É sob o signo da confiança que os empresários portugueses olham para o novo presidente do Brasil. Bolsonaro prometeu implementar “rigor económico” e promover reformas estruturais para “garantir a sustentabilidade das contas públicas”. O mundo empresarial gostou e mostra-se confiante no reforço das relações comerciais. Até porque o Brasil é, simultaneamente, o 10.º destino das exportações nacionais e o 10.º maior fornecedor da economia portuguesa, com quase 950 milhões de euros exportados e 1220 milhões importados. Da construção aos vinhos, passando pelas associações empresarias, o sentimento é de “tranquilidade e confiança”.
“Estive há duas semanas em São Paulo e tive oportunidade de verificar que, pelo menos no mundo dos negócios, o ambiente é favorável. Criou-se uma onda de otimismo na evolução da economia brasileira e a performance das bolsas e do mercado cambial evidenciam esse sentimento”, diz o presidente da Associação Empresarial de Portugal. Para Paulo Nunes de Almeida, “Portugal deve aproveitar esta onda” e a intenção do presidente em promover uma maior abertura da economia brasileira ao exterior, mas “sem perder de vista” que o Brasil é a origem de grande parte do investimento estrangeiro em Portugal. “Não há bela sem senão. Há aqui uma oportunidade para as exportações e para a internacionalização das empresas portuguesas mas devemos contar, também, com alguma redução do ímpeto investidor”, frisa.
Já o presidente da Associação Industrial Portuguesa considera que o papel do Brasil na economia mundial – é o 5.º país mais populoso e a 9.ª maior economia do mundo – “é decisivo”, pelo que o novo presidente precisa de “reforçar a confiança interna dos agentes económicos e a credibilidade externa do país”. José Eduardo Carvalho espera um reforço das relações comerciais com o Brasil, sublinhando o “papel de relevo” da diplomacia. “Devem, ainda, continuar os esforços para que sejam ultrapassadas as questões pendentes do acordo UE-Mercosul para que este se possa efetivamente concretizar”, diz.
Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, concorda, considerando que “seria excelente” a eliminação da “maior medida discriminatória” às exportações de vinhos, uma taxa aduaneira à qual estão sujeitos os vinhos europeus mas de que estão isentos os argentinos e chilenos. “Esta taxa, que varia em torno dos 25%, constitui uma significativa desvantagem competitiva face áqueles dois principais concorrentes. Embora Portugal esteja na eminência de ultrapassar a Argentina, a elimina daqueles 25%, extensiva a todos os vinhos europeus, colocar-nos-ia em condições de podermos disputar com o Chile o primeiro lugar nas vendas de vinhos estrangeiros no Brasil. Sabemos que o Brasil iria exigir contrapartidas, nomeadamente a redução ou a eliminação de barreiras à exportação de carne e de outros produtos agrícolas para a Europa, e, nesse domínio, a atitude da França e da Alemanha serão decisivas”, frisa.
Agroalimentar lidera
Entre os produtos mais exportados para o Brasil, destaque para o agroalimentar (azeite e vinhos em particular), para os combustíveis e para os veículos. A Galp, por exemplo, está presente no país há cerca de duas décadas, com um investimento acumulado que ultrapassa já os cinco mil milhões de dólares. E a aposta no país está para durar. “O Brasil é um dos principais eixos estratégicos de crescimento da Galp”, destaca a empresa. Questionada que medidas gostaria de ver tomadas, a petrolífera portuguesa refere: “Temos a expectativa de que as reformas dos últimos anos possam prosseguir com ritmo, potenciando a aceleração do desenvolvimento da indústria, a abertura e liberalização de mercado e a consolidação do quadro regulatório que se tem caracterizado por ser estável e previsível”.
Também a Mota-Engil está no mercado brasileiro há já uma década, uma “história de sucesso” cuja chave assenta no facto de contar com um parceiro local, na ECB – Empresa Construtora Brasil, de Minas Gerais, na qual detém 51% desde o final de 2012. A América Latina vale cerca de um terço do volume de negócios do grupo, sendo que o Brasil contribui com 20 a 22% para essa fatia.
“Sobre o quadro político brasileiro não temos qualquer opinião, apenas destacamos que a clarificação política no país conduziu a uma pacificação e a um cenário de recuperação da economia e do investimento que constitui um quadro de grandes oportunidades seja a nível petrolífero, onde temos clientes como a Petrobras, que tem um programa de investimentos brutal e que será acelerado nos próximos anos, ou nas infraestruturas, onde se espera que haja grandes investimentos quer no setor rodoviário quer ferroviário”, afirma Carlos Mota Santos.
Questionado sobre o interesse eventual da Mota-Engil no plano de concessões nos portos, aeroportos e ferrovia que o novo presidente prometeu implementar, Carlos Mota Soares admite que esta é uma área em que o grupo tem grande know how e experiência, designadamente no México, e a que estará atento. “O Brasil é tão grande que as oportunidades são imensas. Iremos estar atentos e estudá-las como temos feito até aqui”, assegura, sublinhando: “As nossas perspetivas em relação ao Brasil são muito positivas”.
A José Maria da Fonseca tem no Brasil o seu principal mercado externo, mercado que contribui com cerca de três milhões de euros para a faturação da empresa de Azeitão. Que coloca, todos os anos, cerca de um milhão de garrafas de Periquita no Brasil, sendo este o vinho europeu mais vendido no país. António Maria Soares Franco espera que a estabilização política do país resulte numa recuperação do real que, o ano passado, chegou a desvalorizar-se mais de 20%. “Vemos 2019 com uma expectativa positiva. Todos os nossos clientes e importadores têm uma visão positiva da eleição de Jair Bolsonaro. Para os negócios foi algo positivo”, diz o administrador da JMF. António Maria Soares Franco espera que a aproximação à Europa que o novo presidente diz pretender implementar seja devidamente aproveitada, designadamente para o estabelecimento de acordos de comércio livre que tornem menos onerosas as exportações de vinhos para o Brasil.
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