//Bolsa perdeu mais de 22 mil milhões de euros no último mês

Bolsa perdeu mais de 22 mil milhões de euros no último mês

Das ações, à dívida soberana, passando pelo ouro, nenhum ativo tem escapado à onda de vendas nos mercados mundiais. Em Lisboa, a Jerónimo Martins é a estrela, pela positiva.

É o único banco cotado na bolsa portuguesa e vale agora metade do que valia há um mês. O Millennium bcp vale agora apenas 1.550 milhões de euros. Foi o título mais atingido pela vaga de vendas que assolou a bolsa portuguesa nas últimas semanas. Mas não é caso único. Grande parte das cotadas no índice principal – o PSI-20 – somam descidas superiores a 40% no último mês. A Jerónimo Martins tem sido a estrela, pela positiva. Regista uma subida de 2% desde o início de 2020. A distribuição é dos poucos setores que não paralisou devido à epidemia de coronavírus, que já levou à declaração de estado de emergência em Portugal.

No geral, para o PSI-20, o último mês trouxe perdas de 22.500 milhões de euros. Tem agora uma capitalização bolsista de 45.810 milhões de euros, segundo dados da Reuters. Acumula uma queda de 30% desde o início do ano, em linha com o índice europeu Stoxx 600. Em todo o mundo. já evaporou das bolsas um valor superior a 18 biliões de dólares. Os investidores largam tudo e não olham para trás perante os sinais de que o mundo está a braços com uma epidemia global que colocou a economia numa situação paralela à que se viveu em tempos de guerra. Nem os ativos de refúgio escapam, como o ouro ou a dívida soberana alemã. Os investidores querem ter liquidez disponível.

Gestores de ativos, institucionais e mesmo políticos, nomeadamente nos Estados Unidos, desataram a vender as suas posições assim que se começou a ver a dimensão da epidemia. Alguns atores do mercado já se vinham a preparar para uma nova crise, como o investidor guru Warren Buffet. As bolsas viviam até agora uma década de valorizações. A crise iria chegar. Só não se sabia qual seria a chave que iria abrir a porta para ela entrar. “A pergunta de um milhão de dólares é se já se bateu no fundo ou não”, diz Paulo Rosa, economista e senior trader do Banco Carregosa. “O que está a acontecer é exagerado. O que tem havido é a liquidação de carteiras, uma saída do mercado”, diz Pedro Lino, economista e CEO da Optimize Investment Partners. Adiantou que, até a epidemia estar estabilizada, não se verá uma recuperação nos mercados. “Não vimos ainda o fim das quedas”, assinala.

Uma nova ordem mundial?
Para analistas e economistas, o mundo está a virar uma página na sua história. A crise económica, estimam, pode ser pior do que a que se viveu em 2008. Isso mesmo é o que dizem as bolsas, que habitualmente são o barómetro do que virá a seguir para a economia. Há mesmo quem já fale na necessidade de ter de nascer uma nova ordem financeira mundial que vem substituir a que tem existido até aqui. Mas, apesar de já terem surgido previsões de uma eventual catástrofe por parte de alguns ‘apóstolos da desgraça´dos mercados, antevendo um apocalipse de proporções épicas na economia, há economistas e analistas que estão menos pessimistas. “Esqueçam as quedas dos mercados de 2008, o choque da Covid-19 é mais parecido com a pandemia de gripe de 1918”, garante Aditya Khowala, gestor de ativos da Fidelity. “Por pior que seja esta crise, não é a grande crise financeira de 2008”, diz numa análise divulgada na passada sexta-feira.

O gestor de ativos da Fidelity sustenta que a grande crise financeira de 2008 foi acionada pelo colapso do setor imobiliário nos EUA e a falta de confiança nos bancos. Recorda que grandes quedas de preços na habitação “podem desencadear desacelerações estruturais”. “Houve apenas dois crashs imobiliários nos EUA na memória recente, em 1929 e 2008/2009. Ambos levaram a desacelerações económicas significativas e prolongadas e levou muito tempo para o sistema e a economia recuperarem”, lembra.
“Desta vez, os setores de viagens, turismo e retalho são os mais vulneráveis, mas o tempo total de recuperação pode ser menor se as tendências anteriores persistirem”, prevê.

A maior parte dos bancos de investimento espera que 2020 seja um ano de recessão mundial. A primeira metade do ano deverá ser a mais afetada pela epidemia. Os esforços dos governos e dos bancos centrais para minimizar os efeitos da epidemia sucedem-se a um ritmo diário, com anúncios de injeções de dinheiro no sistema financeiro e na economia. “O desafio que se nos coloca é que a crise tenha o menor impacto possível”, disse Filipe Garcia, economista da IMF- Informação de Mercados Financeiros.

A epidemia do coronavírus ameaça transformar a paisagem empresarial nacional e global. Economistas antecipam que empresas tenham de ser nacionalizadas, enquanto outras vão falir ou ser alvo de intervenção estatal. Até o presidente dos EUA, Donald Trump, admitiu que aprovaria a entrada do Estado no capital de empresas privadas.

Nos mercados, segundo Pedro Lino, “esta instabilidade vai continuar mas já existem muitas oportunidades”. Mas só quando houver mais confiança sanitária” é que poderá começar a haver uma maior visibilidade sobre o futuro, que atualmente é incerto.

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