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Injusta. É assim que Fernando Ulrich, presidente do conselho de administração do Banco BPI, classifica a divisão do esforço de capitalização do Novo Banco. Segundo ele, em conjunto, o Banco Espírito Santo (BES) e o Novo Banco consumiram 16 400 milhões de euros para absorver prejuízos. No total, o Novo Banco já foi capitalizado em 12 300 milhões de euros desde que foi criado, em 2014, com a maioria do esforço a ser suportado pelo Fundo de Resolução – que está na esfera pública. Para o chairman do BPI, os “credores foram beneficiados” face aos “bancos concorrentes e eventualmente aos contribuintes”.
O antigo presidente executivo do BPI foi ontem ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução. Ulrich recordou que em 2014 acreditava que a capitalização inicial de 4,9 mil milhões de euros do Novo Banco não seria suficiente. Mas ressalvou que se se tivesse colocado mais dinheiro no banco logo de início poderia ter gerado uma crise no setor, defendendo que “foi melhor ter resolvido o problema do Novo Banco por fases”.
Lembrou que, após a injeção inicial em 2014, levada a cabo pelo Fundo de Resolução, “o capital do Novo Banco continuou a ser reforçado de várias formas”, incluindo pelas perdas assumidas pelos obrigacionistas, no valor de 2,5 mil milhões de euros, a que acresceram mil milhões injetados pela Lone Star. Salientou que o Fundo de Resolução pode ainda injetar um total de 3,9 mil milhões se for esgotada a verba prevista no Mecanismo de Capitalização Contingente, acordado aquando da venda do Novo Banco à Lone Star, em 2017. Ulrich frisou que, se a verba de 3,9 mil milhões de euros for esgotada, o Fundo de Resolução – que está na esfera pública – terá capitalizado o Novo Banco em 8,8 mil milhões de euros.
Fazendo os cálculos, o chairman indicou, na sua intervenção inicial na audição no Parlamento, que o BES tinha capitais próprios de 7,3 mil milhões de euros antes de ser alvo da medida de resolução, em agosto de 2014. Foi criado o Novo Banco, que até hoje foi capitalizado em 12,3 mil milhões de euros. À soma daqueles dois valores há que subtrair os capitais próprios reportados pelo Novo Banco no final de março deste ano, de 2,3 mil milhões de euros, o que perfaz 16,4 mil milhões.
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O chairman do BPI recordou uma entrevista que concedeu ao Expresso em setembro de 2014, na qual disse esperar que o Banco de Portugal tivesse “feito bem as contas” e não acreditar que “em dois ou três anos” o banco pudesse “estar melhor”. “Infelizmente tive razão nestas duas afirmações”, disse ontem aos deputados.
Segundo Ulrich, o Novo Banco é uma “história de sucesso”, depois da “tragédia” causada pelo BES. “O BES/Novo Banco é um problema bem resolvido, atentas as circunstâncias que houve que lidar”, afirmou aos deputados.
O BPI chegou a analisar a compra do Novo Banco, que acabou por ser adquirido pela Lone Star. O BPI foi candidato à compra do banco na primeira tentativa de venda, em 2015, e estudou de novo a sua aquisição na segunda tentativa de venda.
Segundo Ulrich, “globalmente”, o Novo Banco foi bem vendido à Lone Star, até porque a proposta do BPI era “mais exigente” e o banco não teria comprado o rival naquelas condições.
Da parte da manhã de ontem, esteve a ser ouvido na mesma comissão o presidente do conselho geral e de supervisão do Novo Banco, Byron Haynes, que considerou ser “surpreendente” e “inesperada” a retenção de 112 milhões de euros na injeção que o Fundo de Resolução fez no banco.
O Novo Banco tinha pedido 598 milhões de injeção de capital ao Fundo de Resolução relativamente ao exercício de 2020, para cobrir perdas relacionadas com ativos herdados do BES. Mas o Fundo apenas transferiu 317 milhões para a instituição, um valor que foi financiado por um consórcio de bancos e não pelo Tesouro, devido a um travão imposto pela Assembleia da República.
O Fundo justificou a verba com “um ajustamento no montante agregado de 169 298 939 euros” devido a divergências em torno da venda da sucursal em Espanha, de 147,4 milhões de euros, à valorização de ativos, no valor de 18 milhões, e aos prémios de gestão de 2019 e 2020, de quase quatro milhões. O banco anunciou na segunda-feira que vai tomar “todas as medidas”, incluindo “a obtenção de uma providência cautelar”, para receber a verba em falta.
Até 2020, o Novo Banco já tinha consumido 2976 milhões de euros de dinheiro público ao abrigo do mecanismo acordado com a Lone Star em 2017, a que se somaram entretanto 317 milhões de euros.
Com Lusa
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