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A inflação prevista para a zona euro neste ano e no próximo pela Comissão Europeia (CE) é muito maior do que mostram as últimas projeções do Banco Central Europeu (BCE).
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O BCE fez as últimas previsões macroeconómicas em setembro, que são mais favoráveis que as da CE, e mesmo assim já subiu a sua taxa de juro de 0% para 2% entre julho e novembro.
Esta sexta-feira, nas previsões de outono, a Comissão afirma que a inflação média anual da zona euro em 2022 deverá chegar a 8,5%, pior até que o cenário mais adverso que o BCE calculou em setembro (8,4%).
O cenário central de Frankfurt era que a inflação deste ano ficasse nos 8,1%, disse na altura a presidente do banco central, Christine Lagarde.
No ano que vem, a mesma coisa. A CE diz agora que a inflação da área do euro deve chegar a 6,1%, que é mais do triplo face ao objetivo de médio prazo do BCE (2%). Também aqui, o BCE projeta uma inflação menos destrutiva em 2023: assumiu 5,5% como cenário central.
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Portanto, se os novos valores calculados por Bruxelas ficarem mais próximos do que vai acontecer na realidade, já que refletem as informações e tendências mais recentes nos preços, então estão reunidas as condições para que o BCE tenha de subir as taxas de juro de forma ainda mais apressada e musculada do se diz.
Em 2022, a economia europeia ainda beneficiou a inflação elevada, que insuflou a faturação de muitas empresas e fez subir impostos, mas em 2023 começa a cair a fatura ao contrário.
Três economias vão ao fundo em 2023
A economia não resiste à destruição do poder de compra provocado pela inflação e, em simultâneo, às subidas de taxas de juro já prometidas pelo BCE até que a inflação ancore nos tais 2% (em 2023, os preços ainda estar a subir ao triplo do ritmo admissível pelos parâmetros do BCE).
Assim, Bruxelas vê a economia da zona euro crescer 3,2% este ano e depois em 2023 o cenário é claramente de estagnação, com o crescimento a arrastar-se nos 0,3%, havendo já três países que entram em recessão anual.
A poderosa economia da Alemanha registará uma contração de 0,6%. A Letónia cai 0,3%. Fora da zona euro, a Suécia perde 0,6% em termos reais, em 2023.
A segunda maior economia da Europa, França, vai a caminho da estagnação (crescimento de apenas 0,4% no ano que vem). Itália, a terceira maior economia, idem com uma expansão anémica de 0,3%. Espanha, o maior parceiro económico de Portugal, não vai além de um crescimento de 1% no próximo ano.
A Comissão lamenta que “após um primeiro semestre forte, a economia da União Europeia entrou agora numa fase muito mais difícil”.
“Os choques desencadeados pela agressão da Rússia contra a Ucrânia estão a afetar a procura global e a reforçar as pressões inflacionistas globais” e a UE “está entre as economias avançadas mais expostas devido à sua proximidade geográfica com a guerra e à forte dependência das importações de gás da Rússia”.
Uma das economias mais dependentes do gás russo e que pouco fez nas últimas décadas para se isolar mais e melhor face a uma mudança de humor e de estratégia da Rússia é justamente a Alemanha, que vai entrar em recessão muito por causa disso, arrastando consigo vários países mais pequenos da Europa.
Portugal pode ser um exemplo disso, tendo em conta os inúmeros e valiosos interesses dos investidores alemães na economia portuguesa.
A CE observa ainda que “a crise energética está a corroer o poder de compra das famílias e a pesar na produção”.
E, em resultado disso, “embora o crescimento em 2022 esteja previsto ser melhor do que nas previsões anteriores, as perspetivas para 2023 são significativamente mais fracas para o crescimento e mais elevadas para a inflação”, em comparação as de há três meses, no verão., lamenta Bruxelas.
Com o BCE a subir juros, os mais endividados (famílias e empresas) também viverão tempos apertados, o que irá contribuir para a crise e para agravar a recessão generalizada na Europa, se ela vier.
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