Preços do ouro e da prata a galopar, venda de ações e cada vez mais obrigações soberanas a registar taxas de juros negativas. O ambiente parece ser de uma aproximação a uma recessão económica. Os juros da dívida norte-americana a dez anos desceram mais do que os juros a três meses, dando o sinal mais forte de recessão desde 2007, e o escalar da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China vem acentuar as expectativas mais pessimistas.
As bolsas sofreram na segunda-feira uma onda de vendas, naquele que foi o pior dia do ano para as ações. O terramoto foi causado pela resposta da China às novas taxas sobre produtos chineses anunciadas pelo EUA. Pequim desvalorizou a sua moeda e congelou a importação de produtos agrícolas norte-americanos. “Esta re-escalada no atual conflito comercial foi a machadada final no mercado acionista”, afirmou João Sàágua, analista Macro da equipa de Research do BiG. Dias antes, a FED tinha cortado a taxa de juro de referência em 25 pontos base, para 2%, pela primeira vez desde 2008. A FED deve cortar as taxas mais duas vezes este ano, prevê o Goldman Sachs. O presidente dos EUA continua a culpar a Reserva Federal pela conjuntura, considerando que a FED é “demasiado orgulhosa para admitir que cometeu um erro” ao subir as taxas de juro. “O nosso problema não é a China”, disse Donald Trump num tweet.
Um agosto quente
Aos sinais de recessão económica e escalada da guerra comercial, junta-se o facto de estarmos em agosto. A menor liquidez leva a um acentuar de movimentos nos mercados. O banco Nomura alertou os clientes para estarem preparados para possíveis réplicas do terramoto da passada segunda-feira, “semelhantes ao do Lehman” Brothers. “A segunda onda pode ser mais forte do que a primeira, como uma réplica que eclipsa o terramoto inicial”, disse o Nomu numa nota citada pelo FT.
Sob controlo
As crises financeiras ocorrem em média a cada de anos e o melhor é estar preparado para a próxima.
“A tendência descendente deverá prevalecer para os ativos de risco, nomeadamente mercados acionistas e matérias-primas, exceto metais preciosos”, disse João Sàágua. “Continuamos a reconhecer um robusto potencial de apreciação no ouro, como primordial ativo de refúgio. Simultaneamente, a procura por ouro para fins de investimento e por parte dos bancos centrais tem aumentado consistentemente”, adiantou. Também a compra de divisas, como o iene e o dólar, devem estar no radar. Nas obrigações, “a visão é menos clara” porque o mercado está “distorcido por uma política monetária ultraexpansionista, com os bancos centrais a utilizarem grande parte do seu arsenal para manter viva a atual expansão económica”.
O Banco Central Europeu (BCE) admitiu vir a cortar as taxas de juro e deve baixar ainda mais a taxa de depósito em setembro, que se situa em -0,4%. Os juros da dívida grega estão abaixo dos das obrigações dos EUA, o que há um ano seria inimaginável. Já os de Itália estão ameaçados pela instabilidade política no país. Para o colunista da Bloomberg, Marcus Ashworth, “o BCE está a arrastar-nos ainda mais profundamente para a loucura” e “pode tornar tudo pior”. Perante a incerteza, os investidores vão continuar cautelosos para estar preparados quando a crise chegar.
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