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Em ano de crise energética, a bolsa portuguesa foi um porto de abrigo. O índice de referência ganhou 2,81% em 2022, tendo sido um dos poucos do mundo a fechar no verde. Nas primeiras sessões do ano a tendência aparenta manter-se, já que o PSI acumula uma valorização de 1,81% desde o início da semana. Mas o comportamento das ações nacionais em 2023 estará dependente, sobretudo, dos estilhaços de uma eventual recessão, da evolução dos preços da energia e do impacto da taxa sobre os lucros excessivos.
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Os ganhos do índice nacional em 2022, que contrastam com a queda de 12,9% do índice europeu Stoxx 600, deveram-se “ao bom desempenho do setor de energia como os exemplos da Galp, Greenvolt e REN, tal como as empresas de “Recursos Naturais” como a indústria papeleira com Altri e Navigator”, explicou ao DVinheiro Vivo João Queiroz. A petrolífera foi a cotada que mais valorizou com uma subida de 48% no ano passado. O head of Trading do Banco Carregosa destacou ainda os “setores de “Serviços de Telecomunicações” com a Nos, e o da “Distribuição de Retalho” com a Jerónimo Martins”.
Já Carlos Rodrigues, presidente da Maxyield, sublinhou que a “força” do PSI em 2022 – em contraciclo com os mercados internacionais – “pode ser explicada pela fraca dimensão do mercado bolsista português relativamente aos mercados internacionais e a diferente composição setorial relativamente aos vários índices de referência”. Isto porque a reduzida dimensão do mercado nacional amorteceu os efeitos de contágio pelas bolsas externas, num contexto económico internacional peculiar”, acrescentou o presidente do Clube dos Pequenos Acionistas.
No que toca à composição setorial do incide, Nuno Sousa Pereira, head of Investments da Sixty Degrees, relembrou que “num ciclo de subidas de taxa de juro, especialmente após vários anos de taxas baixas ou mesmo negativas, as empresas mais prejudicadas são as que têm um modelo de negócio mais dependente de crescimento, como por exemplo as empresas de desenvolvimento tecnológico.” Ora, “o índice de ações português foi pouco afetado por este movimento, pois as empresas que estão presentes no PSI são maduras e de setores mais estáveis”, apontou.
Olhando para o futuro, os analistas acreditam que o PSI pode continuar a registar o desempenho acima da média, mas avisam que há determinados fatores a ter em conta, como os preços da energia. Segundo Nuno Mello, “uma vez que o setor energético representa mais de metade da capitalização do PSI – e a tendência é que cresça ainda mais -, tudo dependerá da evolução dos preços da energia durante 2023. Se o volume de negócios destas empresas continuar a crescer, tudo indica que o PSI possa ter um desempenho superior ao dos seus congéneres europeus”, sublinha o analista da XTB.
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João Queiroz aponta que “se considerarmos que existem condições políticas e de uma gestão mais racional dos recursos públicos – favoráveis a finanças sustentáveis e que a atração de capitais não irá sofrer alterações -, na ausência de um choque ou mais severa crise energética poderemos continuar a observar um construtivo desempenho do PSI”. Numa perspetiva microeconómica, alerta que “um cenário de continuada desvalorização do dólar poderia afetar mais as papeleiras e outras cotadas mais expostas à divisa dos EUA, mas a prevista estagnação ou mesmo recessão económica da Zona Euro poderá prejudicar as margens bruta e operacional e a correspondente avaliação do mercado”.
Por sua vez, Nuno Sousa Pereira realça que, adicionalmente, “as taxas a lançar sobre lucros extraordinários em alguns setores, que são também os que estão com melhor desempenho, podem prejudicar a evolução do preço das ações”.
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