José Berardo garante que tentou “ajudar os bancos” e que foram as instituições financeiras que o procuraram numa fase de excesso de liquidez para lhe dar crédito. “Tentei ajudar os bancos. Como português tentei ajudar a situação do banco”, disse esta sexta-feira numa audição na II Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da CGD.
O empresário disse que o banco público não lhe pediu aval pessoal nos créditos. “Também não dava. Não ia arriscar a minha vida numa coisa que é um investimento”, disse. “Nunca dei avales pessoais”. Terá existido uma exceção a um crédito de 38 milhões para garantir uma operação de aumento de capital de que diz não se recordar. “As instituições queriam que fosse ao aumento de capital do BCP”, disse. Mas revelou que a Caixa não fez uma avaliação da sua fortuna pessoal.
Antes dessas declarações, o advogado do empresário, André Luiz Gomes, tinha indicado numa intervenção inicial que “em 2005 o depoente vem a ser abordado pelas várias instituições de crédito que lhe vêm propor linhas de crédito para aquisição de ações em condições concorrenciais”. Isso, numa altura que, diz, havia um “excesso de liquidez no sistema financeiro português”.
O empresário foi abordado primeiro pelo BCP e pelo BES até final de 2005. “A partir de janeiro de 2006, foi o Santander Totta”, indicou. As condições, de todos os bancos, exigiam apenas “um grau de cobertura de 100% do valor de crédito”, semelhante ao que a CGD viria a fazer que Berardo diz ter sido um rácio de 105%.
Berardo recusa ideia de assalto ao BCP
Já em relação ao investimento no BCP, o empresário rejeita que tenha sido feito para um “assalto ao poder”. O advogado, falando em nome do empresário, recorda que Berardo apoiou o presidente executivo da altura, Paulo Teixeira Pinto, contra o presidente do conselho geral e de supervisão, Jardim Gonçalves.
“Perante as contas conhecidas do BCP e análise de research a tomada de participação era investimento altamente atrativa. A generalidade dos bancos recomendava vivamente a compra de ações do BCP”, disse o advogado de Berardo. No entanto, o banco referiu em 2006 que tinha limitações para conceder crédito a Berardo para a compra das ações da própria instituição.
“Sugeriu que fosse tratado com a CGD e tinham indicado um interlocutor, José Pedro Cabral dos Santos”, antigo diretor das grandes empresas do banco público, disse o representante de Berardo. “Em maio de 2006, a CGD enviou proposta de abertura de crédito à Metalgest, concorrenciais com as contratadas com as demais instituições de crédito. Taxas de juro idênticas e sendo exigidas garantias similares”, disse André Luiz Gomes.
Perdas de 150 milhões para a CGD
Segundo uma versão preliminar da auditoria da EY, a Fundação Berardo e a Metalgest deviam, no final de 2015, um total de 320 milhões à CGD. Desse montante, o banco público tinha assumido perdas superiores a 152 milhões de euros. Berardo é ainda um dos grandes devedores do BCP e do Novo Banco, com empréstimos próximos de cerca de 960 milhões de euros.
Berardo reconhece que as perdas na banca são um “problema muito grave a nível nacional”. Mas que tentou ajudar a banca portuguesa numa altura de crise. E justificou os prejuízos com a crise financeira.
Os empréstimos do banco público ao empresário madeirense foram classificados por parte da EY como tendo resultado num elevado aumento de exposição ao risco. A auditora detetou exceções nessas operações face ao normativo e ao enquadramento regulamentar aplicável.
Esses financiamentos foram concedidos na altura em que Carlos Santos Ferreira liderava o banco público. O antigo presidente da Caixa, que saiu desta instituição diretamente para o BCP, defendeu esses empréstimos e negou que houvesse financiamentos de favor.
Mas Eduardo Paz Ferreira, antigo presidente do conselho fiscal da CGD, disse que Berardo era tratado como pelos responsáveis do banco como um “cliente totalmente especial e à margem das regras”. Avisou ainda que seria “extremamente difícil” executar as garantias dadas pelo empresário.
Notícia atualizada às 16:05 com novo título
Deixe um comentário