//Britânicos e espanhóis querem viajar, mas portugueses é que salvam verão

Britânicos e espanhóis querem viajar, mas portugueses é que salvam verão

Os britânicos e os espanhóis anseiam por viajar como nos tempos pré-pandémicos, mas essa vontade ainda está longe de se espelhar na procura pela principal região turística portuguesa. Este verão, mais uma vez, quem vai atenuar os efeitos nefastos da covid-19 no Algarve vão ser os portugueses. Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), admite que os três meses de estio (julho, agosto e setembro) poderão ser um pouco melhores que em 2020, mas as certezas são poucas. Para já, as previsões para agosto apontam para uma taxa de ocupação dos alojamentos turísticos da ordem dos 65%, um aumento em 2,5 pontos percentuais face ao mesmo mês de 2020.

“É uma recuperação residual”, diz Elidérico Viegas, lembrando que em agosto de 2019 a taxa de ocupação estava nos 92,9%. A garantir esta pequena retoma do setor está o mercado doméstico. “São os portugueses que estão a segurar o verão, neste momento o mercado externo tem pouco significado”, frisa. Os turistas dos principais países emissores, de que se destacam o Reino Unido, a Alemanha e Espanha, estão a viajar muito menos. Como refere, só “40% dos britânicos estão a viajar para o exterior comparativamente com os que viajavam na pré-pandemia, o governo alemão está a recomendar aos seus cidadãos para não viajarem para o exterior…” E ainda há que contar com as diferentes políticas sanitárias nos países que concorrem diretamente com Portugal. “Espanha e Grécia têm menos restrições à entrada de turistas do que o nosso país. Em Espanha, os britânicos podem entrar sem restrições. Já em Portugal têm de comprovar ter a vacinação completa ou um teste PCR negativo”.

Apesar da prevista retoma nos três meses de verão, a onda de otimismo no setor é ténue. É que entre janeiro e julho, a taxa de ocupação média nos estabelecimentos hoteleiros do Algarve baixou 17,4% e volume de vendas caiu 18,7% face aos primeiros sete meses de 2020, quando deflagrou a pandemia e o desconhecimento da doença e a inexistência de vacinas potenciaram os receios nas populações a nível global. “O ano até julho é pior que em 2020”, frisa Elidérico Viegas. Analisando só o mês de julho, a taxa de ocupação por quarto foi 49,5%, 40,6% abaixo do valor registado em igual período de 2019 – um exercício ‘normal’, sem o impacto da covid-19 no setor. Neste mês, que marca o início da época forte de verão, o mercado nacional aumentou 40% e o externo diminuiu 76% face a julho de 2019. Elidérico Viegas, que prefere comparar os dados com os de 2019, revela que entre janeiro e julho deste ano registou-se uma quebra de 85,4% de turistas ingleses face ao ano pré-pandémico, de 90,3% de alemães, de 86,9% de holandeses e de 59% de espanhóis.

Em maio, quando o governo britânico levantou as restrições às viagens dos seus cidadãos a Portugal, as perspetivas para o turismo no Algarve eram boas. Mas foi sol de pouca dura. “O ano como um todo ainda é incerto”, diz o presidente da AHETA. Na sua opinião, a falta de coordenação da Europa no que toca às medidas para conter o surto pandémico não tem ajudado. “Cada país adota as medidas à sua medida, nós pedimos testes PCR, vacinação, testes rápidos à chegada aos hotéis. São contraditórias, ineficazes, desajustadas e influenciam negativamente a procura”. A somar, Portugal não tem apresentado bons resultados no controlo do vírus.

Recuperação em 2022

O setor do turismo é indiscutivelmente o mais afetado pela pandemia, mas a vontade de viajar é muita, o que permite antever que a retoma chegará logo que a confiança se restabeleça. Segundo um estudo da Oliver Wyman sobre a perceção de segurança por parte dos viajantes, 71% dos britânicos quer cumprir os planos antigos de viagens no próximo ano e meio. Já nas viagens a curto prazo são muito mais cautelosos, com apenas 17% a sentir que é seguro viajar nesta altura. Uma boa notícia para Portugal é que 39% dos britânicos admite ir para o estrangeiro em voos de curta distância.

A análise da consultora, realizada em julho e que, na Europa, incidiu no Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha, revela ainda que 30% dos espanhóis quer viajar mais do que estimava antes da pandemia e 52% não alterou os planos de viagens. Os vizinhos ibéricos apresentam-se bastante confiantes, com 33% dos inquiridos no estudo a considerar seguro viajar nesta altura. Destinos europeus são a preferência para 62% espanhóis. A maior parte dos inquiridos franceses (56%) também considera seguro viajar de imediato. Os alemães apresentam-se quase tão cautelosos como os britânicos, só 35% está disposto a fazer já as malas para férias.