”. Por isso, deixa o conselho: ” Só solicitar [a renegociação] se for mesmo imprescindível”.
Miguel Maya não detalhou o número de clientes do BCP que serão abrangidos. Mas garantiu que a maior preocupação do banco é encontrar soluções para as famílias com dificuldades financeiras. E, para tal, garante que não é necessária a “ajuda do Governo”, relembrando que os regimes em vigor já salvaguardam a opção de renegociação.
Saída da Fosun? “O medo é uma cena que não nos assiste”
Já sobre a estabilidade da estrutura acionista e o risco da saída do grupo chinês Fosun, o maior acionista do banco, Miguel Maya usou uma expressão que se tornou viral há alguns anos: “O medo é uma cena que não nos assiste”. “Temos de gerir com rigor, não temos de ter medo de coisa nenhuma”, acrescentou.
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Nas últimas semanas foi noticiado que a Fosun irá vender alguns ativos não estratégicos no próximo ano. Mas, segundo Miguel Maya, a participação de quase 30% que tem no banco não estará na lista. “O que tenho sentido dos acionistas é um suporte ao banco ao longo de todo o processo”, assegurou, aproveitando para relembrar que a saída da Sonangol do capital do BCP também é noticiada há anos, sendo que a petrolífera continua a deter cerca de 19%.
Miguel Maya afastou ainda o cenário da venda da operação na Polónia, que continua a pesar nas contas do banco: “Não é esse o caminho, quem é que compra com esta incerteza? “, questionou, referindo-se à conversão de créditos hipotecários concedidos em francos suíços e à desvalorização do zloty.
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